terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Capitulo 16 – E lá vamos nós!

Quem abriu a porta foi a Angélica, a perfeita cozinheira que fez o Cristian ficar para jantar.
- Olá senhor Josh! Como foi a escola? – ela disse quando nós entramos.
- Bem Angel. – ele deu um beijo em sua bochecha - Onde está a minha mãe?
- Ela saiu, mas disse que voltava logo. Está com fome?
- Não, estou bem... Você já conhece a Letícia não é? – ele falou sinalizando para mim.
- Sim senhor, eu a vi naquele dia! – ela sorriu – Como está a senhorita?
Eu fiquei sem graça, mas mesmo assim falei.
- Bem, obrigada.
- Vai precisar de alguma coisa? – ela se dirigiu ao Josh.
- Não. Obrigado.
Ela acenou com a cabeça e saiu. O Josh largou a mochila dele em cima do sofá.
- Pode deixar a mochila aí Lê.
- Não precisa! – eu disse apertando a alça da minha mochila – Eu estou bem.
- Você que sabe. – ele deu de ombros.
Nós ficamos assim por um momento até que me deu uma enorme vontade que os membros do grupo chegassem logo.
- Que horas são? – perguntei.
Ele olhou o relógio no pulso.
- Uma e quarenta.
- Ainda?! – me assustei.
Ele sorriu.
- É.
- E o que nós vamos fazer até o pessoal chegar? – perguntei entediada.
Ele pensou por um minuto e depois respondeu com um grande sorriso.
- Você quer ver a minha coleção?
- Coleção? De quê? – perguntei.
- Surpresa! – ele disse pegando minha mão e me puxando. Nós não subimos nenhuma escada, só íamos em frente um grande corredor que ficava ao lado da escada. Eu pude ver uma porta no fim do mesmo, mas eu seguia o Josh sem entender nada. Na verdade, eu quase nunca entendia coisa alguma. Eu fiquei imaginando que coleção seria aquela. Selos? Tampinhas de garrafa? Figuras? CD’s? DVD’s? Tênis?
Finalmente paramos em frente à porta.
- Está preparada? – ele perguntou.
- Creio que sim. – falei ainda imaginando que coleção seria essa.
Ele abriu a porta, estava tudo escuro. Ele ligou o interruptor ao lado da porta e entrei em estado de choque. Como eu pude imaginar que ele teria uma coleção de tampinhas? Ele era rico, milionário! É claro que a coleção mais coerente que ele poderia ter era de carros!
Carros de todos os tipos, tamanhos, cores. Essa foi a primeira coisa que eu registrei, depois vi que o lugar era enorme e que tinha uns vinte carros ou mais, todos enfileirados lado a lado deixando assim um grande espaço no centro. Do lado direito tinha uma porta enorme de metal que eu imaginei ser o lugar onde os carros entravam e saiam. Parecia uma garagem em tamanho gigante.
Eu não entendia nem sabia nada sobre carros, mas, com certeza, todos os meninos do mundo gostariam de ter uma garagem dessas. Simplesmente maravilhosa!
- E aí! Gostou? – ele perguntou sorrindo.
- Eu... nossa... adorei. – consegui falar.
- Meu pai que começou com a coleção, de carros e de motos. O de carros ficou para mim porque eu adoro carros. O de motos ficou com o... Esmond – o Josh se entristeceu -, ele... prefere motos.
- Josh, eu sinto muito pelo seu amigo.
Ele balançou a cabeça afirmativamente, suspirou e depois mudou de assunto.
- Olha esse aqui. – ele disse apontando para um carrão conversível amarelo. – É um Lamborghini Murciélago Roadster. Adoro esse carro ele corre muito!
- Você já dirigiu? – perguntei me distraindo da visão do maravilhoso Lamborghini por um momento.
- Já!
- Quantos anos você tem? – Como eu ainda não tinha feito essa pergunta?
- Dezessete.
- Espera aí! Você não pode dirigir ainda!
- Eu sei! Mas a falsificação existe né? – ele falou como se eu fosse uma insana.
- Acho melhor parar de fazer perguntas sobre isso, não quero me envolver no mundo do crime. – falei. Ele riu.
O Josh me mostrou alguns carros como a Ferrari Enzo 34 vermelha, o Porsche Cayman prata e um Bugatti Veyron azul. O mais “simples” que ele me mostrou era o favorito dele, um Novo Honda Fit verde escuro. Depois que ele me mostrou esse ultimo ele olhou o relógio e viu que já eram duas horas.
Nós saímos da grande garagem e voltamos para sala no mesmo momento em que a campainha tocou. O Josh foi atender a porta e por ela entraram a Andressa e o Cristian.
- Lê! Que bom que você conseguiu chegar! O motorista do busão te deixou aqui perto mesmo? – Andressa falou toda feliz.
- Sim. – falei.
Foi um momento de constrangimento. O Josh olhou para mim com uma grande interrogação na face. Será que ele ia dizer alguma coisa para a Andressa? Se ele ia dizer ou não, não deu para saber, porque a campainha tocou novamente e o Fernando e o Cristiano entraram. Logo depois chegou o Thiago seguido da Eloá, que deu um abraço no Josh. Virei o rosto para não ver a cena.
- Então! Vamos ensaiar? – Eloá falou empolgada.
- Acho que é melhor afastar esse sofá e a mesinha pra não quebrar nada... – Fernando disse meio incerto.
O Josh riu.
- Agente não vai ensaiar aqui, não tem espaço. – ele falou.
- Então onde agente vai ensaiar? – Andressa perguntou.
- Na sala de dança. Há um grande espaço lá.– ele disse simplesmente.
- Não vai me dizer que você dança também!! – Eloá perguntou maravilhada. Que garota nojenta!
- Não, minha mãe.
- Ah tá! Cara, se sua mãe não fosse sua mãe, eu pegava! – Cristian falou.
O Josh deu um tapa na cabeça dele dizendo:
- Você é muito engraçado sabia!
- Eu sei... – Cristian falou massageando a cabeça onde o Josh bateu. Eloá revirou os olhos.
- Bem, vamos lá né?
E nós subimos, mais uma vez, escadas. Dessa vez foram três lances de escadas.
- Cara, você nunca pensou em instalar um elevador aqui não? – Thiago perguntou.
- Já, mas minha mãe não concordou, disse que exercício faz bem.
- Isso era uma brincadeira! – Thiago falou encarando o Josh.
- Sério? – o Josh falou - Bom, eu já me acostumei com as escadas!
- Mas agente não! – Andressa reclamou.
- Chegamos! – ele disse depois que subimos as escadas, andamos um pouco pelo corredor, dobramos a esquerda, a direita, até que eu me perdi pelos caminhos.
Ele abriu a porta e pode-se ver uma sala que parecia mais ser de balé. Tinha umas barras em frente a espelhos grandes, e uma brisa entrava pelas duas janelas grandes, onde dava para ver o jardim na frente da casa. O lugar era bem grande.
- Acho que aqui dá para ensaiar. – ele disse.
- Aqui tá ótimo! – falei.
- Olha, eu fiz umas cópias do roteiro... – Eloá falou pegando uns papeis do classificador que ela trouxe - E ah, o Thiago esqueceu de dizer quem vai ser o narrador.
- E quem vai ser o narrador? – Cristiano perguntou.
- O Thiago mesmo. – ela falou simplesmente enquanto entregava uma cópia do roteiro para cada um. – Então! Vamos começar?!
- Pera, eu nem gravei ainda a minha fala! – Fernando falou.
- Não precisa Nando, hoje é só o primeiro ensaio, você grava depois. – Eloá disse.
Estava parecendo que a Eloá era a líder do grupo, e eu não podia permitir isso. Eu já tinha alguma experiência com peças – culpa das peças infantis que eu fiz – então resolvi reassumir o meu posto de líder.
- Vamos ensaiar galera! – falei. – Quem começa é o Thiago, já que ele é o narrador.
- Tá bom! – o Thiago disse pegando o roteiro.
Ele começou a ler, ou melhor, narrar.
