quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Capitulo 11 - Conhecimento

Depois que todos os membros do grupo chegaram – e tomado suco que a empregada Angélica trouxe – todos sentaram em vários lugares da sala e ficaram olhando para mim. Com certeza eles estavam esperando a líder do grupo fazer alguma coisa então, resolvi começar a falar.
- Bom gente, essa reunião é para decidirmos o que vamos fazer, e também para adiantar o trabalho porque agente tá muito atrasado. Então, eu gostaria de ouvir de cada um uma sugestão, idéia ou critica etc... começando por ordem alfabética: Andressa!
- Bem, eu acho que agente podia fazer um desfile com a moda da época!
- Fala sério Andressa, a professora quer conteúdo! Quer que agente fale sobre a Guerra de Tróia. Desfile não tem conteúdo! – Cristiano falou.
- Quem disse que desfile não tem conteúdo cabeça de alface? – Andressa rebateu.
- Cabeça de alface é você!
- Gente, por favor, não vamos brigar né?! – falei – o assunto é sério, é sobre o nosso trabalho!
- Tudo bem, mas eu acho que agente deveria saber mais sobre o assunto. Sabe, eu não sei nada sobre a Guerra de Tróia, só já ouvi falar sobre Aquiles!
- É mesmo, a Eloá tá certa! Como agente pode saber o que vai fazer se agente nem conhece o assunto?
- O ideal seria se agente pesquisasse, ou tivesse algum livro sobre isso... porque que eu não pensei nisso? Agente devia ter se reunido em uma biblioteca... – falei.
- Não Lê, se agente se reunisse em uma biblioteca, íamos ser expulsos pra sempre! – Cristian falou todo sério.
- Gente, não precisa nada disso! Eu tenho uma biblioteca.
Todos olharam para o Josh.
- O quê? Você tem uma biblioteca? Onde?
- Aqui em casa ora!
- Você tem uma biblioteca dentro de casa?
- Sim.
Todo mundo ficou olhando para ele como se ele fosse um alien. Eu levei essa numa boa. Biblioteca dentro de casa, nossa normal! Eu também tinha uma biblioteca dentro da minha casa se fosse levada em consideração a quantidade de livros que eu tenho.
- Então vamos pra lá! – Cristian falou todo empolgado.
- Claro!
Todos levantaram e Josh nos guiou pela casa. Subimos dois lances de escadas, andamos por um corredor e viramos a direita. Dava pra ver que a casa tinha vários cômodos, provavelmente quartos, banheiros, e salas e mais salas...
Finalmente ficamos em frente à única porta que havia no corredor. O Josh abriu a porta e demos de cara com uma biblioteca enorme com estantes de gesso com diversas prateleiras e cheia de livros. Havia também uma grande mesa no centro da biblioteca com puffs em forma de cadeiras envolta, e quatro mesas pequenas espalhadas.
Tá bom, eu admito, isso não existe. Como é que uma pessoa pode ter uma mega biblioteca dentro de casa?!
- Bom gente ,aqui tem vários tipos de livros. – o Josh começou. – Tem um sobre a Guerra de Tróia por aqui...
Ele foi a uma das estantes e ficou procurando pelo livro.
Na verdade, ninguém prestou muita atenção no que ele falou, todos estavam ainda muito admirados com a biblioteca, observando cada detalhe dela, assim como eu.
- Achei! – Josh exclamou. – A Guerra de Tróia de Lindsay Clark.
Ele pegou o livro e jogou em cima da mesa grande.
- Tá, tudo bem, como nós vamos ler esse livro, tipo, hoje?! – Andressa perguntou.
- É mesmo, não tem como agente ler esse livro hoje!
- Agente precisa de pelo menos um resumo da história! Ninguém sabe nada? – falei.
- É gente! Nem sobre a história do cavalo lá? Cavalo de Tróia?
- Olha, eu já li esse livro, posso fazer um resumo sobre a história! – Josh falou todo empolgado.
- Pode mandar ver!
- Então, senta aí todo mundo!
Todos sentaram nos puffs em volta da mesa e o Josh começou a falar.
- Tudo começou quando Hera resolveu disputar um concurso de beleza com Atena e Afrodite, concurso este instigado por Discórdia. Zeus, não querendo se indispor com as Deusas e escolher uma, mandou-as para o Monte Ida e decidiu que Páris escolheria a mais bela. Cada uma das Deusas prometeu uma dádiva a Paris, este decidiu por Afrodite que lhe prometeu a mulher mais bela do mundo.
“Esta mulher era ninguém mais, ninguém menos que Helena, a qual Páris convenceu a fugir com ele para Tróia. Esta fuga foi mais do que suficiente para levar os Aqueus à guerra, pois tinham prometido em ocasião anterior, não só defender Helena, mas lutar por ela se necessário e protegê-la para o seu marido Menelau.”
“Menelau, marido de Helena, chamou os chefes da Grécia e exortou-os a honrar sua promessa, o que foi atendido imediatamente, menos por... Ulisses, que tentou se fazer de louco, mas foi facilmente desmascarado. E Aquiles, escondido pela Deusa Tetis, sua mãe, entre as mulheres da corte do rei Licomedes, porque a mãe dele sabia que ele estava destinado a morrer nessa guerra, mas logo, também Aquiles foi encontrado.”
O Josh parou um pouco para respirar, todos estavam prestando atenção nele, como se a vida dependesse disso. Ele começou a andar pela biblioteca.
- Os gregos se prepararam por dois anos, mas a Deusa Diana estava desgostosa, pois Agamênon havia matado um veado, bicho sagrado pra ela, como vingança a Deusa parou os ventos para que nenhum navio dos Aqueus pudesse sair do porto. Para aplacar a ira da Deusa, era necessário sacrificar uma donzela virgem e ela queria a filha do rei Agamênon, Ifigênia. No momento do sacrifício a Deusa se apiedou e no lugar de Ifigênia colocou uma vitela*, mandou a donzela para o templo de Táuris para se tornar sacerdotisa. Assim foi que a frota dos Aqueus zarpou e deu início a guerra de Tróia.
*Denominação que geralmente se dá à vaca com menos de um ano.
“O cerco sangrento durou dez anos e ocasionou a morte de muitos heróis gregos, incluindo Hector e Aquiles. A guerra foi finalmente ganha graças a brilhante tática de Odisseu. Seguindo ordens, os gregos abandonaram o local em barcos, como se tivessem sido derrotados, deixando para trás um enorme cavalo de madeira. Pensando que o cavalo era uma oferenda para os deuses, os troianos o colocaram dentro da cidade. Mas, ao anoitecer, uma equipe de guerreiros gregos saiu do interior do cavalo e abriu as portas da cidade para o exército grego que tinha voltado. Tróia foi saqueada e totalmente queimada.”
Quando ele terminou, todos continuaram olhando.
- Bom , esse é um resumão, porque tem muito mais coisas por trás da história.
- Cara ,como você sabe tudo isso? – Cristian perguntou abobalhado.
- Ah, - ele falou sem graça – eu li o livro!
- E conseguiu gravar todos esses nomes esquisitos!
- É que minha memória fotográfica é boa...
- Josh! Você é demais! – Eloá falou com os olhos brilhando.
Josh ficou vermelho como um tomate. Também, não tinha como não ficar com vergonha com uma menina tão atirada assim!
- Bom, vamos então decidir logo o que fazer do trabalho não é! – falei bruscamente.
- Vamos sim! – Andressa falou. – Minha idéia de desfile ainda tá de pé!
Todos reviraram os olhos.
- Eu acho melhor agente fazer um seminário, explicando o que aconteceu em Tróia.
- Seminário é muito chato!
- Seria bom se agente gravasse um filme...
- Com que material?
- Desfile!
Subitamente todos começaram a discutir. Realmente, se fosse em alguma outra biblioteca, nós já teríamos sido expulsos. Eu não era a tia da biblioteca, mas tinha que parar essa conversa, ainda precisávamos resolver o que fazer sobre o trabalho, e todos discutindo ao mesmo tempo não ia dar em nada.
- Galera, por favor, vamos fazer silêncio. – falei, mas ninguém me ouviu.
- Agente podia reproduzir o cenário...
- Teatro dramático!
- Por que dramático?
- Porque é uma guerra!! E guerra é triste! Dã...
- Depende...
Olhei em volta suplicante, procurando por ajuda. Meus olhos se encontraram com os dos castanhos claros do Josh. Imediatamente ele entendeu e gritou.
- GALERA! SILÊNCIO AÍ!
Na mesma hora todos fizeram silêncio.
- Letícia quer falar.
Senti vários pares de olhos se dirigirem a mim.
- Obrigada... Josh.
- Estou sempre disponível! – ele falou sorrindo.
Olhei maravilhada pelo seu sorriso por um segundo e depois pigarreei.
- Bom gente, agora nós já temos uma base sobre a Guerra de Tróia. Temos que decidir o que fazer, e sem discussão. Um por um vai falar o que acha que devemos fazer, sem bagunça, sem comentários, por favor! Vamos só ouvir o que o outro falar!
- Desfile! – Andressa persistiu.
- Seminário – Thiago, que estava sentado ao lado de Andressa, falou.
- Filme.
- Peça dramática.
- Peça também, mas não precisa ser dramática! – Cristian falou.
- Filme.
- Uma peça – Josh falou por último.
- Lê só falta você!
Eu pensei por um momento, todas as idéias eram ótimas! Se houvesse algum jeito de juntar tudo... Uma idéia se iluminou na minha cabeça.
- Bem... eu acho que uma peça, mas não simples, com uma super produção, como nos filmes, figurinos pelo menos parecidos com o da época, como em um desfile e com um narrador para explicar a história, como em um seminário!
- Letícia, você é uma gênia! Sério! Só podia ser minha melhor amiga! – Andressa falou com os olhos brilhando. – Por favor, se vocês, como eu, concordam com o que a Lê disse, levantem a mão!
Sete mãos se levantaram.
- Pronto! Decidido, vamos fazer o que a Lê disse!
Eu sorri. Já tínhamos escolhido um caminho, agora só faltava seguir por ele.
Depois de conversarmos bastante, todos resolveram que a nossa peça-seminário-desfile de moda, seria baseado no livro A Guerra de Tróia de Lindsay Clark. Eloá, por ser rápida para ler, ficou de ler o livro e escrever o roteiro com o Thiago.
- No máximo na terça-feira agente trás o roteiro pronto.
- Ah tá, só se vocês forem ninjas! – Fernando falou com desdém.
- O quê? Você está duvidando da nossa capacidade?!
- Quem? Eu? Nunca! Imagina! – ele falou com ironia.
- Gente, que horas são?
O Cristian olhou o relógio.
- Oito horas da noite...
- Mentira! Meu Deus, eu tenho um monte coisas pra fazer ainda! Tenho que ir ao shopping comprar um vestido maravilhoso que vi....
- Andressa, por favor! Fala sério! Não pode comprar amanhã? – perguntei.
- Não! Eu simplesmente tenho que comprar esse vestido hoje! E se amanhã não tiver mais? Tiver acabado?!
- Ah, então tá bom, acho que a reunião já acabou não é?
- Sim!
- Então pode ir... – comecei falando mas depois lembrei – Epa! Espera Déa! Você vai me dar carona pra casa esqueceu!
- E pra mim também, mas eu não quero ir embora... quero ficar pro jantar. – Cristian falou com carinha de triste.
- Pode ficar cara, depois eu peço pro motorista te levar pra casa! – Josh falou solidário.
- Sério?
- Claro! E se você quiser Letícia, pode ficar também...
- Obrigada Josh, mas não precisa. Eu vou com a Déa. Né Déa? – dei um olhar ameaçador pra ela, rezando pra que entendesse que era pra ela me levar pra casa.
- Claro! – ela falou quando viu meu olhar - Eu levo a Lê pra casa antes de passar no shopping. – terminou enquanto pegava o celular na bolsa.
- Então tá bom... – Josh deu de ombros.
Mais algumas pessoas também pegaram o celular pra ligar pra quem quer que fosse pegá-los enquanto voltávamos para a sala.
A mãe do Josh estava lá.
- Oi mãe! – Josh cumprimentou.
Os meninos que não a tinham visto mais cedo ficaram de boca aberta quando ele falou isso. Fiquei imaginado se quando eu, Cristian e Andressa soubemos que ela era a mãe do Josh fizemos as mesmas caras de bobos.
- Já vão meninos? Por que não ficam pra jantar?
- Eu também não sei por que eles não ficam pra jantar, eu vou ficar! Claro, se a senhora permitir! – Cristian falou como se fosse da casa.
- Mas é claro que sim! Amigo do Josh, também é meu amigo! Ele já falou muito sobre você, Andressa e – ela exitou um pouco - Letícia. Mas os outros, por que não ficam também?
- Obrigada Dona Suilan, mas nós já abusamos demais da senhora, vamos pra casa. – Andressa falou.
- Tudo bem, mas saibam que vocês são sempre bem-vindos!
Depois de meia hora de vários adjetivos de Andressa sobre como a casa do Josh era linda, e de que o trabalho ia ficar perfeito, eu cheguei em casa. Tomei um banho e desabei na cama.

