domingo, 26 de julho de 2009

Capitulo 3 - Hora difícil

Quando eu cheguei em casa – depois de demorados minutos no ponto de ônibus – a primeira coisa que eu fiz foi sentar no sofá, pegar o livro na minha mochila e ler novamente a carta. Fiquei alguns minutos nisso e resolvi parar, por mais que eu quisesse uma resposta para as minhas perguntas, eu não ia encontrá-las lendo e relendo a carta. Eu teria de perguntar ao Josh. Um leve tremor passou por mim quando lembrei que teria de falar com ele, falar que eu li uma carta destinada a ele, carta essa que ele não me deu permissão de ler. Como será que o Josh reagiria a isso? Ótimo, acabo de formular mais uma pergunta!
Levantei do sofá, a carta e o livro ainda em minhas mãos, e fui ao meu quarto. Joguei tudo em cima da cama – livro, carta e mochila - e resolvi tomar um banho para espairecer, peguei tudo o que eu precisava, olhei novamente para o livro e a carta que estavam em cima da cama e fui ao banheiro.
Passei uns bons minutos lá e fui á cozinha. Olhei meu relógio, três da tarde, eu sorri, felizmente hoje eu não iria trabalhar, preparei alguma coisa para eu comer, quando terminei lavei os pratos e fui novamente para o meu quarto. Sentei na cama pensando no que fazer e comecei a me perguntar o que eu diria ao Josh amanhã. Eu diria logo, na lata, que tinha encontrado o livro e lido a carta? Será que eu diria que tinha lido a carta? Mas, se eu disse que não tinha lido, ele iria perguntar como eu sabia que o livro era dele. E se eu só deixasse o livro na cadeira dele e saísse correndo? Ou botasse escondido na mochila dele? Mas se eu colocasse escondido, como eu iria encontrar as respostas para as minhas perguntas?
Me repreendi quando vi que estava fazendo mais questionamentos. Eu não queria pensar no que falar pro Josh amanhã então, estava precisando me distrair. Subitamente lembrei que tinha atividade de Inglês para fazer – o primeiro que um professor passa, é claro que só podia ser dela -, com sede de me distrair, imediatamente peguei o meu caderno e o livro e comecei a fazer a atividade me concentrando totalmente nessa ação. Infelizmente a atividade não era muito grande e em dez minutos terminei.
Olhei para o lado. A carta e o livro estavam lá.
Bom, eu não tinha nada para fazer, precisava desesperadamente me distrair, eu precisava de um livro, e tinha um bem na minha frente. Minhas mãos formigaram, peguei o livro, colocando a carta dentro dele e fui para o lugar onde eu mais gostava de ler: encostada na grande árvore do meu jardim.
Quando eu me encostei na árvore senti uma onda de paz e tranqüilidade, era ali que eu gostava de ficar, pensar, ler.
Eu fiquei por muito tempo encarando o livro, não era justo eu ler outra coisa que não me deram permissão. Tá certo que esse era um livro comum e que provavelmente eu encontraria em qualquer livraria que quisesse, mas mesmo assim, eu não podia cometer outro erro como esse. Resolvi ir guardar o livro para não cair na tentação de lê-lo novamente. Quando eu ia subindo as escadas o telefone tocou, desci correndo e atendi. Era Andressa, claro.
- Oi Lê!
- Oi Déa... – respondi com a voz meio fraca.
- Tá tudo bem com você Lê? Sua voz tá diferente. – perguntou Andressa preocupada comigo.
Nesse momento hesitei, devia ou não contar a Andressa sobre o livro e a carta? Resolvi que era melhor guardar isso só pra mim. Pigarreei e respondi com a voz um pouco mais firme.
- Tou bem sim Déa, foi só que eu tava distraída.
- Ah, bom, se foi só isso, vamos ao que interessa o Josh!
Ótimo, agora eu ia ter que falar sobre a pessoa que com certeza me odiaria quando descobrisse que eu li a carta destinada a ele. Pensei comigo mesma “Força Letícia, encare essa!“.
- Umm.... claro.
Foram longos e dolorosos 10 minutos falando sobre como ele era lindo, da reação da galera da sala, do nome dele e eu tive que fingir que estava bem. Na verdade, esses 10 minutos me deram mais medo sobre o que eu teria de dizer á ele. Como chegar em um menino lindo de morrer e dizer que li uma carta que o melhor amigo sumido dele deixou? Queria muito perguntar isso a Andressa, mas não tinha coragem.