- O mundo está cheio de deuses e ninguém consegue servi-los a todos. No entanto, é verdade que o destino de um homem depende das escolhas que ele faz entre os deuses; e muitas histórias dizem que a guerra de Tróia começou assim, quando o herói troiano Páris foi chamado pelas Deusas ao topo do Monte Ida, numa tarde quente... – ele deu uma pausa e falou – É aí que entra as Deusas Lê, Déa e Eloá.
Nessa parte nós ensaiamos muito bem, até a hora em que o Paris, Cristian, vê Helena, Eloá, pela primeira vez e a convence a fugir com ele.
- Eu acho que nessa parte tem que ter beijo. – Fernando disse.
- Como assim? B... beijo de verdade? – Andressa perguntou.
- É! - Cristiano falou.
- Na... na... boca? – Andressa perguntou novamente.
- Sim, qual o problema Déa? – Thiago olhou intrigado para ela.
- Eu... - Andressa olhou para baixo – não sei, acho que não tem nada haver...
- Pois eu concordo! – Cristian falou irritado. – Quem concorda levanta a mão.
Thiago, Fernando, Eloá, Cristiano e o Cristian levantaram a mão, a maioria. Eu não podia levantar a mão, entendia o porque da Déa não querer levantar a mão e pelo visto o Josh também entendia, ele olhava preocupado para ela, assim como eu também estava.
- É a maioria, então tá certo! – Eloá sorriu. Se eu achava que ela era uma atirada, tinha mais certeza ainda agora.
- Vocês vão querer ensaiar essa parte agora? – Fernando perguntou com um sorriso maroto.
Quando ele disse isso, a Andressa saiu correndo porta fora.
- O que deu nela? – Eloá perguntou.
- Nada não! – falei bruscamente para a ela e depois saí também para procurar a Déa.
Olhei de um lado para o outro e não a vi em nenhuma parte do corredor resolvi pegar o caminho da direita achando que ela poderia ter querido ir embora, mas me perdi. Continuei andando pelo corredor e quando eu ia virar em uma curva esbarrei em alguém. Para a minha surpresa, era a mãe do Josh, Suilam.
- Me desculpe! – falei – Eu só estava...
- Procurando a sua amiga. – ela completou. – Letícia não é?
- Sim! A senhora sabe onde ela foi? – perguntei aflita.
- Não me chame de senhora, só de Suilam! E sim, eu a vi, ela me perguntou onde era o banheiro. Ela não estava muito bem... – ela falou incerta. – Eu posso ajudar em algo?
- Não precisa. – falei – Obrigada!
-Ok! Para chegar no banheiro é só seguir esse corredor, é a penúltima porta. – ela falou me mostrando o caminho.
- Obrigada! – eu disse – E me desculpe por ter esbarrado na senho.. digo, em você!
- Tudo bem, eu te desculpo, sei que não foi de propósito. – ela falou sorrindo.
- Obrigada! – falei novamente.
Eu já ia seguindo o meu caminho quando ela me chamou novamente.
- Letícia, obrigada! – ela disse.
- Pelo que? – perguntei com a minha constante cara de desentendida.
- Por fazer o Josh sorrir novamente! – ela falou sorrindo.
Então, o Josh não sorria? Por que? Mas que pergunta besta, é claro que deveria ser por causa do amigo dele que sumiu. Antes que eu pudesse fazer ou falar qualquer coisa, Suilam sumiu pelo corredor.
Depois de um tempo lembrei o porque de eu estar tão preocupada e, seguindo as instruções de Suilam, segui pelo corredor para procurar por Andressa. Finalmente encontrei o banheiro. Encostei minha orelha na porta para tentar escutar alguma coisa. Ouvi um choro baixinho, a Andressa estava chorando, que ótimo!
Tentei abrir a porta, mas estava trancada. Bati, nenhuma resposta. Bati novamente e continuei sem resposta. Bati mais forte e dessa vez falei.
- Déa, por favor abre! Eu quero conversar com você! Não confia mais em mim?!
Continuei sem resposta, resolvi insistir mais.
- Déa, eu sei que você tá aí! Abre essa porta!
Finalmente ela respondeu.
- O que você quer Letícia? – ela gritou com a voz rouca, provavelmente por causa do choro.
- Eu já falei Déa, quero falar com você!
- Eu não quero falar com ninguém. – ela disse.
- Por que? – perguntei.
- Porque... eu quero ficar sozinha, não preciso de ninguém! – ela já estava me irritando, será que não via que eu queria ajudá-la? Respirei fundo e falei.
- Déa, não adianta ficar assim, chorar não vai resolver o seu problema!
- Que problema? E quem disse que eu estou chorando? – “Teimosia e cabeça dura, era esse o problema dela”, pensei.
- Eu sei muito bem qual é o seu problema e o porque de você estar chorando. Agora abre essa porta!
Nenhuma reposta.
- Fala sério Déa, eu sou sua melhor amiga, eu quero conversar com você, e uma porta no meio não ajuda muito!
Houve um minuto de silêncio e finalmente ela abriu a porta. O seu rosto estava banhado por lágrimas, assim que entrei no banheiro - que por sinal era enorme e tinha até banheira -, ela me abraçou. Ficamos assim por um tempo até ela falar.
- Viu, não tenho problema nenhum. – ela falou com a voz fraca.
- Déa, porque você não fala de vez pro Ian que você gosta dele?
Ela se afastou de mim imediatamente.
- Quem disse que eu gosto desse... desse... legume?
Eu já temia essa reação.
- Fala sério Déa, tá escrito na sua cara!
- Não tá nada, você tá delirando! Desde quando se pode ver algo escrito na cara? Só se pode escrever no papel! E... e... é isso aí!
- Déa, você ama o Ian! – falei.
- Não amo! – ela disse.
- Ama! – insisti.
- Não amo! – ela gritou.
- Então porque saiu correndo quando soube que ele ia beijar a Eloá?
- Porque... não foi por causa disso! – ela parecia uma criança teimosa.
- Então foi o quê?
- Foi porque... eu ainda não me conformei do Cristian ter pego o papel principal, ele não sabe atuar, ele não sabe fazer nada!
- Então é isso? – perguntei, essa resposta não fazia sentido nenhum.
- É!
- E precisava chorar por isso? – perguntei ironicamente.
- É! - Ela falou com um sorriso de vitória no rosto.
- E você quer fazer o papel de Paris?
- É... não! Claro que não! – ela falou rapidamente. – Eu quero que o Josh faça o papel.
- Ele não! – falei cruzando os braços.
- Por que não? – ela levantou uma sobrancelha.
- Porque ele não quer! – eu que estava parecendo uma criança teimosa agora.
- Tudo bem então, que fosse qualquer outra pessoa! – ela jogou os braços para cima.
- Déa, essa sua perseguição pelo Ian, não tem fundamento! Será que você não enxerga isso?! Por que raios você acha que ele não sabe fazer nada? – perguntei derrotada.
- Porque ele não sabe e ponto final.
Continuar com essa discussão não ia dar em nada, a Andressa era muito cabeça dura para aceitar que ela gostava do Cristian, e eu já estava cansada de tentar enfiar isso na cabeça dela.
- Tá bom Déa! Então vamos voltar para o ensaio! – falei indo em direção a porta. Ela continuou parada no lugar.
- Eu não quero voltar para lá, tá tudo muito bem aqui obrigada! – ela disse.
- O que? – falei – Você prefere ficar trancada no banheiro?
- É! – ela falou – Esse banheiro é bem legal!
Eu vi que ela estava tentando me enrolar.
- Déa, por favor! Essa não colou. – falei.
- Tá bom! Eu quero ir pra casa.
- Mas por que? – perguntei desesperada.
- Eu não quero continuar lá e ver... – a voz dela foi sumindo.
Suspirei.
- Déa, você não pode fugir para sempre! Nós temos que ensaiar! É só por uns dias, depois agente apresenta o trabalho e você não vai mais precisar – levantei minhas mãos para fazer o movimento de aspas – “ver o Ian fazendo o papel principal!”
Ela olhou para mim com carinha triste e falou.
- Tá bom, eu vou com você! Vamos lá ensaiar.
- Claro! Se acharmos o lugar né! – falei. Ela riu.
- É mais fácil agente se perder...