Créditos:
http://pt.shvoong.com/books/mythology/1650717-guerra-tr%C3%B3ia-livro-ouro-da/
http://www.suapesquisa.com/historia/guerra_de_troia.htm


Nota: Agora só ano que vem meu povooo! ;D

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Capitulo 10 - Finalmente

Nota: Esse capitulo é meio longo!

Eu acabei percebendo que, se não fosse o Josh, eu ia realmente me atrasar para o trabalho, e a Grace ia arrancar minha pele. Cheguei em cima da hora, a Grace já estava me esperando na porta da loja.
- Finalmente bonitinha... pensei que você nem vinha mais!
- Eu cheguei na hora certa, nem atrasei!
Ela suspirou.
- Eu sei, não precisava mais vir hoje, a garota que ia acabou vindo trabalhar.
Fiquei em choque por um momento. Ela ficou me olhando como se eu tivesse algum problema psicológico e não tivesse entendido.
- Você tá bem garota? Entendeu o que eu disse?
Balancei a cabeça afirmativamente e respirei fundo pra me controlar.
- Sim, porque você não me avisou antes?
- Ah, e como eu ia te avisar?
Agora quem tinha problemas psicológicos era ela?!
- Não sei... por telefone?!
- Boa idéia! Não se preocupe, da próxima vez eu aviso por telefone. – ela falou com ironia.
Nesse momento uma chuva de insultos e acusações passou por minha cabeça. Ela tinha me feito desmarcar uma reunião de trabalho da escola, gastar dinheiro de transporte, pegar um ônibus lotado de gente, gastar a sola do meu sapato, perder o meu tempo, me esforçar para chegar no horário e ainda falava comigo como se eu que fosse a burra! Mas eu não podia falar o que se passava na minha cabeça, ela era minha chefa e se eu falasse alguma coisa, ela ia me despedir por justa causa, e eu não queria deixar meu estágio por causa dela.
Respirei fundo mais uma vez.
- Então, já estou indo. Tchau!
Saí antes que ela dissesse mais alguma coisa e eu explodisse.
Quando cheguei em casa, a primeira coisa que eu fiz foi ligar pra Andressa.
- Alô, Déa?
- Oi Lê! Não acredito que a sua chefa favorita deixou você ligar pra mim!!! – ela falou rindo no telefone.
- Há, nem me fale dessa... pessoa.
- O quê aconteceu Lê? – ela falou já séria.
- Será que você pode vir aqui em casa?
- O quê? – ela gritou do outro lado – você tá em casa?
- Pois é... a Grace disse que eu não precisava mais ter ido trabalhar hoje. E ela só me disse isso quando eu já tinha chegado lá.
- EU NÃO ACREDITO!! Aliás, acredito sim, vindo da Grace, tudo pode acontecer.
- Pois é... e eu quero falar mal dela por pelo menos umas duas horas hoje, por isso preciso de você.
- Opa! Pode contar comigo! Me espere aí amiga, em 10 minutos eu chego.
Quando Andressa chegou, nós fizemos uma tigela da pipoca e uma panela de brigadeiro, subimos para o meu quarto e ficamos falando mal da Grace e do mundo por umas 3 horas. Depois nós fizemos o dever de casa juntas – é, tem esse detalhe – e ela teve que ir embora.
Lavei os pratos e panelas sujas e fiquei acordada um pouco pensando no dia que eu tive.
Apesar da Grace, o dia tinha até sido legal. Fiquei a tarde toda comendo besteira e conversando com a Andressa. O Josh tinha me pedido desculpas, eu tinha pedido desculpas a ele, e agora nós éramos amigos. Fiquei irritada novamente quando lembrei que ele só queria que eu dissesse desculpas pra eu dar o braço a torcer. Ele é legal, lindo, fofo e inteligente, mas ainda é um idiota, só por ter feito isso!
Fiquei pensando em um jeito de me vingar, mas logo esqueci esse desejo e acabei pegando no sono.

Acordei pela manhã bem disposta e quando eu fui pra cozinha tomar café, uma surpresa.
- Mãe!
- Bom dia!
Dei um abraço nela.
- Você não vai trabalhar hoje?
- Vou sim, mas mudei meu horário, agora vou sair de casa mais tarde.
- Que bom mãe!!!!
- Não é? E mais tempo pra dormir já que eu chego tarde.
- Com certeza, mas vem cá, como foi que aconteceu isso? Seu chefe caiu, bateu com a cabeça e resolveu ficar bonzinho?
- Não, meu chefe agora é outra pessoa. O senhor Taylor, ele é uma ótima pessoa!
- Taylor... por que todo mundo que eu conheci esse ano tem nome estrangeiro?
- Sei não filha, mas o senhor Taylor não é estrangeiro não, é daqui do Brasil mesmo.
- Poxa mãe, que legal, então, boa sorte com esse novo chefe!
- Obrigada filha. Mas agora trate de tomar café pra ir pra escola senão vai se atrasar!

Quando cheguei na escola, Andressa já tinha chegado. Falamos mal mais um pouquinho da Grace até que Josh chegou seguido do Cristian.
- Bom dia meninas! – os dois falaram ao mesmo tempo.
- Bom dia meninos! - eu e Andressa falamos. Nós quatro começamos a rir e cada um sentou em seu lugar.
Na hora do intervalo, nós quatro conversamos um monte sobre várias coisas, inclusive sobre o trabalho da Guerra de Tróia.
O Josh mostrou que estava por dentro do assunto e falou um pouco sobre Paris, Helena, Menelau e Aquiles.
O sinal do final do intervalo tocou e nós fomos para a sala. Os meninos começaram a conversar sobre jogos de futebol no vídeo game e Andressa me puxou pra conversar comigo um pouco longe dos meninos.
- Então, agora você e o Josh viraram amigos finalmente?
- Como assim?
- Ah Lê, até um cego via que vocês não se davam muito bem.
- Tava assim tão na cara?
Ela olhou pra mim.
- Muito!
- Pois é, é que nós começamos o ano brigados sabe e aí nós fizemos as pazes.
- O quê? Vocês estavam brigados? Por que? Fizeram as pazes?
Opa!
- Não, agente não tava brigado de verdade, só que eu não tinha ido com a cara dele, nem ele com a minha, aí agente resolveu começar de novo, foi isso.
- Hum... mas que bom!!! Vocês são amigos agora não é? – ela perguntou sorrindo.
- É, acho que sim.
- Que fofo!! Vocês combinam sabia?
Ah tá... agora Andressa ia começar a pensar besteiras...
- Déa? Você escutou? Nós somos amigos.
- Claro que sim.... por enquanto.
-Andressa – falei em tom de aviso – não comece!
- Tá, parei.
- Ei, Lê. – Josh falou. - Quando a aula acabar, vai querer outra carona? Você tem trabalho hoje também não é?
- Não, não precisa.
Ele sorriu.
- Então tá bom.
- Letícia, que história é essa de carona? – Andressa sussurrou no meu ouvido.
- Depois Déa, a professora chegou!
E, graças a Deus, tinha chegado mesmo!

Ceguei em casa no horário normal, não tinha pegado carona com o Josh, mas acabei pegado o ônibus do horário.
No trabalho, fiz de tudo para não parecer que eu estava chateada, ou melhor, com raiva, muita raiva, da Grace por conta de ontem.
Cheguei em casa exausta e praticamente desabei na cama.

Acordei no outro dia com uma sensação estranha, mas depois de um minuto percebi que estava nervosa, finalmente era o dia da reunião do trabalho na casa do Josh.
- Lê, não se esqueça eu vou te pegar lá na sua casa as duas, não se atrase! – Andressa falou.
- Nossa, você tá pedindo um milagre! – Cristian falou rindo. Resolvi deixar essa passar.
- Déa, você fala como se você que fosse dirigir “eu vou te pegar lá na sua casa...” – falei tentando imitar a voz dela.
-É, mas o carro é meu, e o motorista dirige o meu carro, então tecnicamente sou eu que vou te buscar já que eu vou no meu carro mesmo que o motorista esteja dirigindo, logo estou certa ao dizer que eu vou te buscar porque sou eu realmente que vou te buscar já que eu também estarei dentro do carro, e vou buscar você e o Ian, então é isso, acho que estou certa. E acho que quando eu realmente aprender a dirigir vou pintar o meu carro de pink porque o preto não combina comigo.
Eu e o Cristian ficamos olhando ela de boca aberta.
- Tá, repete tudo a partir do primeiro “É” que você falou – Cristian disse.
Ela deu língua pra ele. Aparentemente ela tinha esquecido sobre o fato de eu ter pegado uma carona com o Josh, mas com certeza ela não tinha esquecido, só estava esperando uma oportunidade de desabar as perguntas em cima de mim.

