terça-feira, 29 de junho de 2010

Capítulo 19 - Notas

Os meninos voltaram para a platéia para poder ver as outras apresentações, eu e Andressa fomos ao banheiro trocar de roupa. Eu estava doida para tirar aquele vestido e vestir algo mais confortável. No caminho, percebi que a Andressa estava inquieta, olhando para todos os lados.
- Déa, o que foi? – perguntei. Ela não respondeu.
- Déa! – repeti – O que foi?
Ela olhou para mim confusa.
- O quê?
Suspirei.
- Eu perguntei o que aconteceu. Você está olhando para todos os lados. – imediatamente entendi tudo – Tá procurando o Ian não é?
- Claro que não! – ela exclamou. A essa altura nós já estávamos no banheiro.
- Então porque esse nervosismo todo? – perguntei cética.
- Nada não. – ela respondeu simplesmente.
Trocamos de roupa e voltamos para o teatro ao tempo de ver a 5ª apresentação. Perdemos a do 4º grupo. Quando a apresentação do 5º grupo terminou houve uma pausa às 12 horas para um lanche. Às 13, começaria a apresentação dos outros cinco grupos da outra turma do 2º ano. Quando a professora anunciou a pausa, alguns deram uivos de alegria e saíram correndo do teatro. Depois disso, todos sumiram, exceto a Andressa que continuou ao meu lado.
Eu estava comendo um delicioso hambúrguer de frango na cantina do colégio, quando percebi que o meu celular não estava no bolso da calça.
- Déa, você viu meu celular? – perguntei a Andressa que, como sempre, estava comendo o seu sanduíche light.
- Não. – ela respondeu com a boca cheia.
Talvez eu tivesse o deixado cair na sala de aula, iria aproveitar a chance para procurar o Ian.
Subi as escadas e quando abri um pouco a porta percebi que o Cristian e o Josh estavam lá conversando, dei automaticamente um passo para trás e fechei um pouco a porta. Graças a Deus eles não tinham percebido que eu tinha aberto a porta. Nesse meio tempo eu ouvi o Josh falar.
- Então você vai desistir dela?
O Cristian riu. Eu não queria ouvir a conversa, mas parecia que os meus pés estavam grudados no chão.
- Vou. – Cristian disse decidido.
- Mas, espera aí. – Josh falou – Você já não disse que tinha desistido?
- Sim, mas... eu ainda tinha esperanças. Agora eu tenho certeza absoluta que não vou mais esperar por ela.
Continuei paralisada atrás da porta.
- Cara, eu não acredito que você vai desistir da Déa.
- Eu não acredito que mesmo dizendo isso agora, eu ainda tenho esperanças dela ver que gosta de mim.
- Mas é só você mostrar pra ela!
- Ela é muito cabeça dura, não via dar certo!
Nessa hora obriguei os meus pés a descolarem do chão e saí de lá.
Até agora eu não acreditava no que tinha acabado de ouvir. O Cristian ia desistir oficialmente da Andressa. Tenho que dar um jeito de juntar esses dois custe o que custar, pensei.
Quando cheguei à cantina, vi a Andressa sentada bebendo um suco.
- E aí Lê, achou celular? – ela perguntou.
- Não. – respondi. – acho que perdi mesmo.
Quando terminou o intervalo do lanche e as apresentações recomeçaram, pude ver o Josh e o Ian sentados na platéia. Quando a Andressa os viu ela suspirou, tranqüila.
Ás três horas da tarde mais ou menos, as apresentações terminaram e a professora anunciou que só iria dar as notas nas próximas aulas, ou seja, no dia seguinte. Fui para casa de carona com a Déa. Tomei um banho e deitei na minha cama, aliviada pela apresentação ter dado certo e chateada pela direção que o relacionamento da Déa e do Ian estava seguindo. Eu tinha que pensar em um plano para juntar aqueles dois e, provavelmente, iria precisar de ajuda.

No outro dia, minha mãe – feliz como nos últimos dias – perguntou como tinha sido a apresentação. Contei todos os detalhes para ela – inclusive a mancada da Eloá – e depois saí correndo para ir ao colégio.
Cheguei um pouco atrasada, mas em tempo de entrar antes da professora. A Andressa tinha guardado o meu lugar, percebi que o Cristian estava muito sério, e eu sabia o porquê. O Josh me viu primeiro e disse bom dia. O Cristian e a Andressa disseram bom dia ao mesmo tempo, respondi-os. A Eloá, ou não tinha chegado ainda, ou não vinha para a escola hoje. Que pena, não ia ser hoje que eu iria matá-la.
Sentei no meu lugar na hora em que a professora de história entrava na sala. Todos imediatamente ficaram quietos.
- Bom dia gente! – ela falou sorrindo.
- Bom dia professora! – todos responderam em uníssono.
- Gostaria de dizer primeiramente que estou muito feliz, pude perceber que vocês se empenharam bastante nesse trabalho...
- Tá bom fessora – o Bruno falou. – Eu sei que agente foi demais e tal, então diz logo as notas por favor!
- Calma Bruno! Deixe-me concluir!
Ele revirou os olhos.
- Como eu ia dizendo, pude ver que vocês se empenharam bastante, foram muito criativos e, por causa disso, resolvi dar a nota máxima para todos os grupos.
- Êêê! – a sala rompeu em gritos de felicidade.
- Gente, gente! Não gritem tanto! – a professora falou tentando acalmar a todos. – Agora, vamos voltar ao programa de aulas. Abram os cadernos e escrevam “Brasil colônia”.
- Aaaaa professora! – a sala protestou.
- Vamos preguiçosos! – ela disse já escrevendo no quadro.
Aproveitei o momento para escrever um bilhete.