Alguns carros da coleção do Josh:
Lamborghini: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/0/0e/Lamborghini_Murci%C3%A9lago_Roadster_2005.JPG
Ferrari Enzo 34:
http://www.fotosdecarro.net/foto-de-carro-ferrari-enzo-34/
Bugatti Veyron:
http://blog.cochesalaventa.com/_fotos2/2009/03/04/Geneva-2009-Bleu-Centenaire-is-every-bit-as-special-as-any-other-Bugatti-Veyron_7218_1.jpg
Porsche Cayman:
http://www.imotion.com.br/imagens/data/media/25/Porsche_Cayman.jpg
Novo Honda Fit :
http://images.noticiasautomotivas.com.br/img/d/honda-fit-novo-flagra-bruno-1.JPG

sábado, 23 de janeiro de 2010

Capitulo 15 - Inesperado.

No outro dia, a minha mãe também estava feliz. Antes de entrar na cozinha eu suspirei e pensei: “Está tudo bem Letícia, ela esta feliz! Fique feliz também!”.
O resto do dia passou-se normalmente, e dessa vez eu não esperei a noite para ver se a minha mãe viria de carona ou não. Eu tinha pensado realmente no assunto e concluí que não importava, desde que ela estivesse feliz. E se ela quisesse me contar, ela contaria. Se ela não tinha me contado ainda, era porque não tinha chegado à hora de contar.
Acordei cedo no outro dia, quinta-feira, e deu tempo de tomar café com minha mãe – que continuava feliz.
- Milagre! Não acredito que você vai tomar um café descente comigo filha!
- É como eu digo... peça por um milagre, que ele acaba acontecendo.
Nós duas rimos e tomamos um café tranqüilo e, por sinal, muito gostoso. Me entupi de suco de laranja e torrada.
Depois de ter enchido bastante o meu estômago, dei um beijo em minha mãe e saí.
Quando eu cheguei ao colégio a Andressa já havia chegado e veio correndo falar comigo, eu ainda estava na porta da sala.
- Lê! Eu vou te dar carona de novo tá?
Essa eu não tinha entendido. Normal.
- Carona? Pra quê?
Ela estreitou os olhos e olhou para mim pra ver se eu não estava brincando. Quando ela viu que a minha expressão de desentendimento era pura verdade, ela falou:
- Pra casa do Josh! Esqueceu? Hoje é o ensaio!
Minha boca se abriu em um grande “O” de compreensão. Por causa da minha preocupação com a minha mãe, eu tinha esquecido total e completamente do ensaio na casa do Josh.
- E então, – Andressa insistiu – eu vou te buscar tá?
Acordei do meu “transe” e respondi:
- Claro Déa. Que horas?
Ela pensou um pouco antes de responder.
- Acho que uma e meia tá bom né?
- Tá bom.... – comecei - Não! – falei rapidamente depois.
- Por que?!!!
- Por que eu chego em casa uma e vinte. Até eu almoçar, tomar banho e me arrumar vai demorar um pouco, e depois você vai ficar reclamando que eu nunca fico pronta na hora!
- Nossa é mesmo.... maldito busu esse seu que demora viu! Acho que vou comprar um carro pra você! – ela falou indignada. Eu tive que rir.
- Para quem dirigir cara pálida? Eu ainda não posso!
- Sei lá! Você contrata um motorista... só sei que assim não dá.
Ela tinha razão, ter que esperar um ônibus que geralmente vem lotado e ficar quase uma hora em pé esperando chegar o lugar em que você vai descer, realmente, ninguém merece!
- Olha Déa. Pode deixar, eu fico aqui no colégio e depois eu vou pra lá.
- E você vai comer o quê? – ela perguntou preocupada.
- Alguma coisa da cantina, não se preocupe.
- Isso não é nada saudável! – ela disse.
- Fala sério Déa! Eu sei disso! – “ainda bem que eu me empanturrei no café da manhã”, pensei – Mas, uma vez na vida não deve trazer muitos problemas.
- E você vai saber como ir? – ela não desistiu.
Eu diria: “Claro que não vou saber!” Mas, ao invés disso, falei:
- Vou sim, vou tentar.
Ela estreitou os olhos mais uma vez e foi para a carteira dela. Aproveitei para ir para a minha também, eu não queria ficar parada feito uma estátua bem na porta da sala.
Alguns segundos depois o Josh entrou e nos viu sentadas.
- Bom dia garotas! – ele falou sorridente. Ai, esse sorriso...
- Bom dia Josh! – Andressa falou sorrindo. Eu só consegui murmurar um “oi”, ainda estava hipnotizada pelo sorriso.
O Cristian chegou logo depois, o professor João Paulo também, e a aula de Matemática começou.
Andressa me passou um papelzinho com o endereço do Josh e escreveu no final:

Pra você não se perder!

Se fosse há algum tempo atrás, eu realmente não iria aceitar esse papelzinho, porque a coisa que eu mais gostaria de fazer era me perder para não precisar ir à casa do Josh. Mas agora, nós já éramos quase amigos, e esse negócio de me sentir sem graça já era quase infantil, afinal, ele se já tinha me desculpado não, e eu já tinha desculpado ele também, e agente já conversava mais do que antes, então porque eu ainda me sentia assim? Não existia nem motivos para isso!
Além do mais, eu não ia cometer nenhum crime federal lá, só ia ensaiar um trabalho do colégio e depois pronto!
Fui interrompida dos meus pensamentos por um papel de caderno que escorregou na minha carteira. Eu não sabia de quem era. Peguei esse papel e reconheci a letra caprichada que há algum tempo atrás tinha escrito uma frase muito idiota: “Você vai me pedir desculpas”. O pedaço de papel era do Josh. Me entupi de curiosidade e comecei a ler.

Eu ouvi você conversar com a Déa. Vai querer uma carona?

Como assim ele tinha ouvido eu conversar com a Déa? Ah, mas é claro! Ele deveria ter escutado tudo atrás da porta, por isso ele chegou segundos depois de eu e a Déa termos saído de lá. Eu sorri, então, ele estava ouvindo atrás da porta não é?

Sabia que ouvir atrás da porta é falta de educação?

Quando ele leu sorriu e se pôs a escrever. Ele me passou o papel novamente.

Tá certo, eu mereci essa.

Com certeza! Devolvi.

Mas é sério!, ele escreveu, Eu também vou ficar na escola depois da aula, se você quiser uma carona até a minha casa... tem lugar disponível.

Eu pensei por um momento. Carona, novamente, com o Josh, para a casa dele. Essa era uma cena que eu realmente nunca tinha imaginado. Mas espera um segundo. Por que ele ia ficar no colégio hoje?

Você vai ficar no colégio? Pra quê?