Por incrível que pareça, às 13h45min eu já estava pronta e ansiosa demais pra ficar parada. Fiquei andando de um lado para o outro da casa. Até que finalmente, às duas horas e um minuto ouvi uma buzina.
- Você está atrasada. – falei entrando no Audi a3 preto dela. Ian estava sentado perto da outra janela e Andressa agora ficaria no meio.
- Eu não acredito que você está pronta!
- Peça por um milagre que ele acaba acontecendo! – falei dando uma indireta para o Cristian.
- Cheiro de indireta no ar. – ele falou fingindo que estava farejando o ar.
- Então eu vou pedir por um milagre de moda, pra você vestir roupas descentes Letícia! – Andressa falou olhando para a roupa que eu estava usando. Uma camiseta e calça jeans.
Revirei meus olhos.
- Sinto muito mais esse milagre em particular não vai acontecer. Pelo menos não do jeito que você quer, me entupindo de coisas rosas... – fingi que vomitava.
Dessa vez ela revirou os olhos.
Chegamos na casa do Josh em 20 minutos, mais rápido do que eu esperava.
- Déa, você disso que a casa dele era longe.
- E é mesmo, se agente chegou aqui em 20 minutos, imagina se tu tivesse de busu?
- É mesmo... mas porque você marcou pra me buscar tão cedo? Nós estamos muito adiantados!
- Pois é Déa – Ian me apoiou – a reunião são às 15h e ainda são 14h e 24min! Porque veio tão cedo?
- Por que eu quero ser a primeira a conhecer a casa que, pelo menos do lado de fora é linda! E enorme! – ela falou olhando para frente.
Cristian olhou e soltou um assobio.
Eu olhei também e minha boca se abriu em um grande “O”. Tudo o que Andressa tinha falado era verdade.
A casa era enorme, na verdade, a simples palavra casa não servia, era mais uma mansão. Para entrar, era preciso passar por um enorme portão preto que estava guardado por dois seguranças. A mansão era branca, tinha um aspecto meio antigo e era cercada por árvores, havia também várias janelas e na frente da mansão havia uma fonte envolta a arbustos. Sem dúvidas, era uma mansão digna de alguém muito rico.
Como se já soubessem que havia alguém do lado de fora, os portões se abriram permitindo a entrada do carro, mas depois percebi que deveria ter sido os seguranças que tinha aberto o portão.
(Foto da mansão: http://www.fotosearch.com.br/bigcomp.asp?path=CSP/CSP076/k0765692.jpg )
Quando chegamos na frente da casa, quer dizer, mansão, saímos do carro e fomos em direção a grande porta de madeira. Andressa, que estava na frente, tocou a campainha. Quase 30 segundos depois o Josh abriu. Ele estava com uma calça jeans escura, uma camiseta azul anil de botão – que estava fechada só até a metade -, descalço e com os cabelos castanhos bagunçados. Lindo demais...
- Olá pessoas... – ele olhou o relógio – vocês chegaram cedo!
- Pois é... a Déa sempre gosta de ser pontual, odeia atrasos, né Déa? – Cristian falou.
- Claro que sim... e por falar nisso, sua casa é linda, pelo menos por fora.
Ele sorriu.
- Obrigado, coisas da minha mãe... ah, podem entrar!
Nós entramos, e por incrível que pareça, a casa por dentro era mais bonita ainda do que por fora. A sala também era enorme, mas só combinava nisso com a mansão do lado de fora porque a sala não tinha objetos antigos, mas sim, muito modernos. Havia uma mega televisão de plasma, home theater, um aparelho de som de última geração, dois sofás grandes aparentemente muito confortáveis, uma mesa de centro de vidro e várias outras coisas necessárias para uma sala.
O Josh sentou em um dos sofás. Ele olhou pra mim, Cristian e Andressa, estávamos um perto do outro em pé, perto da porta. Todos com a boca aberta e encantados.
- Gente, por favor, podem ficar a vontade.
Andressa foi a primeira a se mover e sentou no sofá também. Cristian foi logo em seguida e sentou ao lado do Josh. Eu continuei parada, meio assustada e meio nervosa demais pra sentar.
- Lê, quando eu falei “gente”, me referi a você também... pode sentar. – Josh falou me olhando.
- Eu... tá!
Sentei ao lado da Andressa meio desconfortável agora, – o que não tinha nada haver com o sofá que era muito confortável - eu realmente estava me sentindo uma intrusa.
- Finalmente conhecemos a sua casa, ela é muito grande cara. Seu pai é um milionário? – Cristian perguntou.
Josh riu.
- Quase isso...
Uma mulher com os cabelos curtos de um vermelho escuro, meio magra, vestida com elegância, com cara de ter uns 30 anos e muito bonita entrou na sala.
- Olá garotos! Vocês chegaram cedo!
- Ah, gente essa é a minha mãe. Suilan.
Eu tive que olhar novamente pra ela pra ver se eu tinha olhado direito. Aquela mulher não tinha cara de ser mãe... o máximo que podia ser era tia!
- Essa é sua mãe? – Cristian perguntou por mim.
- Sim, eu sei que não parece, eu vivo dizendo que ela é linda demais pra ser minha mãe.
- E você só diz isso porque é meu filho!
- Sinto muito senhora, mas isso não é verdade. Me desculpe, mas quantos anos a senhora tem? - Andressa perguntou.
- 39. E por favor, não me chamem de senhora, podem chamar por “você”! Ou só de Suilan!
- Muito prazer Suilan, eu sou o Cristian.
- E eu Andressa!
- E essa menina linda e calada é? – ela perguntou olhando pra mim.
- Letícia... – falei fracamente.
- Ah! – seu rosto se inundou de compreensão – você é a Letícia...
- Mãe, porque não pega um suco pra gente? – o Josh cortou.
- Claro. Já estou indo. Vocês gostam de suco de laranja espero!
- Claro que sim!
A mãe do Josh sumiu por uma entrada lateral.
- Cara, sua mãe é muito linda! – Cristian falou com os olhos arregalados.
- Claro que é, e olha o respeito hein?
- Sim senhor!
Quase instantaneamente, Cristian e Andressa ficaram a vontade e os três ficaram conversando.
A mãe do Josh, Suilan, entrou na sala. Atrás dela vinha uma mulher, de meia idade, sorridente e de uniforme que estava segurando uma bandeja com quatro copos de suco, obviamente era a empregada. A mulher colocou a bandeja em cima da mesa de centro e saiu.
- Garotos, qualquer coisa eu estarei no meu escritório sim.
- Tudo bem mãe.
- Se comportem hein?!
- Ah mãe, fala sério!
A mãe do Josh lançou um olhar misterioso a mim e saiu.
Cristian foi o primeiro a pegar o suco.
- Cara, que suco delicioso!!
- Pois é, a Angélica não faz só sucos gostosos, qualquer tipo de comida que ela faz sai deliciosa! Se vocês ficarem aqui pra jantar vocês vão ver... – Josh falou pegando um copo de suco em cima da mesa.
- Quem é a Angélica? – Cristian perguntou.
- A nossa secretária do lar que acabou de sair. Adoro essa mulher, é a minha segunda mãe.
- Se é verdade o quê você tá dizendo sobre a comida, acho que eu fico sim pro jantar...
- Lê, você tá bem? – Andressa me perguntou depois que viu que os meninos estavam entretidos na conversa sobre comida.
- Claro que sim! – eu realmente tinha que parar de fazer com que as pessoas perguntassem se eu estava bem. – tô sim, é só que eu tô com sede. – rapidamente peguei um copo de suco em cima da mesa e comecei a beber.
Andressa também pegou o copo dela, mas não se deu por vencida e continuou.
- Não sei.. você parece meio desconfortável, mas eu já sei o que é.
- O quê? Você sabe?
- Claro que sim, você me disse. Você e o Josh brigaram, fizeram as pazes, mas você ainda não tá 100% certa sobre isso não é?
Era incrível a percepção que Andressa tinha. Se eu quisesse esconder o verdadeiro motivo pela briga entre mim e o Josh eu teria que tomar mais cuidado.
- Sim... é! – falei.
- É assim comigo também quando eu brigo com o Ian.
- Mas não parece que é assim com vocês...- falei, meio em dúvida.
- Eu sei... mas com você e o Josh vai ser diferente, isso vai passar e vocês vão acabar ficando juntos no final!
- Andressa, para com isso! – falei alto demais.
O Cristian e o Josh olharam pra gente ao mesmo tempo em que a companhia tocou. Os outros membros do grupo já estavam chegando.