Preciso da sua ajuda.


Olhei para o Josh.
- Ei! – falei baixinho. Ele não ouviu.
- Ei! – repeti. Ele continuou não ouvindo, ou fingiu que não ouviu.
- Josh! – falei um pouco mais alto. Ele finalmente olhou para mim. Entreguei o bilhete para ele.
Depois de um tempo ele devolveu.

Posso saber para quê?

Revirei meus olhos.

Claro que sim! Preciso juntar a Déa e o Ian, mas para isso preciso da sua ajuda.
Ele leu e sorriu.

Tá bom. O que eu posso fazer?

Preciso que você dê uma festa na sua casa. É claro, se não tiver problema!

Problema nenhum. Que dia?

O dia que for melhor para você!

Ele leu e sacudiu a cabeça afirmativamente.
Na hora do intervalo, o Josh reuniu todo mundo do grupo na cantina.
- Gente, para comemorar as nossas notas, resolvi fazer uma festa. Quem tá dentro?
Fernando imediatamente se manifestou.
-É claro que tá todo mundo dentro! Quem que vai perder uma festa na sua casa? É só dizer o dia e a hora!
O Josh riu.
- Pode ser no final de semana que vem... no sábado, a partir das dez.
- Dez da noite? – Thiago perguntou.
- Não, da manhã, a festa vai ser o dia todo.
- O dia todo! – Cristiano exclamou - Caramba! Não perco essa festa por nada mermão!
- Ah, será que vocês podem espalhar para o resto da sala e para a outra turma? – Josh pediu.
- Claro! – Fernando falou – Pode deixar com agente.
- Você vai Déa? – perguntei para Andressa.
- Claro. – ela respondeu sem emoção.
- Você vai Ian? – dessa vez o Josh perguntou pra o Cristian.
- Não sei... – ele falou pensativo – Vai ter comida da Angélica?
- Claro que sim! – Josh respondeu. O Cristian riu.
- Tô dentro.
O Josh olhou para mim com aquele sorriso de tirar o fôlego. Sorri para ele também.
Tínhamos o mesmo objetivo, ver o Cristian e a Andressa juntos. Nós dois estávamos juntos nessa.