Passei o papelzinho para ele. Ele leu, escreveu e já ia passar o papelzinho novamente para mim quando percebeu que o professor estava olhando.
Ele estava tendo uma crise de raiva, já estava quase chorando, porque todos estavam conversando enquanto ele dava uma aula super importantíssima. Eu realmente não tinha percebido conversa nenhuma, nem que ele estava dando aula, na verdade, eu tinha quase esquecido que eu estava no colégio. Quase.
O Josh olhou para mim murmurou: “depois”. Eu voltei a prestar atenção no professor que estava muito chateado, a aula dele continuou depois em um clima muito pesado.
Depois disso, só conseguimos nos falar na hora do intervalo. Assim que o sinal tocou, ele veio andando ao meu lado em direção a cantina.
- Você é muito curiosa. – ele acusou.
- Como assim? O que eu fiz? – perguntei me defendendo de uma acusação infundada.
- Você quer saber por quê eu vou ficar na escola hoje.
Na mesma hora eu corei. A acusação tinha um certo fundamento.
- I-Isso.. não é... curiosidade. – gaguejei – Foi só uma pergunta, você responde se quiser.
Ele olhou para mim e sorriu. Ai, esse sorriso... “foco Letícia, foco” pensei.
- Tá bom, então eu vou responder. Eu tenho que estudar. Vou ficar na biblioteca.
Essa resposta não fez sentido.
- Mas você tem uma biblioteca em casa! – falei.
- É, mas... o assunto que eu vou estudar não tem em nenhum livro da biblioteca da minha casa. – ele disse rapidamente.
- E que assunto é? – perguntei.
- Lê, você é muito, muito curiosa.
Me irritei.
- Tá bem, não precisa responder!
Ele só sorriu quando viu que eu estava irritada e falou.
- Não se preocupe, eu não vou te incomodar, vou deixar você fazer o seu “lanche-almoço” – ele disse fazendo um movimento de aspas com as mãos - sozinha.
Na verdade verdadeira, eu não queria “lanchar-almoçar” sozinha, mas não deixei transparecer a minha vontade.
- Certo, mas na hora de ir, você me chama!
- Você vai aceitar a minha carona? – ele perguntou com um brilho nos olhos.
- Acho que sim... se não for incomodar.
- Hum... claro que não! Legal então. – ele falou simplesmente. – Eu te chamo. (N/a: olha, foi sem querer, mas se você tirar o “ch” dessa última palavra, vai ver que dá para formar outra frase bem significativa).
Pela primeira vez desde que começamos a conversar eu percebi que estávamos parados no meio da cantina conversando. Eu olhei em volta e localizei a Andressa e o Cristian na nossa mesa de costume. Fui até lá com o Josh.
- Olá casal... digo, pessoal! – Andressa nos saudou.
Dei um olhar mortal para ela e rebati olhando dela para o Cristian:
- Olá par perfeito... digo, meus amigos perfeitos! – falei.
- Tudo bem... já chega de “olás”! – Cristian disse sem emoção. Ele estava assim desde a briga com a Déa. Eu iria conversar com ele depois.
Eu e o Josh nos sentamos e nós quatro ficamos conversando pelo resto do intervalo.
As outras aulas se arrastaram e finalmente o sinal que marca o fim das aulas do dia tocou. Andressa me puxou para um canto da sala.
- Lê, tem certeza que você vai conseguir chegar lá? Eu tô preocupada... – ela me falou aflita.
- Claro que sim Déa! – falei sem pensar – eu vou pegar carona com... – parei abruptamente percebendo que eu estava falando demais. Se a Andressa descobrisse que eu iria de carona com o Josh, não ia mais largar do meu pé e faria milhares, ou talvez milhões, de perguntas. É claro que isso era inevitável, mas quanto mais eu pudesse adiar isso, seria o melhor.
- Pegar carona com quem? – ela me perguntou, curiosa como sempre!
- Com... – “pensa Letícia” – com o motorista do ônibus... ele é meu amigo, vai me deixar exatamente no endereço. E com certeza não vai me cobrar nada. – essa desculpa não foi nada legal, mas Andressa caiu nela.
- Hum, então tá bom! Te vejo lá! – ela disse me dando um abraço.
- Claro! – retribuí o abraço.
- Tchauzinho! E me liga se precisar viu! – ela falou já saindo da sala.
- Tá bom!
Almocei sozinha, ou melhor, lanchei sozinha, e depois fiquei sem saber o que fazer. Lembrei que eu tinha trazido meu walkman e um livro. Claro que eu podia ler o livro, mas não podia ouvir o walkman na cantina! Imagina a situação: Uma garota no meio da cantina ouvindo alguma coisa em um objeto pré-histórico. Ia ser muito mico! Porque muitos alunos também ficaram no colégio. Se pelo menos tivesse só umas duas ou três pessoas...
Levantei da mesa onde eu estava e procurei um lugar mais reservado do colégio. Enquanto eu andava pelo colégio me perguntei o que o Josh estaria fazendo naquele momento. “Na certa, lendo na biblioteca” pensei. Então, eu não podia ir lá para ouvir música e ler, já que ele estaria lá. Mas, pensando bem, não tinha nada de mais eu ir à biblioteca, ou tinha? Ah, eu já estava ficando muito confusa!
O único lugar sossegado, que eu podia ir, e que não ia me deixar maluca, era a sala de aula. Que a essa hora não tinha ninguém.
Peguei meu objeto pré-histórico preferido e o livro que eu estava lendo – Crepúsculo – e comecei a ler escutando Decode de Paramore – o CD da Paramore ainda estava lá. Eu fiquei entretida no livro pensando em Edward Cullen quando alguém veio por trás de mim e me deu um susto.
- Bu!
- Aaaaah! – gritei.
Quando eu olhei, o Josh estava rindo atrás de mim. Quando meu coração parou de bater como uma locomotiva e se acalmou eu falei:
- Não faz isso.
- Tudo bem, desculpe me, mas eu não resisti. – ela falou ainda rindo.
Me limitei a esperar o acesso de riso dele passar. Ele viu minha expressão séria e parou de rir.
- Desculpe. – ele disse novamente – Já está na hora da gente ir.
- Então vamos! – falei ainda irritada guardando meu livro e o walkman na mochila.
- Você está chateada? – ele perguntou.
- Não! – falei bruscamente colocando a mochila nas costas.
Ele suspirou e saiu da sala, eu saí logo atrás dele. Enquanto caminhávamos em direção a porta de saída do colégio ele perguntou.
- Se eu contar uma piada você desfaz essa cara irritada e me desculpa?
Eu não respondi, eu ainda estava irritada.
- Tá bom, essa piada é muito séria e triste, mas ainda assim é uma piada. – ele parou na minha frente – olha pra mim.
Eu fui obrigada a olhar aqueles olhos castanhos claros lindos de morrer. Ele estava com uma expressão muito séria.
- Está preparada? – ele perguntou.
- Diz logo! – falei impacientemente.
- Tem certeza? – dessa vez ele levantou uma sobrancelha e pareceu Sherlock Holmes resolvendo um grande mistério. Só essa expressão já me dava vontade de rir.
- Fala!
- Depois não diga que eu não avisei!
- Tá!
- Lá vai....
Revirei meus olhos.
- Olha....! – ele disse em tom de aviso.
- Conta logo Josh!
- O elefante caiu na lama. – ele falou dramaticamente.
Eu não sei como, mas eu ri. A piada não era engraçada, mas toda a situação que ele tinha criado para contá-la, foi demais para mim.
- Agora sim – ele disse – um sorriso!
- Tá bom! Eu te desculpo! – falei – Vamos logo!
- Vamos!
Finalmente chegamos no estacionamento. O Citroen c3 cinza já estava lá com o motorista dele, Marcelo.
- Oi Marcelo! – o Josh falou depois que entramos.
- Olá Senhor Steven! – o motorista respondeu com uma voz grossa.
- Pode acreditar, eu já tentei fazer com que ele parasse de me chamar assim, mas não consegui. – o Josh cochichou para mim.
Depois disso, nós não nos falamos por um tempo e, sentada no carro do Josh, ao lado do Josh, indo para a casa do Josh, me fez lembrar novamente a carta que eu li do Josh e de um fato que eu deveria ter pensado mais a muito tempo atrás: o irmão do Josh. Qual era mesmo o nome dele... eu não conseguia lembrar, já fazia um certo tempo, mas eu tinha certeza que começava com a letra “E”. Por que será que ele foi embora? Quem, em sã consciência, iria deixar para trás a família? Por mais dificuldades que existissem, não era necessário chegar a essa proporção: sair de casa!
Mas o que eu estava pensando? Eu não sabia o motivo real de ele ter ido embora! Era melhor eu parar de pensar nisso para eu não tirar conclusões muito precipitadas. Para tentar mudar de assunto eu desviei o olhar da janela do carro e olhei para o Josh. Ele parecia preocupado. Por um momento nossos olhos se encontraram e então ele falou meio apreensivo:
- Lê, tem uma coisa que eu queria te explicar faz um tempo.
- Explicar? – perguntei não entendendo. – O quê?
- Sobre a carta do Esmond.
O quê? O Josh lia mentes, igual ao Edward Cullen de Crepúsculo?
- Você não tem que me explicar nada! – me apressei em dizer.
- É, eu não tenho... Mas você é a minha... - ele hesitou -...amiga, ou não? – ele disse com os seus olhos castanhos sobre mim.
- Eu... sou. – “Acho”, acrescentei em mente.
- Então eu posso falar dos meus problemas e da minha vida para a minha amiga não posso?
- Pode.
- Então, eu vou te contar tudo tá bom?
- Tá bom. – eu estava parecendo uma criança muito educada que obedece aos pais.
- Eu vou contar quem é o Esmond Williams.
Ele parou por um momento e então falou.
- O Esmond passou a morar lá em casa quando eu e ele tínhamos 7 anos, mas antes disso nós já éramos amigos. Não, não somos irmãos de verdade como ele colocou na carta. – o Josh disse depois que viu a minha expressão, que já estava ficando constante, de desentendimento. – Mas nós nos consideramos irmãos, porque agente se conhece desde sempre sabe?
Eu não esbocei nenhuma reação, só conseguia prestar atenção no que ele dizia.
Ele continuou.
- Isso, é claro, porque os nossos pais eram amigos também. O meu pai e o pai dele trabalhavam no mesmo negócio. – ele suspirou – Mas, infelizmente, os pais do Esmond morreram em um acidente de avião. Robert e Kate Williams. O meu pai se sentiu culpado, porque na verdade, era para ele estar naquele avião, mas o Robert se ofereceu para ir no lugar dele, resolver uns negócios da empresa na Inglaterra. Como a Kate gostava muito de fazer compras, foi com ele para comprar algumas coisas em Londres... mas nunca chegamos a saber o que ela comprou lá.
“O Esmond sofreu muito. Eu nunca tinha visto ele chorar tanto quanto no dia que ele descobriu que os pais dele tinham morrido. No enterro ele surpreendeu a todos, não derramou nenhuma lágrima só ficou olhando, eu acho que ele já não tinha nem lágrimas para chorar. Então, meu pai e minha mãe resolveram ficar com ele, no início para recompensar a culpa, para que o Esmond não ficasse sozinho e fosse para um orfanato qualquer. Mas depois virou um amor de verdade, de pais e filho.”.
Ele sorriu.
- Confesso que fiquei com ciúmes, mas depois, eu me acostumei a tê-lo não só como amigo, mas como irmão. Só que aí, há três anos atrás... – o Josh engoliu seco – há três anos atrás, ele foi embora. Simplesmente foi, sem motivos, e só deixou a carta, e o livro. – ele olhou para mim.
- Eu... não sei o que dizer. – consegui falar.
- Eu sei. – ele deu um meio sorriso e depois suspirou mais uma vez. – Chegamos!
Eu olhei desviei o olhar para a janela do carro e vi que já havíamos passado pelo grande portão da entrada e estávamos parados bem em frente a casa. O Josh abriu a porta do carro, saiu e depois ficou segurando-a aberta para eu sair.
- Obrigada. – falei.
- De nada. – ele disse.
Nos dirigimos a grande porta de madeira, e o Josh tocou a campainha.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Capitulo 14 - Espera.