domingo, 6 de dezembro de 2009

Capitulo 9 - Carona

Quando cheguei os dois estavam sentados em uma mesa em um canto da biblioteca, Andressa lendo um livro e Cristian escutando o Ipod, e olhando feito bobo para ela. Fui em direção a eles e sentei em uma cadeira.
- Hey Lê, antes tarde do que nunca né? – Cristian me saudou. Dei língua pra ele.
- Oi Lê, deixa eu adivinhar, o ônibus atrasou não foi? – perguntou Andressa.
- Claro que sim! – respondi.
- Sorte sua que o professor não veio, você ia perder matéria!
- Pois é, eu nem tô acreditando na minha sorte nesses últimos dias... – comecei a prestar atenção no livro que Andressa estava lendo – Que livro é esse Déa?
- Ah, O Diabo Veste Prada.
- Que legal, - falei com entusiasmo demais - nunca li esse livro...
- Silêncio! – a tia da biblioteca falou. - Shshshssh...
- Não acredito... Milagre! Por isso que vai chover hoje! Há pelo menos um livro no mundo que você nunca leu!
- Cala a boca Cristian!- reclamei.
- Não me chama de... Cristian!
- Shshshsshshshs.... Vocês estão em uma biblioteca!
- Desculpa tia! – Cristian falou.
- E aí gente, como vocês acham que é a casa do Josh?
Droga! Andressa minha linda, por que você me lembrou disso?
- Ah, sei lá... ouvi dizer que ele é bem rico... – Cristian comentou.
- Eu não sei como é, e acho que nem vou saber...
- Como assim Lê?
- Eu não vou pra casa do Josh.
Por mais que eu tenha meio que “feito as pazes” com o Josh, eu ainda não podia ir à casa dele, eu não ia conseguir.
- O quê? Por que não? – Andressa gritou.
- Shshshshshsh... Já falei!
- Tá tia... – Andressa falou impacientemente.
Baixei minha voz.
- Porque a Grace pediu pra eu ir trabalhar hoje.
- Que megera! Mulher idiota! E agora?
- Shshshshshs!!
- Agora, eu não vou...
- Ah Lê, por que você não disse pra ela que tinha compromisso?
- Eu disse... – acrescentei baixinho. – acho – continuei - mas ela não me ouve né?
- Mas quando eu pegar essa mulher eu vou dar uns tapas nela...
- Shshshs... vocês estão conversando demais! Porque não conversam lá fora? Isso aqui é uma biblioteca! – a tia da biblioteca falou quase explodindo de raiva.
- Acho melhor agente sair. – Cristian falou.
Quando nós saímos da biblioteca, Cristian continuou.
- Rapaz, fiquei com medo agora, ela tava com cara de que ia cuspir fogo pela boca!
Eu e Andressa rimos.
- Então, você não vai mesmo Lê? – Andressa perguntou tristemente.
- Não, fazer o quê?
- Pois é né? Fazer o quê? – ela falou como quem aceita o que vier do destino. Andressa não era disso.
Nós fomos para a sala e alguns minutos depois o sinal tocou. O Josh entrou na sala e sentou na cadeira quando viu que eu estava olhando deu um sorriso pra mim. Olhei rapidamente pra frente.
As aulas passaram arrastando e finalmente o sinal para o intervalo tocou.
Andressa levantou e saiu.
- Ei, Ian, o quê deu nela?
- Eu não sei direito, ela disse que ia ter reunião do grupo agora...
- Reunião do grupo?
- É!
Eu e Cristian fomos para a cantina e Andressa estava sentada em uma mesa sozinha, enquanto nós nos aproximávamos da mesa, percebi que Fernando, Cristiano, Eloá, Thiago e Josh também estavam indo para a mesa em que Andressa estava sentada.
Quando chegamos, ela começou.
- Bem gente, essa é uma reunião de emergência, e eu estou com fome então vou direto ao assunto. A Lê me disse hoje mais cedo que não vai poder ir para a reunião de hoje.
Epa! O que Andressa pensa que tá fazendo?
- O quê?
- Por que?
- Porque a chefona do trabalho dela disse que ela tinha que ir trabalhar hoje...
- Que saco...
- Então que tal amanhã?
- Não, amanhã ela também trabalha, o melhor dia é na quinta-feira.
- Então tá...
- Ei espera gente! - interrompi. – Vocês não precisam mudar a data, podem fazer a reunião sem mim!
- O quê? Não Letícia, pô, você é a líder do grupo, agente não pode fazer uma reunião em que a líder não esteja presente. – Fernando falou.
- Mas, eu não me importo, com certeza não vou fazer falta...
- Você não quer ir pra casa do Josh? – Eloá perguntou.
- Nãaao, não é isso, eu... gostaria sim de ir, mas eu não quero atrasar o trabalho só por que eu não vou poder aparecer em uma reunião.
- A reunião mais importante já que nós vamos decidir, definitivamente, o que nós vamos fazer...
- Mas...
- Mas nada Letícia! – Andressa deu um basta – Quem concorda em remarcar a data da reunião levanta a mão.
Eu fechei os olhos me recusando a ver o desastre.
- Pronto! 7 contra 1! Lê, você perdeu! A reunião vai ser na quinta-feira, na casa do Josh. Tudo bem Josh?
- Claro. – ouvi ele falar, eu ainda estava com os olhos fechados.
- Bom, que bom, pode todo mundo sair agora e eu vou ali que eu tô com fome!
- Lê! Abre os olhos! – Obedeci.
Todos já tinham ido embora, só restavam eu e Cristian em pé perto da mesa.
- Tá sentindo alguma coisa? Você tá meio pálida...
- Não...
- Quer comer alguma coisa?
- Não, tô sem fome obrigada.
- Bom, eu tô com fome. Senta aí que eu já volto.
Eu sentei. Como é que pode? Quando foi que aquele pote de sorte que tinha sido despejado em cima de mim não fazia mais efeito de uma hora pra outra? Bem que às vezes minha mãe diz que quando tudo tá bom demais, é sempre bom desconfiar...
Depois de um tempo, Andressa voltou á mesa, junto com o Cristian, com uma bandeja com maçã, sanduíche natural e suco de melancia.
- Oi Lê, não vai comer?
- Não, tô sem fome! Tá ficando maluca? Por que você fez aquilo?
- Aquilo o quê?
- Você sabe muito bem o quê!
- Lê, fala sério, tá mais parecendo que você não quer ir á casa do Josh!
- Não é isso... é que o trabalho vai ficar atrasado, e por minha causa!
- Que nada.. isso agente tira de letra Lê! Com você na liderança, e eu como sua vice, tenho certeza que agente vai tirar nota máxima.
- É, espero que sim. – disse baixinho.
- Você tá sentindo alguma coisa? Tá meio pálida...
- Não, eu tô bem Déa!
Eu não tinha mais saída, quinta-feira eu ia pra casa do Josh e ponto final, eu só podia aceitar isso agora e deixar de lado a timidez, o nervosismo e a consciência pesada. Isso com certeza não ia ser fácil! Fiquei observando os dois comerem.
O sinal tocou e nós voltamos para a sala. Aula de Física. O professor Élio deu assunto novo no primeiro horário dele e, no segundo, nos saudou com uma bomba. TESTE SURPRESA!
- Ah, eu não acredito! Os testes surpresa têm que ser banidos da história da humanidade! – Andressa reclamou.
- Vamos, sem reclamar! Todos guardando os materiais e deixando somente lápis, borracha e caneta em cima da mesa!
- Pode escrever de caneta rosa?
- Claro que não Andressa! E você sabe muito bem disso!
- Tá, mas não custa perguntar!
O teste estava muito difícil, os minutos passaram, e eu só tinha conseguido resolver até a metade da 4 de 5 questões quando o sinal bateu.
Muitos alunos relutaram em entregar o teste ao professor, eu continuei fazendo conta até o momento em que ele estava arrancando o papel da minha mão, consegui terminar a questão 4. Cristian e Andressa também sofreram, os únicos que pareciam tranqüilos eram Josh e Mariana que, assim que o sinal tocou, entregaram o teste e saíram da sala.
Quando olhei o relógio no meu celular percebi que, com certeza, eu tinha perdido o ônibus. Guardei minhas coisas rapidamente, dei tchau para o Cristian e Andressa e saí.
Quando eu ia atravessar a rua para ir ao ponto, um Citroen c3 cinza parou na minha frente. A janela da porta de trás foi aberta e dei de cara com o Josh.
- Oi Letícia, quer uma carona?
O quê?
- Eu.. não precisa, obrigado.
- Vamos, eu sei que você perdeu seu ônibus...
- Não precisa.
Buzinas, olhei e havia uma fila de carros se formando atrás do de onde Josh estava.
- Letícia, acho melhor você aceitar, vai se atrasar para o trabalho e pelo jeito, a sua chefa é meio... mandona não?
- Sim, mas... não precisa. Pode ir, eu me viro.
- Por favor... – ele fez uma cara tão linda de anjo caído do céu que eu não consegui recusar.
- Tá bom, mas é só pra você não causar mais engarrafamentos!
Ele sorriu e abriu a porta.
Eu relutei um pouco mais entrei. Assim que fechei a porta, o motorista colocou o carro pra andar. Olhei o Josh e ele estava sorrindo.
- Ah, deixa eu te apresentar. Esse é o Marcelo, meu motorista.
- O-oi Marcelo! – gaguejei.
O Marcelo fez um breve aceno com a cabeça.
- Bom, pode ter certeza que você não vai se atrasar mais para o trabalho hoje.
- Ok, obrigada...
- Agora me responde uma coisa – ele falou meio sério – por que você não quer ir à minha casa?
Eu fui pega de surpresa.
- Não, não é que eu não queira...
- É sim Letícia, você não me engana. O jeito que você quase suplicou pra que não fosse mudado o dia da reunião... você não quer ir pra minha casa.
Suspirei.
- Não, não quero. – falei olhando para a janela.
- Por que? – ele falou parecendo despreocupado, despreocupado até demais.
- Porque... ah, Josh, me desculpe tá bom? – pronto falei, pensei – é que eu acho que eu já invadi demais a sua privacidade, você sabe, eu li a carta...
- Sabe, na verdade, eu quem devo pedir desculpas. – O quê? – Eu fui meio rude com você mesmo, e depois de uns dias eu pensei e vi que não tinha como você saber quem era o dono do livro se você não lesse a carta, não precisava ler ela inteira, mas foi a curiosidade, eu sei como é isso e eu não me importo, não mais, então pode parar com essa idéia boba de invasão de privacidade e desculpe novamente.
Eu só consegui ficar olhando pra ele, com a cabeça confusa. O Josh estava me pedindo desculpa e me dando explicações? Que estranho, eu realmente nunca tinha imaginado essa cena. Ele me pediu desculpas! Mas pera aí, ele disse que depois de alguns dias que ele tinha me entendido...
- Ei, se você já tinha me desculpado alguns dias depois, porque você exigiu que eu pedisse desculpa?
Ele riu.
- Por que eu percebi que você era cabeça dura, e eu queria que você desse o braço a torcer...
- Mas... seu... ai, que raiva, não acredito que você fez isso! Fala sério!
Ele continuou rindo sem parar.
- Para de rir, isso não foi engraçado! – Fiz bico.
- Há, que biquinho mais bonitinho... – Imediatamente desfiz o bico e fiquei vermelha de vergonha.
Percebi que o carro já estava parado, olhei pela janela e vi minha casa. Já tínhamos chegado?
- Bem, obrigada pela carona, eu acho...
- De nada! – ele disse sorrindo.
Abri a porta e saí do carro.
Só depois que eu já estava na porta de casa que eu tinha percebido uma coisa.
- Ei Josh...!- mas o carro já tinha ido embora.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Capitulo 8 - Vacilos...

Depois de um mês passado, as coisas não mudaram muito.
As brigas constantes de Cristian e Andressa, os mesmos professores, mesmas aulas, e eu e o Josh tínhamos evoluído, agora nós trocávamos pelo menos um “Bom dia”, ele já falava normalmente com a maioria do povo da sala, mas quem é que não falaria? Ele é espontâneo, legal, brincalhão, divertido, bonito... e idiota claro! Minha mãe continuava chegando tarde do trabalho e nos dias de folga dela nós aproveitávamos ao máximo! No trabalho, nem é preciso dizer que a Grace continuou asquerosa como sempre.

Quando eu cheguei na escola, já havia algumas pessoas na sala. Sentei no meu lugar de sempre.
- Bom dia. – Josh murmurou secamente.
- Bom dia. – Respondi.
Logo depois Cristian chegou seguido de Andressa. Conversamos um pouco e a professora Manuela, de história, entrou na sala com uma cara de decepção.
- Eu não acredito que já se passou um mês e vocês não fizeram nada ainda sobre o trabalho...
A sala ficou em silêncio, todos haviam esquecido o trabalho de história sobre a Guerra de Tróia que a professora tinha passado.
Mariana pediu a palavra.
- Ah professora, foi mal, é que o trabalho ainda tá longe sabe, então nós relaxamos.
Toda a sala concordou.
- Certo Mari, tudo bem, mas agora vocês têm só um mês para fazer esse trabalho, e eu falei que eu quero ele perfeito! – A professora falou.
- Tudo bem professora. A senhora está certa, então, libera a aula de hoje pra gente se reunir? – Bruno falou.
- Tudo bem, e vamos ao trabalho!
O meu grupo se reuniu: Andressa, Cristian, Cristiano, Eloá, Fernando, Thiago e o Josh.
- Gente, vacilamos com a pró... – Eloá falou.
- É mesmo, mas pô, ela deu dois meses pra fazer esse trabalho!
- É, mas agora nós temos que focar no trabalho, certo? – falei.
- Verdade... e aí, o que nós vamos fazer?
- Eu sugiro um desfile com a moda da época! – Andressa falou toda sorridente. Todos fingiram que não tinham ouvido.
- Agente podia fazer um seminário! – Thiago sugeriu.
- Quem sabe reproduzir um filme da Guerra de Tróia? – Cristiano falou
- Sim, mas com que equipamento? – Cristian perguntou.
- Ah, eu tenho uns equipamentos lá em casa, – Cristiano disse – eu comprei uma câmera recentemente e tem microfone e tudo!
- Sim, mas e os efeitos especiais? Não é fácil fazer isso não!
A discussão se estendeu pelos dois horários de história e não conseguimos chegar em nenhum consenso.
- Gente, por favor, agente tem que decidir logo isso, a aula já vai terminar, e agora agente só tem um mês pra fazer tudo! – falei desesperada.
- Não precisa nervosismo Letícia, acho que agente precisa é de mais tempo de discussão... que tal hoje lá na minha casa?
É claro que eu toparia de boa vontade, se não fosse o Josh que tivesse dito a frase. Não, eu não podia ir à casa do Josh, eu já tinha invadido a privacidade dele lendo a carta, se eu fosse pra casa dele, eu não ia ter coragem nem de pedir uma água!
- Claro! Ótima idéia Josh! – Fernando falou. – onde fica sua casa?
- Ei, espera, eu não posso ir. – arregalei meus olhos quando vi que eu tinha dito aquilo. Todos olharam para mim.
- E por que não? – Eloá perguntou.
- Porque... – pensa rápido, ah, hoje é segunda! - eu tenho estágio hoje! – ver a Grace nunca me deixou tão feliz!
- Ah, que pena... agente pode marcar um outro dia então...
- É, pode ser amanhã lá na minha casa mesmo, não tem problema nenhum. A não ser que Letícia tenha que trabalhar amanhã também. – Josh falou, todos olharam pra mim. Droga!
- É... claro... amanhã... sem problemas!
- Então tá combinado. Amanhã, às três horas?– ele disse feliz.
- Claro! Josh, fala pra gente onde fica exatamente sua casa!
- Bom... – Enquanto o Josh passava as coordenadas para a galera, eu matutava um jeito de não ir a casa dele. “Que tal me fingir de doente? Uma gripe muito forte? Não, nada convincente... Engessar minha perna! Mas nenhum médico vai engessar uma perna sem problemas... Bom, eu posso cair de verdade. Não, isso já é demais...”.
Enquanto eu tava absorta em pensamentos, o sinal tocou me trazendo de volta a realidade.Todo mundo foi para o seu lugar e resolvi ir também. A próxima aula era de Química.
- Lê, a casa do Josh é meio longe... não se preocupe, eu vou te dar uma carona. – Andressa falou.
- Mas eu não pedi carona Déa. – Já que eu ia encontrar um jeito de não ir à casa do Josh, eu não ia precisar de carona.
- Mas eu vou dar mesmo assim! As duas e meia eu vou estar lá, e vê se não se atrasa dessa vez!