domingo, 27 de junho de 2010

Capitulo 18 - Parte III

Eu e Andressa demoramos um pouco para nos arrumar. Na verdade, depois que coloquei meu vestido azul, a Andressa realizou seu sonho de consumo que era me maquiar e me pentear. Com o Babyliss ela fez cachos nos meus cabelos e depois passou uma maquiagem leve em mim. Quando terminou, ela me olhou com satisfação.
- Agora que eu estou vendo você vestida e maquiada de verdade!
Revirei meus olhos.
- Tá bom Déa! Agora vai se arrumar vai!
Enquanto ela se vestia eu fui me olhar no espelho. Até que eu não estava tão mal assim, a Andressa realmente tinha feito um bom trabalho. Sorri para o espelho. Eu estava até corada, quem me visse nunca iria imaginar que eu tinha passado por um grande estresse há apenas alguns minutos atrás.
- Admirando meu trabalho não? – Andressa falou me assustando. Ela já estava dando babyliss no cabelo dela e estava usando seu vestido rosa.
- Verdade, tenho que admitir que você fez um bom trabalho. – falei. Ela riu.
Andressa fez um coque no alto da cabeça deixando algumas mechas soltas e, alguns minutos depois, ela terminou de se arrumar.
Quando chegamos à sala vimos Cristiano, Fernando, Thiago e Josh sentados trajando armaduras que mais pareciam vestidos de lacres das latas de refrigerante. Cada um tinha um escudo e uma lança e, na cabeça, capacetes que com certeza tinham inspirado o penteado moicano. Cristian estava usando uma camiseta de algodão branca e de manga longa e uma calça também branca e de algodão, ele iria colocar a armadura depois das primeiras cenas.
Todos olharam para nós duas com caras de bobos.
- Nossa Senhora cheia de graça! – Cristiano exclamou.
Cristian olhava fixamente para a Andressa, também com cara de bobo.
- Não é Nossa Senhora seu burro, é Ave Maria! – Thiago murmurou sem tirar os olhos de cima de nós duas.
- E daí? – Fernando falou em defesa do Cristiano. Ele também não tirava os olhos da gente.
Eu já estava começando a ficar vermelha. Tentei olhar para outro lugar, mas encontrei com os lindos olhos castanhos claros do Josh. Corei e desviei o olhar. Era impressão minha ou os olhos dele estavam brilhando? A Andressa quebrou o momento de constrangimento.
- Bem, obrigada pelos comentários, - ela disse ajeitando uma mecha que havia saído do lugar - e acho melhor vocês não fazerem nada de mal com essas roupas porque são alugadas e, se acontecer algum problema, agente vai ter que pagar!
- Sim Senhora... quer dizer, Maria... quer dizer, Andressa! – Fernando falou cheio de gracinhas.
- Há há há – Déa riu sem emoção. Resolvi quebrar o clima.
- Gente, acho melhor darmos uma ensaiada rápida antes da apresentação. – falei olhando o relógio do celular, já eram 08h e 15min.
- Claro, de acordo! – Josh concordou prontamente.
- Tá bom, mas vai precisar encenar todas as cenas? – Thiago perguntou.
- Eu espero, realmente, que não! – Andressa disse cruzando os braços.
Resolvi atender a “recomendação” dela, Andressa já estava muito estressada com o fato de interpretar Helena e ser o par romântico do Cristian, ou melhor, do Paris.
- Tudo bem – falei – vamos só passar o texto.
Para a parte em que Hera falava - que deveria ser a Andressa, mas agora não era ninguém – resolvemos simular uma carta que ela manda a Paris por Afrodite – que agora era Andressa.
Todos falaram a sua parte com emoção e perfeitamente, com exceção, é claro, da Andressa e do Cristian que falaram sem emoção alguma. Mas eu sabia que eles não iam falar assim na hora da apresentação... bem, eu esperava que não.
Depois da passagem rápida de texto, todos se dirigiram para o teatro do colégio que era um pouco pequeno – cabiam no máximo 150 pessoas – e o grupo que era o primeiro a se apresentar foi para trás das cortinas enquanto os outros grupos ficaram sentados na platéia. Às 9 horas, a professora Manuela de história foi ao palco falar.
Do lugar onde eu estava sentada pude ver o diretor e a vice-diretora sentados nas cadeiras da frente juntos com alguns professores.
- Bom dia! – Manuela começou. – Hoje, nós vamos ver as apresentações dos alunos do 2º ano sobre a Guerra de Tróia. Espero que gostem!
Aplausos e as luzes se apagaram. Depois de alguns minutos as luzes acenderam e no centro do palco pôde-se ver um teatro de fantoches bem no meio do palco, e de lá apareceu um Paris e três deusas...
A apresentação do 1º grupo foi fantástico e engraçado. No final, foi muito aplaudido. Depois de 10 minutos, começou a apresentação do 2º grupo. Eles fizeram um seminário sobre os mitos e as possíveis verdades sobre a Guerra de Tróia. Enquanto eles apresentavam, eu comecei a ficar nervosa, os grupos estavam indo muito bem e tive medo da nossa apresentação não dar certo.
Rápido demais, o 2º grupo terminou a sua apresentação seguido de aplausos. Troquei um olhar com a Andressa que estava ao meu lado. Era a nossa hora de apresentar.
Eu e Andressa nos levantamos juntas e eu vi o resto do grupo levantar-se também para ir para trás do palco. Quando chegamos lá, nós arrumamos rapidamente o cenário, tínhamos somente 10 minutos. Quando tudo estava no lugar nós nos reunimos e desejamos boa sorte uns pros outros, então, o Thiago pegou o microfone, eu, o Cristian e a Andressa nos posicionamos e, então, o Thiago começou:
- O mundo está cheio de deuses e ninguém consegue servi-los a todos. No entanto, é verdade que o destino de um homem depende das escolhas que ele faz entre os deuses; e muitas histórias dizem que a guerra de Tróia começou assim, quando o herói troiano Paris foi chamado pelas Deusas ao topo do Monte Ida, numa tarde quente.
Então, as cortinas se abriram.

Felizmente, consegui dizer todas as falas, assim como a Andressa e o Cristian. Os outros meninos também atuaram muito bem, especialmente o Josh de Aquiles. Ele realmente era um bom ator. E, infelizmente, a parte do beijo entre Paris e Helena não aconteceu, ao contrário das minhas expectativas, na verdade, essa cena não ficou tão emocionante quanto deveria ser, mas mesmo assim o Cristian e a Andressa fizeram bem os seus papéis. Todos ficaram impressionados com o Cavalo de Tróia, e ao final, a nossa apresentação foi também muito aplaudida. Quando as cortinas se fecharam, eu comecei a pular de felicidade e pude ver que todos me acompanharam, com exceção do Cristian, que havia sumido.
- Parabéns galera! – falei.
- Valeu Lê! – Fernando falou todo sorrisos.
- Alguém viu onde o Cristian foi? – Andressa perguntou olhando para todos os lados. Fiz menção de ir procurá-lo, mas o Josh me segurou e murmurou ao meu ouvido.
- Pode deixar Lê, não se preocupe, acho que ele precisa ficar sozinho.
Sacudi afirmativamente a cabeça e saí, junto com os outros, do palco.