Quando acordei tomei um banho, me arrumei, peguei minha mochila e desci as escadas. A minha mãe já estava na cozinha cozinhando – tinha meio que virado uma rotina já que agora ela tinha diminuído o turno. Percebi que ela estava cantarolando, coisa que eu nunca a vi fazer.
- Mãe?
- Oi filha! Bom dia! – ela respondeu com um sorriso e se virando pra mim.
- Você está feliz. – não era uma pergunta.
- Você acha? – ela olhou pra mim com cara de santinha. Percebi que tinha alguma coisa acontecendo, coisa essa que eu ainda não estava sabendo.
- Mãe, me conta! – mandei.
- Mas não tem nada acontecendo filha! Só... acordei feliz! – ela estava com a cara de uma criança que foi pega no flagra, mas que continuava negando que tinha feito algo. Como ir direto ao assunto não estava funcionando, resolvi saber o que estava acontecendo indiretamente. Comecei com as perguntas:
- Que horas chegou ontem?
- As onze.
- Onze? Mas a senhora só chega aqui depois de meia-noite!
- É, mas eu peguei uma carona.
Bingo!
- De quem? – perguntei com curiosidade demais. Ela percebeu.
- Não interessa! – ela falou voltando para o fogão.
- Ai mãe, não acredito nisso!
- Não acredito no que?
- Você não vai me contar?
- Não!
- Então não vou contar uma novidade que eu recebi ontem. – falei dando uma cartada.
- Novidade? – ela perguntou. – De quem?
- Não interessa! – falei.
- Olha, me respeite mocinha que eu sou sua mãe!
- Eu sei que você é minha mãe, a mãe mais linda do mundo! – fui em direção a ela e dei um beijo na sua bochecha, ela fez bico - Mas, eu não vou contar enquanto você não me contar. – terminei pegando uma maçã e saindo da cozinha. Eu já estava quase atrasada para o colégio.
- Não vai tomar café filha?
- Não, já tô atrasada mãe.
- Eu não sei por que eu ainda me surpreendo com isso...
- Há há, muito engraçado mãe! – falei já saindo.

Quando cheguei ao colégio, o Cristian, o Josh e a Andressa já haviam chegado.
- Bom dia! – murmurei para eles, mas só duas pessoas me responderam.
- Bom dia Déa. – falei diretamente para ela, que não respondeu.
- O que deu nela? – perguntei ao Cristian.
- Não pergunte para mim, ela também não tá falando comigo.
Olhei para o Josh, ele deu de ombros.
- Déa, tá tudo bem? – perguntei. Ela se limitou a me olhar com uma cara emburrada e voltou a olhar para frente.
-Ok! – disse – Se você não quer falar comigo, não vou te forçar.
Sentei na mesma hora em que o professor de geografia entrava na sala. Arranquei uma folha do meu caderno e escrevi:

Porque você não quer falar comigo?

Passei o papelzinho para a Andressa. Ela leu, escreveu e devolveu:

Você disse que não ia me forçar a falar com você.

Eu sorri e escrevi de volta.

Eu disse que não ia falar, não que eu não ia escrever!

Ela deu um sorriso rápido, tentou disfarçar e fez cara de emburrada de novo. Depois escreveu e me devolveu o papel.

Simplesmente porque você me forçou a trabalhar com o Cristian!

Como? Agora ela não ia querer falar comigo por causa de uma bobagem! Escrevi e mandei o papelzinho pra ela novamente.

Por favor Andressa, é só um trabalho de escola! E até parece que vocês não são amigos!

Nós somos amigos!, ela escreveu, mas... ele não sabe nada de moda!

Suspirei. Como eu podia fazer essa menina parar com aquilo? Tive uma idéia e escrevi:

Tudo bem, ele não sabe, mas você pode ensiná-lo não pode? Tenho certeza que você será uma ótima professora!

Enquanto ela lia fez um biquinho, fingiu que estava pensando um pouco, sorriu, escreveu e passou o papel para mim:

Tá bom! Você me convenceu! Eu faço essa parte do trabalho com ele!

Dessa vez eu sorri, escrevi e devolvi o papel para ela:

Você vai voltar a falar comigo? Porque se não, vamos desmatar uma floresta inteira se só usarmos papel para nos comunicar.