Quando eu estava indo para o trabalho, eu tive a sensação de estar sendo seguida novamente, eu realmente devo estar paranóica, tenho que parar de ouvir aquela música dos Jonas Brothers, Paranoid. Eu realmente não sou fã dos Jonas Brothers, mas o refrão dessa música vicia!
Eu já não estava mais contente de ter de ver a Grace hoje, a minha idéia genial não tinha adiantado, e agora nada além do fato de eu gostar muito da loja e da maioria das pessoas nela, me atraía.
Quando eu entrei na loja, Aline veio falar comigo com o rosto estampado de preocupação.
- Lê, se eu fosse você me preparava viu, porque a Grace tá doida pra falar com você!
Ah, eu mereço! Revirei meus olhos.
- Valeu pelo toque Line.
Só foi o tempo de eu trocar de roupa e guardar minhas coisas, a Grace me localizou como um caçador localizando uma presa e veio falar comigo. Não deu nem tempo de fugir.
- Olá garota!
- Oi Do... – me corrigi quando vi o olhar dela – Grace.
- Nossa, por um momento eu pensei que você ia me chamar de Dona!
- Não, claro que não!
- Bom, eu sei que dia de terça-feira você não trabalha, mas eu acho que vou precisar de você amanhã... ok?
Meus olhos se iluminaram, eu senti um forte impulso de dar um beijo naquela bochecha tão linda dela, mas a razão venceu e eu permaneci onde estava.
- Claro, pode contar comigo Grace!
Ela me olhou desconfiada.
- Por que você ficou tão feliz assim?
- Eu? Quê? Nãaaaao... – eu não podia mostrar felicidade, ela não gostava da felicidade dos outros, se eu ficasse feliz por ter que trabalhar amanhã, ela iria retirar tudo o que tinha dito. – Não há nada pior do que trabalhar num dia que você não tem que trabalhar, é realmente muito horrível sabe, eu tinha até um compromisso amanhã, mas acho que vou ter que desmarcar não é mesmo...
Parei por ali quando percebi que estava falando demais.
- Isso mesmo, desmarque. – Ela falou ainda desconfiada. – E já de volta ao trabalho.
- Sim senh.... quer dizer, sim! – Eu mal podia acreditar que eu não ia ter que ir à casa do Josh.

No outro dia, o ônibus acabou atrasando, e eu também. Entrei na escola correndo, quando eu fiz a curva do corredor esbarrei em alguém e caí do chão.
- Opa, me desculpe! – quase gritei lá do chão.
Eu olhei para cima e entrei em choque, além de eu estar atrasada para a aula de geografia – matéria que eu sou péssima -, eu TINHA que esbarrar logo no Josh! Que vacilo! Ele estendeu a mão para me ajudar ao mesmo tempo em que falava com a sua voz calma e um sorriso no rosto:
- Então, finalmente você me pediu desculpa...
- Eu... O quê?... Como assim? Eu não pedi...
- Pediu sim.
- Não pedi.
- Pediu.
- Não.
- Pediu e eu acho que esse chão é meio desconfortável não? – Quando ele falou isso eu voltei para o mundo real. Eu estava mesmo no chão, e atrasada para a aula.
- Ai meu Deus, eu estou atrasada para a aula. – falei tentando levantar sem pegar na mão dele. Ele revirou os olhos e me ajudou me levantando pelo braço do mesmo jeito. Eu senti um choque elétrico quando ele me tocou, mas eu fingi que não senti.
- Não está atrasada, o professor não veio hoje, as duas primeiras aulas estão vagas.
Quase não acreditei quando ele disse isso. Acho que alguém derramou um pote cheinho de sorte na minha cabeça.
- Ah, então... tá. – Falei, já indo para sala guardar as minhas coisas.
- Espera Letícia.
Olhei para ele espantada.
- Sim?
- Bem, agora que você me já me pediu desculpas...
Ai, que raiva!
- Garoto, se toca! Eu não pedi desculpas pela... – na hora de falar a palavra carta, eu não consegui. Ele estava certo e eu errada, mas eu não ia deixar ele sair vitorioso assim tão fácil. – pelo que aconteceu, e sim porque eu esbarrei em você!
- Posso continuar?
Revirei os olhos.
- Pode.
- Acho que desde o início do ano, agente não tem se dado muito bem, então, que tal agente começar do zero?
- Como assim?
- Bom... Oi, meu nome é Josh Steven, sou novo na escola e você? – Ele falou isso e estendeu a mão.
Eu olhei para a mão dele e para o seu rosto, desconfiada, pra ver se era algum truque, mas aparentemente não era.
Eu não podia fazer uma amizade com ele. Como eu poderia ter amizade com uma pessoa que eu invadi a privacidade? Mas eu queria isso, muito. Por mais que o Josh fosse um idiota convencido, ele também era bonito, legal e divertido, com certeza seria uma dessas amizades que durariam para sempre, assim como é com Andressa e Cristian.
Eu estendi a mão e apertei a dele.
- Oi, Meu nome é Letícia Fontes, estudo aqui desde a quinta série. Seja bem-vindo ao colégio.
- Obrigado!
Ele deu um sorriso do tamanho do sol, com a intensidade do sol, com o brilho do sol e tão lindo quanto o sol. Eu fiquei meio tonta.
- Bom, acho que... eu vou... guardar as minhas coisas. – Sai tropeçando do local e entrei na sala. Não tinha quase ninguém, na certa todos aproveitando os horários vagos. Fui direto para minha cadeira e tinha um bilhete cor de rosa lá.

Lê,
Eu e o Ian estamos na biblioteca, beijão mi amore !
Déa s2.


Coloquei minhas coisas em cima da cadeira e fui direto para a biblioteca.

sábado, 17 de outubro de 2009

Capitulo 7 - Final de semana

Finalmente a sexta-feira chegou trazendo uma esperança de ótimo final de semana. Na escola, tudo correu normalmente – eu ainda não falava com o Josh e ele sentava o mesmo lugar de sempre. O único problema foi o trabalho á tarde. A Grace voltou com força total, completamente recuperada da gripe.
Ela descontou dinheiro do meu salário pela minha falta do outro dia e me acusou de ter passado gripe para ela. Ninguém merece!
Assim quem eu cheguei em casa à noite, Andressa ligou.
- E aí linda! Vamo no shopping amanhã eu, você e o Ian? Temos que aproveitar que nesse sábado não tem prova né?
- Claro, vamo sim Déa, tou precisando respirar um pouquinho, é só da escola pra casa, de casa pro trabalho, do trabalho pra casa e de casa pra escola de novo.
- Vixi, para de falar que eu já fiquei confusa! O que importa é que você vai amanhã né?
- Vou sim!
- Então, esteja pronta amanhã às 10 horas da manhã que eu e o Ian vamos te buscar tá bom?
- Certíssimo!
- Tchau lindona!
- Tchau gatona!
Eu ri e antes de desligar eu pude ouvir que Andresa também estava rindo.
Como amanhã não ia ter prova, eu resolvi esperar minha mãe chegar, já fazia 2 dias e alguma horas que eu não a via.
Liguei a TV e fiquei assistindo um canal de clipes. As horas foram passando e eu acabei cochilando no sofá.
Pareciam dois homens, os dois de costas para mim, indo embora, em direção ao nada. Eu tentei correr atrás deles, mas não conseguia alcançá-los. Desisti de correr e passei minha mão pelo rosto, eu estava chorando. De repente, alguém puxou meu braço.
- Você não vai conseguir! – o alguém falou pra mim, eu não conseguia ver seu rosto.
- Eles foram embora!
- Não! – arfei.
- Acorde!
- Não! – gritei.
- Filha, acorde!
Abri os olhos, minha mãe estava olhando para mim.
- Mãe?
- Você estava tendo um pesadelo filha!
- Desculpa mãe, eu deitei aqui te esperando, mas eu dormi, que pesadelo estranho!
- Quer me falar sobre ele?
- Não, tá tudo bem!
Sentei no sofá e mudei de assunto.
- Como foi o trabalho?
- Ah, foi bem, cansativo como sempre! – minha mãe falou sentando do meu lado. – Meu chefe tá pegando muito no meu pé filha! Sinceramente, só de agüentar ele, eu devia ganhar um promoção!
- Nisso eu te entendo mãe! – eu disse rindo.
- Ah, mas que bom, você ficou aqui pra me ver! E aí? Como foi com aquele idiota do aluno novo?
Oow...
- Bem... eu não falo muito com ele, nem ele comigo...
- Mas ele não foi grosso com você novamente não é?
- Não, não foi. – respondi rapidamente.
Ela me olhou bem e depois levantou.
- Bom, vou tomar um bom banho, comer algo e vou dormir! Amanhã eu tenho que estar no trabalho às 9 horas da manhã! Você vai ficar aqui assistindo?
- Não mãe, vou dormir também! Já tá muito tarde! – Falei dando um salto do sofá e notando que já era uma e meia da manhã.
Desliguei a TV e nós duas subimos as escadas juntas, quando chegou na porta do meu quarto minha mãe me deu um beijo e um “Bons sonhos”.
Dormi sem nem lembrar mais do meu pesadelo.

Buzinas, buzinas e mais buzinas. Acordei assustada! Fui tropeçando para a janela e vi o Cristian e Andressa encostados em um Audi a3 preto com motorista.
Andressa me viu na janela, arregalou os olhos e veio em direção a minha porta, Cristian a seguiu.
Desci as escadas correndo ao mesmo tempo em que eu ouvi a campainha impaciente.
Abri a porta e na minha frente estava Andressa com os cabelos soltos e enrolados nas pontas. Ela estava usando um vestido rosa que parecia seda com uma alça cheia de babadinhos um pouco acima dos joelhos, uma sandália de salto alto prata e uma bolsinha prata combinando com o sapato. Cristian estava com uma calça jeans, uma camisa branca de botão com coisas escritas em preto e um tênis. Eu estava usando um pijama velho com desenhos da Minnie e descalça.
- Letícia Fontes, não acredito que você ainda está assim! – ela reclamou me puxando e entrando em casa sem nenhuma cerimônia. Cristian continuou na porta.
- Pode entrar Ian! – Andressa falou já me puxando pelas escadas. – eu não acredito que você estava dormindo até agora! Vamos agora arrumar um look pra você!!
Cristian entrou, sentou no sofá e ligou a TV.
- Eu espero aqui! – ele gritou.
- Espera Déa, que hora são?
- Não importa você está atrasada! – Já estávamos no quarto.
- Como? – olhei para o som 10:00 da manhã.
- Ei, o combinado é às 10 horas, ainda tô no horário! – eu disse bocejando. Ela olhou o relógio agora eram 10:01.
- Pronto, agora você está oficialmente atrasada!
Revirei meus olhos e sentei na cama enquanto ela estava revirando o meu guarda-roupa.
- Meu Deus, não tem nenhuma roupa nesse negócio não é?
- Como? Meu guarda-roupa está cheio de roupa aí!
- Eu quis dizer de roupas boas! Só tem calça e camiseta!
Ela abriu o compartimento de cima e viu umas roupas dobradas.
- Umm!! – ela exclamou quando viu as roupas – isso é que é roupa Lê!
Ela pegou uma peça e desdobrou, era um vestido branco de botão com manga longa.
- Você vai vestir essa!
Imediatamente levantei da cama.
- Tu bem, já tô acordada, chega disso! Me dá esse vestido e vai me esperar lá em baixo que eu já vou!
- Não senhora! Você vai vestir isso daqui...- arranquei o vestido da mão dela, joguei na cama e fui empurrando ela para fora do quarto.
- Me dê só 5 minutos Déa que eu vou estar pronta!
Ela olhou para mim como se fosse reclamar, mas desistiu e resmungou algo como “ainda faço você se vestir como gente” e foi para a sala.
Fechei a porta e encarei o vestido em cima da cama. Eu gostava de me mover, me sentir confortável, sentar como eu quiser, e vestir um vestido não deixa nada disso acontecer.
- Não, eu não vou vestir isso hoje!