Ela riu e afirmou com a cabeça. Eu ri também e voltei a prestar atenção na aula.
Na hora do intervalo ouve outra reunião do grupo - dessa vez sem brigas e discussões – para marcar o dia do nosso primeiro ensaio.
Depois de uma conversa rápida, decidiu-se que iria ter ensaio na quinta-feira, – dia em que eu não trabalhava – às duas horas e – claro – na casa do Josh.

Eu cheguei em casa decidida a não dormir para poder ver com quem minha mãe ia chegar de carona. Mas até a noite, eu ia passar por uma longa tarde.
Para passar o tempo resolvi limpar a casa, depois fiz todas as atividades do colégio e assisti a um filme. Depois disso tudo, ainda eram cinco horas da tarde e eu não tinha mais nada para fazer. Resolvi ligar para a Andressa.
- Alô. – ela falou do outro lado da linha.
- Oi Déa! É a Lê!
- Oi Lê!
- Tudo bem? – perguntei.
- Tudo sim...
- Fazendo o quê?
- Eu estava dando escova no cabelo. E você?
- Eu não estou fazendo nada...
- Hum - ela falou. Resolvi puxar um assunto.
- Por que você não está falando com o Ian?
Ela deu um muxoxo e respondeu.
- Você sabe muito bem porque não é!
- Eu sei, mas vocês têm que trabalhar juntos, e se vocês não se falarem, como vocês vão trabalhar?
- Tá bom Lê, eu vou falar com ele, mas por enquanto agente não está trabalhando não é?
- É! – falei.
- Então pronto!
- Tudo bem... você que sabe Déa!
Depois disso ficamos conversando por mais de uma hora até a Andressa se olhar no espelho e ver que ainda não tinha terminado de dar a escova.
Olhei para o relógio e vi que ainda eram seis horas e meia. Resolvi ir para o quarto e ligar o computador para me distrair.
Fiquei jogando um monte de jogos até as onze e eu já ia desistir e ir dormir às onze e quinze quando eu ouvi um barulho de carro.
Corri para a minha janela, me escondi atrás das cortinas e fiquei olhando.
Mesmo no escuro era impossível não ver que o carro era um Novo Honda Civic prata, carro esse que, em minha opinião, era lindo, e só os ricos tinham. Ele estacionou na frente da casa e ouvi o clique do motor ser desligado.
Se passou uns cinco minutos até que minha mãe saiu do carro toda sorridente. Ouvi o carro ser ligado novamente e começar a andar. Minha mãe deu um tchauzinho e o carro desapareceu na esquina.
Mesmo tendo visto o carro, eu não podia acreditar que eu não tinha visto o dono do carro. Eu fiquei até as onze horas da noite acordada para não ver quem era a pessoa que estava dando carona para a minha mãe!
Ouvi a porta da frente ser fechada e resolvi ir deitar antes que minha mãe visse o que eu estava bisbilhotando. Desliguei rapidamente o computador e fui deitar. Dez minutos depois eu ouvi minha mãe abrir a porta do meu quarto. Eu fiz o máximo para parecer que eu estava dormindo. Ela me deu um beijo no rosto e depois saiu, fechando a porta ao passar.
Depois que ela saiu, eu comecei a ter a consciência pesada. Eu tinha sido curiosa, de novo, e da última vez que eu tinha sido curiosa, não tinha dado certo para mim. “Mas eu não estou fazendo nada de errado” pensei “ eu só estava preocupada com a minha mãe”. Sim, eu estava preocupada com a minha mãe. Desde que eu me conhecia por gente, minha mãe nunca tinha recebido carona de ninguém, só de amigas. “Mas quem garante que não foi uma amiga que deu carona para ela?” me perguntei. Mas essa resposta eu mesma sabia. Minha mãe não cantarolava no dia seguinte quando amigas lhe davam carona.
Fechei meus olhos e me perguntei o porquê de eu estar preocupada, minha mãe estava feliz não estava? Então eu deveria estar também!
Esse pensamento me fez diminuir um pouco a preocupação, então, resolvi dormir antes que eu começasse a me preocupar novamente.

domingo, 10 de janeiro de 2010

Capitulo 13 - Surpresas.

Depois da “reunião fiasco” eu tinha que ir ao trabalho e provavelmente encontrar a minha “querida chefa”.

Cheguei lá cedo e, por mais discreta que eu tenha sido, a Grace reparou.

- Tá chovendo hoje? – ela perguntou irônica.

Eu estava morrendo de fome, com dor de cabeça e estressada depois de uma reunião cansativa, a minha vontade era de falar: “Tá sim, chovendo caráter! Por que você não vai lá pegar um desses pra ver se você não se torna uma pessoa pelo menos um pouquinho melhor?”, mas ao invés disso eu falei com a maior inocência do mundo e com um tanque de paciência:

- Não. Por quê?

- Por que pra você chegar cedo, só assim, não é queridinha? – ela falou com um sorriso falso.

- É, pois é não é? – me limitei a responder.

- Veio do colégio? – ela perguntou reparando que eu estava com a farda do colégio.

“Agora,” pensei, “o que ela tinha a ver com isso?!”. Mas eu me lembrei que eu tinha um tanque, já pela metade, de paciência.

- É sim, tive que ficar até mais tarde hoje... com licença, tenho que trocar de roupa para ir trabalhar. – falei rapidamente.

- Tudo bem! – ela disse simplesmente.

Troquei de roupa, peguei meu walkman – para no casa de não haver muito movimento na loja – e guardei a mochila no armário.

Atendi alguns clientes até que, finalmente, não tinha mais ninguém para atender. Como ainda faltava mais de uma hora para acabar o meu expediente, fui para trás do balcão com o meu walkman, coloquei o fone de ouvido e apertei o play. Para a minha sorte, o CD que estava dentro era do Paramore, coloquei na minha música preferida “All I Wanted”. Sentei num banquinho que tinha lá e tentei relaxar com a música. Eu já estava viajando na batatinha quando alguém tirou o fone do meu ouvido e falou:

- Olá!

Quase caí da cadeira quando reconheci a voz. Olhei assustada tentando me convencer que eu não estava vendo o que eu estava vendo. O Josh, com uma camiseta branca, de calça jeans, com os cabelos bagunçados de sempre e com um lindo sorriso no rosto bem na minha frente!

- Olá! – ele repetiu.

- Eu... é... oi! O que você está fazendo aqui? – perguntei ainda assustada.

- Vim comprar uns CD’s é claro!

- Ah, então tá! – falei.

Houve um minuto de silêncio onde eu olhava para ele e ele pra mim, até que ele quebrou o silêncio e perguntou com um meio sorriso no rosto:

- Você não vai me atender?

Fui pega de surpresa novamente.

- O que?

- Bem... é que eu preciso de uns conselhos sobre que CD comprar, e como você trabalha aqui, achei que você podia me ajudar.

- Não, claro, você está certíssimo! Então, vamos lá! - falei atrapalhadamente saindo de trás do balcão e largando o walkman lá.

Parei na frente dele e perguntei formalmente:

- Que tipo de CD você quer comprar?

- Não sei... – ele falou despreocupado – o que você me indica?

- Eu gosto de rock, você gosta de rock? – perguntei rápido demais.

- Claro! Quem não gosta de rock? Ou de pelo menos uma música de rock.

- Ótimo, então me siga! – falei já começando a andar. Ele apresou o passo até que ficou ao meu lado.

- Essa reunião de hoje não foi muito legal, não?

- Foi. – suspirei – A Déa e o Ian brigam muito mesmo, mas acho que o de hoje foi um pouco mais sério do que normalmente.

- É eu percebi, o Ian já me falou sobre isso...

Olhei para ele não entendendo.

- Como assim?

- Ah, - ele falou quando percebeu que eu não havia entendido – naquele dia que ele ficou para o jantar... bem, nós conversamos um pouco, e eu percebi que ele ama a Déa. – ele disse rindo no final.

- Sério? Eu achei que só eu conseguia ver o que estava estampado na cara daqueles dois! – falei rindo também.

- Seu sorriso é lindo sabia! – ele falou olhando para mim.

No mesmo momento eu corei, agradeci mentalmente a Deus por eu ter a pele escura, e disse morrendo de vergonha:

- Obrigada!

Ele suspirou.

- De nada.

- Ah, - falei quando chegamos na parte onde havia Cd’s de rock e também tentando mudar de assunto – chegamos na parte de Cd’s de rock! Aqui têm Cd’s do Green Day, todos deles! Tem Paramore também, o novo Cd. Kings of Leon, Red Hot... na verdade tem uma variedade de ...

- Letícia... – o Josh interrompeu, mas também não conseguiu terminar.

- Olá, algum problema por aqui? – era a minha “querida chefa” Grace.

- Não. – falei.

- Ótimo! Pode deixar, eu atendo ele! Você deve estar muito cansada Letícia. – ela falou olhando com cobiça para o Josh. A Grace era uma caçadora de homens. Eu não entendi por que tinha demorado tanto pro “radar” dela perceber que havia um homem bonito na loja.

- Não precisa – o Josh falou – eu volto outro dia, não encontrei o que eu queria.

- Mas o que você queria? Procurou direito? – a Grace insistiu jogando charme nele. – já sei, a Letícia não te mostrou a loja direito não foi?

Revirei meus olhos.

- Não, nada disso! – o Josh falou rapidamente – Ela me atendeu muito bem, mas é que eu realmente não quero comprar nada hoje, mas muito obrigado por ser tão... – ele hesitou um pouco - prestativa.

- Nada! Pode vir sempre que quiser que eu vou estar aqui para te atender viu! – ela disse sorridente.

- Obrigado novamente. Tchau. – ele falou.

- Tchau! – a Grace respondeu.

- Tchau Letícia! – ele falou me dando um sorriso.

- Tchau Josh...

Ele foi embora, a Grace deu um olhar de desprezo pra mim e foi para outro lugar. Eu continuei estática no lugar. Pensando quantas mais surpresas eu teria naquele dia. Eu realmente esperava que pelo menos fosse uma boa surpresa.

Quando eu já ia subindo as escadas para ir ao meu quarto, o telefone tocou. Fui correndo atender.

- Alô. – falei.

- Oi Lê! – a voz era feminina e infantil, apesar da dona dessa voz ser mais velha do que eu.

Sorri quando reconhecia a voz da Simone, a minha ex-chefa.

- Oi Simoninha! Que saudades de você!

- Eu sei, todos têm saudades de mim! – ela falou rindo do outro lado da linha. – eu também estava com saudades de você minha linda! Como estão as coisas?

- Ah, tão indo – respondi sem emoção.

- Há algum problema? – ela perguntou preocupada.

- Não, não! – tentei parecer feliz – só estou um pouco cansada. Eu trabalhei hoje.

- Ah, é mesmo! E a loja? Como está?– ela perguntou desconfiada.

- Tá indo muito bem, vendendo bem... todos estão sentido sua falta!

- Ah, - ela falou sonhadora – eu também sinto muita falta de vocês. Sabe Lê – ela mudou repentinamente de assunto – eu liguei também pra te dizer uma novidade.

- Ah, conta! – falei – não me deixe curiosa!

- Tá bom, – ela riu – você está sentada?

- Já sentei – disse sentando no sofá.

- Estou grávida!!!

- Mentira! – falei espantada. Era meio difícil imaginar a Simone como mãe, era perfeita em um papel de filha, não ao contrario! Ela era uma adulta, mas tinha a mente de uma criança, na verdade, era isso que a fazia ser uma pessoa tão querida. Mas é claro que nas horas certas ela sabia ser adulta, e eu tive certeza que ela iria ser uma ótima mãe.

- Verdade! E você é a primeira que sabe, quer dizer, além do médico, que eu estou grávida. Recebi a confirmação hoje! – ela estava radiante.

- Nossa, que honra!! Parabéns Simoninha! Que esse bebê traga muita felicidade pra você! – falei emocionada, eu era muito sentimental às vezes.

- Pode ter certeza Lê! Esse bebê já está me fazendo muito feliz!

- Que bom! O Paulo vai ficar muito feliz quando souber! E a galera de lá da loja também!

- É, eu sei! Olha já vou desligar! Você tá cansada, qualquer dia desse agente se fala melhor tá bom!?

- Claro! Depois você me conta a reação do Paulo!

- Conto sim! Claro que sim!

- Eu já imagino a cara dele! – falei rindo.

- Eu também! Sabe, ele fica tão bobo às vezes... tenho certeza que ele será um pai babão!

- E tem que ser mesmo!

- Há, tá bom! Ah, como tá a sua mãe? – ela perguntou.

- Bem! – respondi.

- Trabalhando muito não é?

- E como Simoninha!

- Eu sei... esse trabalho de sua mãe deve esgotá-la muito! Não sei como ela ainda não ficou rica!

- Pra falar a verdade nem, eu! Qualquer pessoa que trabalha tanto assim já deveria estar rica!

- É mesmo... agora eu vou desligar mesmo! Beijão minha linda! E mande beijos para sua mãe também!

- Beijo Simoninha. Muitas felicidades!

- Obrigada!

Quando eu desliguei o telefone eu mal podia acreditar no que tinha acontecido. Depois de um dia extremamente cansativo, a Simoninha tinha me ligado e dado a melhor notícia que eu poderia receber nesses últimos meses!

Bem que minha mãe sempre diz que pequenas surpresas podem mudar tudo.

Subi as escadas correndo, tomei um banho, fui para a cozinha, comi algo rapidamente e depois me dirigi ao quarto para dormir pensando no sorriso do Josh e na ligação da Simone.

Esse não tinha sido um dos melhores dias da minha vida, mas esse dia tinha valido muito a pena.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Capitulo 12 – Discussões.