Depois de ter me arrumado – vestindo uma camiseta preta e calça jeans escura – eu desci as escadas e encontrei Andressa andando de um lado para o outro e Cristian tranqüilo assistindo TV.
- Estou prontaa!! – gritei. Os dois se assustaram.
- Aleluia!! – Cristian gritou.
- Você acha que tá pronta né? – Andressa falou.
Suspirei.
- Vamos?
- Ô né? Eu vou fazer o que? OU agente vai, ou agente fica aqui, se bem que com você desse jeito.... porque você não colocou algo bem rosa assim, sei lá...
- Andressa para de reclamar, o seu motorista já deve tá dormindo de tanto esperar! – Cristian falou levando Andressa para fora.
- Mas a culpa não é minha, foi Letícia que demorou...
Peguei minha identidade e meu cartão de crédito - sim, eu tenho cartão de crédito, com 150 reais de limite, minha condição financeira não admite mais do que isso -, a chave, fechei e tranquei a porta, e sai com eles.
Rapidamente chegamos no shopping, o motorista praticamente voou pelas ruas. Andressa, como sempre, entrou e saiu de um monte de lojas, eu também aproveitei, o único que não gostou muito disso foi o Cristian. As únicas horas que eu o via feliz era quando Andressa desfilava com as roupas que experimentava pedindo nossa opinião, os olhos dele brilhavam. Andressa me obrigou a comprar um vestido totalmente pink cheia de babados.
Agente também foi assistir a um filme, “Se eu fosse você 2”, foi muito engraçado, um dos melhores filmes de comédia que eu já assisti.
Comemos em um restaurante do shopping e, finalmente, voltamos para o carro – Andressa cheia de sacolas nas mãos, Cristian também, demonstrando solidariedade, e eu com as minhas.
O motorista de Andressa me deixou na porta da minha casa. Quando o carro ia virando a esquina, Andressa me deu um tchauzinho pela janela.

No domingo minha mãe estava em casa, era o dia de folga dela, foi muito divertido. Colocamos o som alto, fizemos faxina juntas e fomos almoçar em um restaurante perto de casa. Á noite o motorista dela de Andressa deixou ela lá em casa.
- Oi Dona Miriam! Que bom que a senhora está em casa! Hoje vai ser a noite das garotas!
- Como assim Andressa? – minha mãe perguntou.
- Olha, eu trouxe um filminho, que, tipo, você chora muuuuito! “P.S: Eu te amo”
- Ah, eu já ouvi falar desse filme, tem lá na loja. Disseram que é muito emocionante! – comentei.
Colocamos o DVD e choramos enquanto comíamos pipoca com o filme. Realmente, era um filme de chorar mesmo! Fiquei um pouco mexida porque o cara deixava cartas, é cartas, para a esposa, só pra ela ler. Na verdade, eu chorei mais no filme por causa da lembrança. Mas, no fim superei.
Quando o filme e a choradeira acabaram percebemos que já estava tarde.
- Nossa! Onze horas da noite! Amanhã você tem aula Letícia! – minha mãe exclamou assustada com o horário. – E você também Andressa!
- Eu sei, vou ligar pro meu motorista vir me buscar!
- Não precisa Déa, porque você não dorme aqui?
- É Andressa pode ficar, tenho certeza que seus pais vão deixar – minha mãe aprovou.
- Não, não, eu não trouxe minha farda, nem escova de dente, - revirei meus olhos - nem os meus cremes que eu uso antes de dormir, nem o meu secador... outro dia eu fico!
Minha mãe me olhou como quem diz “essa menina é maluca?”.
Ela acabou ligando mesmo para o motorista que já estava por perto e chegou em 5 minutos. Fui dormir completamente feliz com o meu final de semana, agora eu iria, com certeza, encarar renovada a minha semana.

sábado, 10 de outubro de 2009

Capitulo 6 – Trabalho em grupo

Depois do colégio eu fui pra casa, almocei, tomei um banho e fui para o trabalho. Eu sabia muito bem que hoje a Grace iria querer que eu me matasse no trabalho para compensar a falta de ontem além, é claro, de querer descontar no meu salário a falta. Mas não tava ligando pra isso, eu tava mais pensando em um meio de matar o convencido, idiota, bonito e grosso do Josh e em como explicar tudo para Andressa sem mencionar a carta.
Quando eu entrei na loja até fiquei surpresa, ninguém começou a reclamar comigo, ao invés disso quem veio falar comigo foi a Aline, toda sorrisos.
- Lê, que bom que você veio hoje! Já tá melhor? Eu soube que você estava doente...
- Oi Line, tou bem sim, obrigada! Mas – falei notando que não só ela tava toda sorrisos, como os outros funcionários da loja também – porque tá todo mundo feliz hoje?
- Ah, foi porque aquela chata da Grace não veio hoje, ela ligou avisando, disse que pegou uma gripe muito forte!
- Ô, é a glória, só pode ser! – exclamei feliz da vida.
- Não é menina?! Agente já tá quase fazendo uma festa aqui!
- Rá, se tiver festa, eu tou dentro!
Aline riu e foi atender uma cliente que tinha acabado de chegar.
Era incrível a atmosfera da loja quando a Grace não vinha trabalhar, e não só eu percebi como os clientes também, o movimento aumentou até consideravelmente.Os únicos que não ficaram felizes foram um grupo de garotos que entraram perguntando por ela, eles saíram desolados da loja.
Depois de um dia maravilhoso de trabalho – desde a época da Grace não havia nenhum – eu fui para casa. A ida para casa não fui muito boa, o ônibus estava lotado de gente, quando finalmente eu soltei no meu ponto – depois quase ter sido esmagada – eu senti uma sensação estranha, como se eu estivesse sento seguida, olhei em volta e vi vários carros passando pela rua e mais ninguém. Na certa era ainda o efeito colateral de um ônibus cheio, mas engraçado, eu nunca tinha sentido isso...
Finalmente cheguei em casa, tomei um banho demorado, fiz minhas atividades do colégio, ou melhor, tentei fazer as minhas atividades do colégio, comi algo, deixei um bilhete para minha mãe dizendo que o dia tinha sido ótimo – não precisava falar sobre a minha briguinha infantil com o Josh – e fui dormir. Antes de pegar no sono, a imagem de um outro bilhete veio na minha mente “Você vai me pedir desculpas :P“
- Idiota – resmunguei.

No outro dia, eu fiz questão de chegar mais tarde só para não falar com o Josh, era essa a saida que eu tinha encontrado, fazer com que nada tenha acontecido.
Quando cheguei, metade da sala já tinha chegado, inclusive Déa, Ian e.... ah, já dá pra saber. O incrível é que ele sentou na mesma cadeira de ontem e hoje estava ouvindo um algo no seu Ipod – uma humilhação para o meu walkman -, cara de pau!
- Bom dia gente! – falei sorridente mostrando indiferença para o ser que estava sentado na frente: Josh.
- Bom dia Lê! – Ian e Andressa exclamaram juntos.
O Josh simplesmente deu uma olhada de canto de olho para gente e voltou a olhar para frente.
Finalmente Andressa e Cristian tinham feito as pazes, Déa contou que não tinha ninguém para conversar ontem, e já que sabia que eu estava no trabalho, ligou para o Cristian. Ficamos conversando um tempão até a professora de Redação chegar e mandar agente fazer uma redação valendo nota sobre a valorização da amizade, que assunto mara, com certeza vou tirar dez!
Depois da redação veio uma atividade gigante que o professor de química passou.
No intervalo, tudo nas mil maravilhas, finalmente um dia feliz depois daquela carta...balancei a cabeça e afastei aquele pensamento, nada ia estragar a felicidade de hoje! Pelo menos era isso o que eu queria.
Bem que diziam que alegria de pobre dura pouco, depois do intervalo tinha aula de história e a linda professora Manuela inventou de passar um trabalho gigante em grupo.
- Bom, o tema do trabalho será Guerra de Tróia e eu vou querer criatividade! Vocês podem fazer qualquer coisa, uma peça, seminário, debate... mas tem que ser, é claro, com esse tema. Para que tudo seja perfeito, o trabalho tomará toda a I unidade. Agora eu tenho uma notícia boa e uma notícia má, qual vocês querem primeiro?
- Manda logo a ruim professora, a boa vem depois pra amenizar. – Um garoto do fundão, Maurício, falou.
- Bom, já que vocês querem assim, a notícia ruim pra vocês é que eu vou escolher os grupos. Gemidos e protestos por toda sala.
- Ah professora assim não vale!
- É marmelada!
- Que mole véi!
- O quê?
- Só não quero ficar no mesmo grupo do Beto! – uma menina exclamou.
- Oxi, qual é de mesmo muié? Eu sei que você me ama! – ele devolveu.
- Gente, silencio!- a professora falou - deixe-me explicar, vocês já estão no segundo ano e eu sei que muitos de vocês estudam aqui á muito tempo e já tem as suas panelinhas formadas, eu faço isso no intuito de dissolver essas panelinhas.
- Ah, mas professora, se as panelinhas são formadas, são para não se separarem né? Dã! – Déa falou.
- Ô fessora, como você dividiu os grupos então? – Ian perguntou.
- Bem – a professora falou - , aqui são 40 alunos, então serão 5 grupos de 8 pessoas. Em cada grupo, eu elegi um líder e sorteei os números das pessoas que vão ficar nos grupos. Assim que eu disser os grupos, podem ir se reunindo e começando a discutir sobre o que fazer. O Líder do grupo 1, Bruno Marconi...
- Como assim eu sou o líder de um grupo? Professora, tem certeza que foi eu que a senhora escolheu, eu só passo arrastado nessa matéria!
- Absoluta Bruno, eu sei que você tem capacidade para isso! Agora, com você estão os números 5, 10, 13, 28, 31, 35 e 39. Podem se reunir em um grupo no fundo da sala.
Cadeiras foram arrastados e as pessoas com os seus respectivos números foram juntar com o Bruno.
Eu já tava ficando nervosa, qual seria o meu grupo?
- Líder do grupo 2, Mariana, números, 7, 8, 11, 18, 26, 29 e 32.
As pessoas que ficaram no grupo de Mariana foram contentes se juntar com ela, ficar no grupo da menina mais inteligente da sala era uma dádiva.
- Líder do grupo 3, Luana, números 9, 15, 20, 21, 27, 36 e 40.
Mais um grupo formado, e eu nada. Percebi que Nem Cristian, número 3, nem Andressa, número1, foram escolhidos para um grupo ainda, muito menos o Josh, mas eu não sabia qual era o número dele.
- Líder do grupo 4, Gilberto, números 6, 16, 23, 25, 33, 34 e 38.
Que bom, eu já tinha uma certeza, Andressa e Cristian já estavam no meu grupo!
- Líder do grupo 5 Letícia...
- Quem? – perguntei espantada.
- Você mesma Letícia! E seu grupo é, 1, 3, 4, 12, 14, 19 e 37.
Várias pessoas, vieram se reunir comigo, Andressa e Cristian – sorridentes -, Cristiano, Eloá, Fernando, Thiago e para meu espanto, o Josh.
- Ah gente, já ia esquecendo a notícia boa.
Isso tudo não passa de uma brincadeira e vocês podem escolher seu grupo, pensei.
- Esse trabalho valerá 6 pontos na média, logo, não haverá o teste de história e o assunto da prova será a Guerra de Tróia.
Vivas por todos os lados.
- Professora, - Mariana interrompeu – e qual serão os dias da apresentação do trabalho?
- Bom Mari, hoje são 12 de fevereiro então, o trabalho ficará para o dia 17 de abril, mais de dois meses pra fazer esse trabalho, eu quero ele perfeito! Façam os 6 pontos valerem apena!
- Mas professora, na sua aula não vai dar para apresentar todos os grupos. – Déa falou.
- Eu sei, por isso, nesse dia não haverá aula, o dia todo será de apresentações!
- E quando vai ser a prova de história? – Ian perguntou.
- Ah, aí é segredo!
- Ah professora, prova surpresa ninguém merece! – Luana resmungou.
- Como não? Eu já estou facilitando pra vocês não fazendo um teste. E a prova ainda será sobre o tema do trabalho. Só perde nessa unidade quem quiser.
- É verdade professora – Bruno apoiou.
- Bom, então, todos ao trabalho!
No mesmo instante um burburinho começou pela sala, todos discutindo idéias e opiniões.
Não dava para acreditar, de 38 pessoas que poderiam fazer grupo comigo, a professora tinha que sortear o Josh para ser do meu grupo. Não, isso não pode!
- Professora, tem certeza que são esses os números do meu grupo? – perguntei timidamente.
Todos olharam para mim como se eu fosse uma maluca. A professora tornou a olhar o papel onde estavam escritos os números e disse:
- São esses mesmos Letícia, por quê?
Nada não professora, é só que eu não quero que o Josh fique no meu grupo! – resolvi guardar essa resposta pra mim.
- Nada professora...
Ela olhou para mim de uma forma estranha, quase como questionando a minha sanidade.
No meu grupo, o Josh tomou a palavra, começou a falar um monte de idéias e a conversar com as pessoas do grupo. Ele tava tão bonitinho falando que eu só conseguia olhar para ele.
- Lê, tô falando com você! – Era Andressa me cutucando.
- Oi Déa, o que foi?
- Que bom que eu, você e o Ian ficamos no mesmo grupo né?
- Claro, claro.
- E ainda bem que no nosso grupo só tem pessoas que agente conhece, bem, pelo menos, você conhece todo mundo né?
- O quê? Quem que eu conheço?
- O Josh, vocês não já conversaram? – ela perguntou.
- Ah, sim.
Balancei minha cabeça e resolvi assumir meu papel de líder de grupo. Peguei meu caderno, anotei o nome das pessoas do meu grupo e comecei a anotar as idéias de todo mundo sem nem ousar olhar para o Josh.
O sinal tocou e nós não tínhamos ainda chegado á um consenso sobre o que fazer no trabalho.
Dessa vez eu não demorei pra sair, peguei meu ônibus e fui curtir minha folga no trabalho em casa.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Capitulo 5 - Como assim?