Depois de exatos 4 dias, na segunda-feira ao invés de terça, Eloá e Thiago reuniram o grupo e apresentaram o roteiro.
- Nossa, vocês são ninjas mesmo... – Fernando falou impressionado.
- Pois é... nunca duvide da capacidade dos outros meu caro!
- Olha, o roteiro tá pronto e aí agente separou as coisas que tem que fazer do figurino, som, atores, cenário... – Thiago esclareceu.
Peguei o roteiro, tinha bem umas 15 páginas.
- Gente, não tá muito grande não? – perguntei.
- Na verdade não muito... mas olha Lê, temos que nos reunir novamente pra decidir quem vai ficar em cenário, quem vai atuar e tudo... – Thiago falou.
- É mesmo o ideal seria se nós nos reuníssemos hoje... Pode ser aqui mesmo na cantina depois da aula? Eu tenho trabalho hoje. - disse
- Claro que sim! Mas será que vai dar tempo? – Eloá perguntou.
- Vai sim. É só separar quem vai fazer o quê e pronto. – falei.
- Então tá certo. Quem concorda? – Andressa perguntou.
Ouve um murmúrio de aprovação de todos.
- Então tá combinado. Depois da aula, todos reunidos nessa mesma mesa da cantina.
Depois das últimas aulas, todos se reuniram na cantina. Sentamos em uma mesa e a Eloá pegou o direito de falar.
- Galera, é o seguinte, eu e o Thiago já separamos o que cada um vai fazer...
Ela foi interrompida pelos protestos da galera. Eu não entendi porque, eu tinha que admitir ela fez mais do que certo!
- Gente, por favor, ela tá certa, isso vai poupar muito tempo nosso e muita discussão também! Você fez o certo Eloá – falei.
- É galera, agente fez isso pro nosso bem! – Thiago apoiou-nos.
- Eu só não acho certo eles escolherem o que eu tenho que fazer sabe! E se eu não quiser? Quiser trocar? – Fernando falou indignado.
- E quem garante que você vai querer trocar? – Eloá retrucou.
- E quem garante que eu não vou? – ele disse.
- Tá bom gente, pára com isso agora! Eloá, diz o que você fez pra gente! – Intercedi.
- Bom, para arranjar o figurino eu encarreguei a Andressa por motivos óbvios...
- Obrigada! – Andressa falou se levantando - Prometo que farei o possível e o impossível para que os figurinos fiquem perfeitos!
- Ok Déa, mas continuando, o Crist... quer dizer Ian vai te ajudar.
- O quê?! – os dois gritaram ao mesmo tempo.
- Não, não pode! Pode deixar que eu faço isso sozinha! - Andressa falou rapidamente.
- É, eu acho que ela tem capacidade pra fazer isso sozinha... – Cristian falou meio desconcertado.
Eu já conhecia os dois suficientemente bem pra saber que o que eles estavam fazendo era pura birra e que lá no fundo o que eles mais queriam era estar juntos. Resolvi aproveitar essa oportunidade pra ver se eles finalmente engatavam um romance.
- Pára com isso vocês dois! Vocês vão trabalhar juntos sim e ponto final! – falei morrendo de vontade de rir.
- Mas Lê, o Ian não sabe nada de moda! – Andressa disse com uma carinha triste.
- Epa! Mais respeito aí patricinha! Quem disse que eu não sei nada de moda? – Cristian disse cruzando os braços.
- Eu que disse! Isso tá estampado na sua cara, ou melhor, nas suas roupas! – ela falou cruzando os braços também.
- E o que você queria? – ele falou se levantando – Que eu usasse roupas rosas todos os dias como você?
- Não necessariamente né?! E rosa é uma cor que está super na moda! – ela falou indignada.
- Bom, dá para ver que você é que não sabe nada de moda né? – Cristian disse presunçosamente.
- Tá, eu já falei pra PARAR!! – gritei. Os dois olharam pra mim desolados. – Vocês vão trabalhar juntos e ponto final.
Durante esse “pequena discussão” todos estavam olhando para nós três.
- Bom, eu acho que já que acabou. – Eloá falou lentamente. – vamos continuar né?
- Claro Eloá, pode continuar. – Cristiano falou com uma voz de tédio.
- Bom, o Thiago, o Fernando e você Cristiano, vão ficar com o cenário.
- E aí Fernando, vai querer trocar? – Quando o Josh falou, ele dirigiu uma expressão de desagrado, quase de indignação para o Fernando. Esse ficou intimidado e falou timidamente.
- Não, esse grupo aí tá bom...
- Que bom! – Eloá sorriu. – Eu, a Letícia e o Josh vamos arrecadar o dinheiro pra conseguirmos pagar o cenário e o figurino.
Não fiquei muito satisfeita ao saber que eu ia ter que conviver mais com o Josh, mas pelo menos eu não ia conviver com ele sozinha. Ia ser eu, ele e a...Eloá.
Minhas entranhas se remoeram ao perceber a jogada, claro que ela queria fazer parte de um grupo onde o Josh estivesse, pra jogar charme nele, mas é claro! Que garota atirada!
Olhei pra ela no momento em que a mesma dava um sorrisinho para o Josh, e ele retribuía. Idiotas. Mas eu não podia fazer nada, eu tinha concordado com que essa atirada tinha dito, e agora não adiantava voltar atrás.
- Mas Eloá, quem vai atuar? – o Cristiano perguntou me tirando dos meus pensamentos mórbidos.
- Ah, isso é com o Thiago. – ela falou.
O Thiago se levantou para se pronunciar.
- Na verdade, todos vão atuar!
- Mas por que? – Cristian perguntou desgostoso.
- Porque a história tem muitos personagens, e nós somos poucos... tem pessoas que vão até fazer dois personagens... - Thiago disse enquanto pegava um papel onde, obviamente, deveria estar quem ia fazer os personagens. – Bem, - ele continuou – todos os meninos do grupo vão fazer o papel de guerreiros, vão participar da luta sangrenta! – ele falou cheio de gosto. – exceto o Ian, esse tem nome definido, vai ser o Aquiles!
- Mas eu vou ter muitas falas? – Cristian perguntou desconfiado.
- Não, são poucas... – Thiago falou. – As meninas vão fazer o papel das deusas Minerva, Juno e Vênus.
- Ah, esses são fáceis pra elas – Cristiano disse com um sorrisinho – Deusas elas já são!
- Há, há, você é muito engraçadinho Cristiano. – Andressa falou revirando os olhos.
- Você Déa, vai fazer a outra deusa Diana, e a Lê vai ser Ifigênia.
- OK! – Falei conformada, até que não era ruim, não ia ter que falar muito.
- Menelau serei eu, Paris o Josh e Helena, Eloá.
Quando o Thiago falou aquilo mais uma vez tudo se clareou na minha mente. Paris e Helena eram os personagens principais, o casal. Eu não sabia direito o porque, mas eu não podia deixar Eloá ser a Helena do Josh. Mas o máximo que eu podia fazer era dizer que não concordava com aquilo, mas por que motivo? “Letícia, não faça isso!” briguei comigo mesma.
“Mas, se eles formarem um casal na peça, podem formar um casal na realidade!” argumentei.
“E o que você tem a ver com isso?” perguntei-me.
“Tudo!”
“Tudo o que?”
“Tudo... não sei, mas não posso deixar isso acontecer”
“Letícia, não faça isso”
“Não!”
“Letícia...!”
- Não. – até eu me assustei quando percebi que o “não” tinha saído da minha boca.
- Não o quê Lê? – o Thiago perguntou.
- Eu não... concordo com isso? – as palavras saíram da minha boca antes que eu pudesse pegá-las de volta.
- O que você não concor...
- Eu que não concordo Thiago. – E mais uma vez, todos olharam para o Josh.
- Por que não Josh? – Eloá perguntou meio decepcionada.
- Eu não acho que eu seja um bom ator sabe, e esse papel é o principal, eu acho que quem pode fazer o papel do Paris é o Ian. Tudo bem pra você Ian?– eu não pude resistir e olhei. Ele estava olhando para o Cristian com uma expressão séria então, provavelmente, ele estava falando sério. Eu mal acreditava no que os meus olhos viam e no que meus ouvidos ouviam.
Dessa vez foi a vez da Andressa não concordar, claro!
- Eu não concordo que o Ian seja o Paris!
- E posso saber por que não Déa? – Cristian perguntou com provocação.
- Por que... porque... acho que você não tem a capacidade de fazer um personagem tão importante!
- Vem cá Andressa, olha pra mim e me diz o que nesse raio desse planeta Terra você acha que eu sei fazer! – Cristian falou já cansado dos pits de Andressa e quase estourando de raiva.
- Eu... acho que nada.... – ela falou sem graça.
- Nossa, obrigado viu! – ele falou batendo palmas pra ela e depois se dirigiu para o Josh. – Eu topo trocar com você cara. Você será o Aquiles e eu o Paris e ponto final.
Todos estavam estáticos e de boca aberta diante essa outra discussão, a Andressa estava vermelha como um tomate, assim como o Cristian, mas eram por motivos diferentes. Ele por raiva, e ela por vergonha. Resolvi quebrar o clima pesado e voltar para o assunto do trabalho, ou pelo menos para a parte sem discussões.
- Tem mais alguma coisa Thiago? – falei timidamente.
- Eu... acho que não – ele ainda estava de boca aberta.
- Claro que tem! – Eloá falou já se recuperando. – A parte do som vai ficar comigo e com o Josh.
Eu comecei a abrir a boca para protestar, mas depois a fechei. Por que? Primeiro, porque eu não tinha motivos, segundo, porque eu achava que o grupo não iria agüentar mais outra discussão. Mas mesmo não podendo protestar eu percebi que o Josh estava tão desgostoso quando eu.
Se antes eu tinha achado que essa reunião pouparia tempo e discussão, estava muito enganada, essa reunião realmente não tinha agradado a ninguém.