Nota: Gente, desculpa a demora!! É que eu tava muito ocupada... por isso, vou colocar o capitulo 5 inteiro!! Ah, nos próximos eu vou colocar o capitulo inteiro também!

Beijão!


Depois do banho eu desci, minha mãe estava na cozinha preparando uma comida gostosa pra gente – ela cozinha muito bem – e eu resolvi fazer a coisa mais sensata enquanto eu esperava: Liguei pra Andressa. Eu sabia que se eu não ligasse, ela iria me matar – literalmente. Disquei os números já familiares com medo, ela com certeza iria brigar comigo por ter demorado tanto, eu realmente tinha dormido demais.
- Alô? – ela falou com a voz um pouco irritada.
- Oi Déa, é...
- Letícia Fontes!! O que deu em você? – ela gritou do outro lado da linha sem me deixar falar -Por que demorou tanto? Sabia que eu estava preocupada com você? Sua mãe disse que você tava doente, eu sei que não é verdade, mas isso não vem ao caso! Quero saber por que você demorou de ligar, eu já tava quase ligando pra você! Que falta de consideração com sua amiga garota!
- Andressa, quer, por favor, calar a boca e ouvir um pouquinho? – eu gritei.
- Ah, tá, pode falar. – ela falou calmamente. Suspirei.
- Desculpa por ter demorado pra ligar, é que eu... acabei dormindo depois que eu cheguei do colégio e só acordei agora.
- Dormindo? Ummm... então tá, amanhã agente conversa ok? Boa Noite.
Ela desligou.
Fiquei olhando para o telefone, Andressa tinha desligado na minha cara? Com certeza ela estava com raiva de mim. Mas eu não ia me estressar com isso, era como minha mãe falou, o tempo cura tudo.
- Filha, o jantar tá na mesa!

O despertador tocou, eu estranhamente estava mais alerta – apesar de não ter dormido direito. Na geladeira, um bilhete da minha mãe, que já havia saído – como sempre.
“Tenha um ótimo dia”
Como de costume, quando eu cheguei na minha sala, ainda não tinha ninguém. Me dirigi até a minha carteira na frente, sentei e retirei da mochila o meu “velho” livro Anjos e Demônios e comecei a ler. Já tinha lido duas páginas quando a carteira ao meu lado foi arrastada e alguém sentou nela, esse alguém, era o Josh.
- Oi – ele falou.
Olhei incrédula para ele.
- Você está falando comigo?
- Acho que só tem você na sala né?
Olhei em volta só pra garantir que era verdade.
- Olha, - ele começou – eu sei que eu fui um pouco grosso com você ontem, mas você sabe que fez uma coisa errada, e eu aceito as suas desculpas se você pedir. – a medida que ele foi falando meus olhos foram ficando grandes.
- Como assim se eu pedir desculpas pra você? – perguntei.
- Bom, o errado aqui não foi eu. – ele falou com a cara mais inocente do mundo.
Nessa hora eu fiquei com raiva, já sabia muito bem dos meus erros para ele ficar jogando da minha cara.
- Bom, então espere sentado, porque eu não vou falar isso que você quer que eu fale! – quase gritei pegando meu livro e começando a ler de novo.
- Você me deve isso. – ele falou – vai me dizer que não é feio ler as coisas dos outros. – a medida que ele falava eu fui notando um risinho de canto de boca, parecia que ele já estava contando vitória antes mesmo de lutar na guerra. Que cara convencido!
Suspirei, tentando dissipar a minha raiva.
- Acho que seu lugar não é aí na frente.
- Ah, eu tô bem aqui, obrigado!
Não falei nada e voltei a ler meu livro.
- Sabe, eu tô esperando.... – ele falou com quem não quer nada.
- Esperando o quê?
- As desculpas!
- Eu não vou pedir desculpas!
- Ah, você vai.
- Não vou. – falei encarando ele.
- Vou fazer você pedir. – ele falou me encarando também.
- Nem me pagando eu peço. – estreitei meus olhos.
- Pede sim!
- Não peço!
- Pede!
- Não peço!
Nessa hora a porta abriu e Andressa entrou. Nós dois olhamos para ela, ela olhou para nós dois. Silêncio.
- Bom dia. – Andressa quebrou o gelo e sentou na cadeira de sempre.
- Bom dia Déa. – falei. Josh ,não disse nada e de repente se mostrou muito interessado na mochila dele.
Andressa sentou atrás de mim como sempre, ainda desconfiada de algo. Eu voltei a prestar atenção no meu livro.
Não deu dois minutos e as pessoas começaram a chegar, e com elas, um bilhete de Andressa:

Como assim?


Como assim o quê?
– Devolvi.


Como assim, como assim o quê? Você não tem nada pra me contar?


Nesse meio tempo Cristian havia chegado e sentado atrás do Josh, também desconfiado.


Eu não tenho nada pra contar.


Tem sim!!!


Procurei desesperada por uma saída. A professora de Física estava entrando na sala. Ótima saída!


Depois agente conversa Déa, a professora já chegou.


Sim senhora, dessa vez eu quero que você me explique tudo que tá acontecendo viu!!


Balancei minha cabeça. Droga, o que eu ia dizer pra Andressa? “A verdade”, pensei, “você não estava fazendo nada demais.” É, eu não fiz nada demais não é? E eu podia contar a verdade para Andressa, pelo menos a parcela dela, ainda estava proibida – a não ser para minha mãe - de contar sobre a carta... A carta. Eu quero pedir desculpas para o Josh, afinal, ele estava certo, eu fiz uma coisa errada, mas aquela cara de convencido dele... não, não vou pedir desculpas, ainda não!
As quatro primeiras aulas se passaram com Andressa não parando quieta na cadeira, Cristian olhando preocupado para ela e Josh com a cara tranqüila, prestando atenção na aula. Eu também estava prestando atenção, não era o fato de ter um menino lindo do meu lado, uma amiga nervosa atrás de mim e uma imensa culpa nas costas que iria fazer com que eu não prestasse atenção na aula. Eu acho.
Nenhum de nós falou nada, mas – infelizmente, nada é perfeito – o sinal para o intervalo tocou, e eu ia para a fogueira. Andressa me puxou “discretamente” porta a fora, nem deu tempo de ver a reação do Josh ou o que ele iria fazer, ou pra onde foi. Ian nos seguiu, aquilo que era amigo, sem nenhuma pergunta para fazer, na dele, apóia a gente sabe!
Sentamos à mesa de costume e Andressa riscou o fósforo:
- Vamos, me conta, o que foi aquilo que eu vi?
- O que exatamente você viu Andressa? – revirei os olhos.
- Como assim o que eu realmente vi Letícia?
- Déa, deixe a Lê em paz! – entrou Ian em minha defesa.
- Quem te chamou na conversa meu filho?!
Eles iam discutir por mim agora, agora que eu tava bonita...
- Deixa Ian, eu vou explicar! – falei tentando evitar a briga. Andressa olhou pra mim com cara de interessada e Ian fez a expressão “tá bom, se você quer assim”.
- Andressa Rios, no momento em que você chegou, eu estava conversando com o aluno novo – gatíssimo, acrescentei em mente, - Josh Steven. Alguma pergunta? – os olhos de Andressa brilharam, Ian balançou a cabeça, incrédulo.
- Sim, - ela falou - o que vocês conversaram?
Droga, pra que eu perguntei se ela ia perguntar alguma coisa? É óbvio que ela ia querer perguntar mais alguma coisa. Que vontade de bater no Josh, foi ele que fez isso tudo acontecer!
- Nada demais, - inventei na hora – sobre o tempo, as aulas...
- Hum – Andressa falou decepcionada. – Foi só isso?
- Sim. Posso ir comer agora? – falei já me levantando da mesa.
- Pode sim, eu não tô com fome hoje.
- Pera Lê, eu vou com você! – Ian disse levantando também.
Fiquei aliviada por ter levantado da mesa, eu estava me sentindo sufocada. Ian veio ao meu lado. Quando ficamos em uma distancia considerável da mesa onde estava Andressa, ele falou:
- Eu não sei por que, mas eu acho que você mentiu, não acho que você e o aluno novo – ele retorceu a boca – tenham apenas conversado sobre o tempo. Mas, não precisa me explicar nada não – ele falou rapidamente quando eu ia me defender – se você quer guardar esse sentimento só com você, não tem problema, eu sei como é isso. – como assim ele sabe o que é isso? – mas tome cuidado com Andressa, ela tá supercuriosa, e se você não quer falar nada com ela por enquanto, aja mais discretamente tá bem?
Só consegui balançar minha cabeça, o que mais eu ia dizer? Que ele tava errado? Não, eu não conseguia fazer isso...
Quando entramos na sala, o Josh, é claro, já estava lá, que garoto mais apressado!
Do mesmo jeito que ele foi o primeiro a chegar depois do intervalo, ele foi o primeiro a sair da sala quando o sinal tocou indicando o final da aula.
Eu, como sempre, fui a última a sair, quando fui guardar meu caderno, vi um papelzinho caído no chão, peguei e li:

Você vai me pedir desculpas :P

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Nós duas rimos ao mesmo tempo.
- Tá bom filha, eu exagerei agora, mas que ele merece uns tapas... merece mesmo viu!
- Mãe, - suspirei – acho que a culpada sou eu, pra começar eu não devia ter lido aquela carta...
- Não devia mas leu filha – minha mãe interrompeu – e isso é normal, não se culpe por isso. Se a curiosidade fosse algo tão grave assim não existiria mais ninguém no mundo. E a reação dele foi muito impulsiva, com certeza ele deve estar se culpando por ter falado tão grosseiramente com você, e se não tiver, depois eu me entendo com ele ou eu não me chamo Miriam Fontes!
Balancei minha cabeça, minha mãe era tão impulsiva! Ela continuou murmurando alguma coisa, suspirei.
- Mãe, para de ser assim e me dá logo um conselho!
Ela olhou pra mim um pouco confusa, mas depois sorriu.
- Ah, sim filha! Eu acho que você deve esperar, o tempo é o melhor remédio, cura qualquer coisa. Você vai ver, as coisas vão se resolver... até lá, pare de se martirizar por isso tá bem?!
Dei um meio sorriso e ela me abraçou. Abraço de mãe é a melhor coisa do mundo, no mesmo instante me senti melhor, não só pelo abraço mas também pelo fato dela estar certa, o tempo vai cuidar de tudo.
- Obrigada mãe, agora deixa eu ir ligar pra Déa, ela já deve estar tendo gatinhos de preocupação! – disse levantando da cama, um pouco tonta, tinha ficado muito tempo na cama. – Mãe, que horas são?
- São nove e meia filha...
- NOVE E MEIA!!! Meu Deus, dormi muito!
- Sim, você dormiu muito, e se quiser um conselho de mãe, vai tomar um banho antes de ligar para Andressa filha, você tá um caco!
Imediatamente segui o conselho de minha mãe e fui tomar um banho quente.

sábado, 15 de agosto de 2009

Capitulo 4 - Conversa

Quando cheguei em casa após a escola – dessa vez pegando o ônibus do horário – eu pude deixar a tristeza tomar conta de mim. Subi correndo as escadas e me joguei na cama.
Os meus temores estavam certos, eu tinha feito algo errado, tinha que pagar por aquilo e esse era só um dos erros que eu havia cometido. O Josh teve uma reação estranha , mas pelo que Cristian disse, ele estava com tristeza nos olhos, com uma expressão de dor, com certeza pela raiva que estava sentindo por eu ter lido a carta e depois disso eu ainda magoei a Andressa por não ter coragem suficiente para contar a ela sobre o que eu estava sentindo. Eu era uma egoísta sem limites, não consegui conter as lágrimas, elas agora caiam como cachoeira sob os meus olhos, entorpecida pela dor acabei adormecendo.

Quando acordei demorei um momento para me situar, pra saber por que eu me sentia tão estranha, esgotada e saber também por que eu tinha acordado. Abri os olhos, minha mãe estava sentada no pé da minha cama com uma expressão preocupada. Ela tinha cabelos pretos e longos presos em um rabo de cavalo, usava um vestido floral simples, sinal de que fazia já algum tempo que ela havia chegado do trabalho. Ela era tão linda, sempre quando nós passeávamos juntas perguntavam se ela era minha irmã, de jeito nenhum ela aparentava a idade que tinha. Nossa relação era mais de amigas do que de mãe e filha, não escondíamos nada uma da outra e sempre quando uma estava mal, a outra sempre sentia.
- Mãe! Que bom, a senhora já chegou!
Sentei na cama e a abracei, ela retribuiu o abraço calorosamente.
- Oi filha! Aconteceu alguma coisa?
Tá, por que ela tinha que fazer essa pergunta? Eu não podia esconder o que aconteceu no colégio dela, - eu nunca consigo – e mesmo se eu conseguisse e não dissesse, ela iria descobrir de qualquer jeito, ela sempre descobre...
Olhei para a janela para disfarçar e me distraí. Estava tudo escuro, já era noite. Meus olhos cresceram enquanto eu assimilava que havia perdido a tarde inteira, será que agora tudo de ruim ia acontecer comigo?
- Ai não, já é noite! Eu perdi a tarde inteira – me lembrei de algo mais grave – O trabalho!! A Grace vai me matar...
- Calma filha – minha mãe falou segurando meus ombros – relaxe, respire!
Fiz o que ela mandou.
- Olha, quando cheguei, a secretária eletrônica estava cheia de mensagens, a maioria delas da sua amiga Andressa – revirei meus olhos, mas claro que era Andressa! – mas, tinha uma também da sua chefa. Eu fiquei preocupada, procurei por você e te achei dormindo. Eu liguei para as duas, já está tudo resolvido, Andressa falou pra você ligar para ela depois e tive que dizer para sua chefa que você estava doente. Agora, quero que você me diga: O que aconteceu?
Droga, será que eu realmente não ia conseguir esconder nada de minha mãe? Resolvi fazer uma tentativa frustrada.
- Não aconteceu nada mãe...
Minha mãe suspirou.
- Letícia, acho que você esqueceu que sou sua mãe, eu sei que não está tudo bem. Você não confia mais em mim?
- Não mãe, não é isso é que... eu não sei se posso dizer.
Essa parte era verdade, o Josh – tremi quando pensei nesse nome – além de não ter gostado nem um pouco de eu ter lido a carta dele, disse para eu não contar pra ninguém. Mas, minha mãe não era ninguém, era minha mãe, minha melhor amiga, e eu precisava desabafar com alguém.
Com um suspiro contei tudo para ela, desde quando eu achei o livro, até a reação estranha do Josh e de como eu era egoísta.
- Filha – minha mãe falou me abraçando – você não é egoísta, a sua reação de pensar no que dizer para ele é normal! Até ele mesmo pensaria nisso. Agora, - ela falou, agora olhando para mim – que menino idiota, tratando você desse jeito! Olha só como você tá agora? - ela continuou se alterando – eu devia ir lá e dar uns tapas nele e ensinar como se deve tratar uma pessoa!
- Calma mãe, - falei segurando os ombros dela - relaxe, respire!
Ela fez o que eu mandei.

domingo, 2 de agosto de 2009

Depois de um tempo as pessoas começaram a chegar, inclusive Andressa, quando ela me viu percebeu que havia algo errado.
- Lê, aconteceu alguma coisa? - ela perguntou, sua preocupação evidente.
- Não Déa, tá tudo bem – respondi com a voz fraca, eu não tinha coragem de dizer a ela o quanto eu era egoísta, o mal que eu tinha feito.
- Não, não tá Lê, o que aconteceu?, desde ontem, no telefone, que eu percebi que você tá assim...
- Nada, eu já disse, é só uma dor de cabeça – respondi.
- Então tá, se você não quer falar, não sou eu quem vai te obrigar. – ela falou chateada.
Cristian chegou nessa hora.
- O que tá acontecendo aqui?...Lê você tá com a cara péssima!
Andressa jogou um olhar de censura para ele.
- Que grande descoberta!
Com certeza eles ainda estavam brigados, já tinha esquecido até disso com o meu egoísmo.
- Desculpe, só queria saber o que está acontecendo! – Cristian se defendeu.
- Você ajuda se calar a boca Cristian, não vê que ela não quer falar? – Andressa falou mal humorada.
Cristian revirou os olhos e foi sentar na sua cadeira. Eu continuei na minha, quieta e calada. Percebi que Andressa estava doida para falar comigo, mas ainda estava chateada por eu não ter dito o porquê de estar com “a cara péssima”, eu também não queria falar com ninguém, eu não tinha o que falar. Eu tive de me esforçar muito para não olhar para trás e ver como o Josh estava, com certeza ainda com raiva de mim.
A hora do intervalo chegou e eu, Cristian e Andressa andamos um ao lado do outro calados. Sentamos na nossa mesa de sempre – ninguém quis comer nada – e ficamos um olhando para cara do outro. Cristian quebrou o gelo.
- Gente o que tá acontecendo?
Eu e Andressa nos olhamos, ela virou o rosto e fez biquinho. Eu tinha que fazer as pazes com ela e parar de deixar os outros ficarem tristes por minha causa, então comecei.
- A culpa foi minha Ian, é que eu tou com uma dor de cabeça chata e...
- Não, você não tá com dor de cabeça Letícia, eu te conheço! – Andressa interrompeu.
Olhei para minhas mãos sobre a mesa, queria muito contar a ela o que estava acontecendo, mas eu não podia, não tinha coragem suficiente.
- Déa, eu juro que é só uma dor de cabeça...
Ela me interrompeu novamente – era incrível como hoje todo mundo não queria me deixar falar.
- Ai, tá bom Lê, você não quer falar, eu respeito isso! Me desculpe por ter ficado chateada, você tem o direito de guardar pra você mesma o que quer que seja e se quiser compartilhar, pode contar comigo.
- Me desculpe Déa, mas eu realmente..., eu sei que posso contar com você, você é a minha melhor amiga! – falei.
- Ah Lê – ela falou sorrindo – você sabe que é a minha BFF, Best Friend Forever!
Eu não pude deixar de sorrir também
Cristian pigarreou alto. Eu sorri para ele.
- Ai Ian, você também é meu melhor amigo, sabe disso!
- Obrigado Lê, você é minha melhor amiga também!
Nós dois olhamos para a Andressa, ela devolveu o olhar como quem diz “eu não tenho nada a ver com isso”.
- O que? Por que vocês tão me olhando?
- Nada não Déa... – falei. Cristian não disse nada.
- Mudando de assunto Lê, você viu o Josh? – Droga, porque ela tinha de falar nele? – ele tava tão esquisito...
- Esquisito como? – me interessei. Eu precisava saber como ele ficou depois da nossa conversa já que se eu olhasse muito pra ele durante aula, com certeza a Déa iria perceber.
- Ele parecia triste. – eu e Andressa olhamos para o Cristian assustadas, era a primeira vez que ele falava do Josh.
– Eu não sei... as vezes a expressão dele mudava, como se ele sentisse dor por algo, arrependimento. – ele riu – com certeza esse cara é esquisito. Ele olhou muito pra você Lê.
Eu prendi a minha respiração.
O sinal tocou e nós fomos para sala – eu ainda me sentindo péssima -, quando nós entramos, Josh já estava lá. As últimas aulas passaram rapidamente, quando o sinal tocou, ele foi o primeiro a sair.

sábado, 1 de agosto de 2009

Quando desliguei o telefone fiquei aliviada por não ter mais que falar dele, mas agora teria que pensar nele. Bom, não se eu pudesse evitar, eu não queria pensar no que falar pra ele agora. Subi correndo pro meu quarto, liguei o meu som, coloquei um CD da Green Day e coloquei no último volume. Liguei o computar e fui fazer qualquer coisa que me distraísse, encontrei um jogo e fiquei nele até o conseguir ir ao último nível. Olhei o relógio, eram sete da noite, resolvi dormir cedo, quem sabe algum sonho meu me desse uma luz?
Desliguei o som e o computador, tomei um banho rápido e fui deitar.
Não consegui dormir direito, pude até ouvir quando minha mãe chegou, seus passos pela casa. Quando ela veio me ver eu fingi que estava dormindo, queria muito compartilhar minha angustia, mas não queria deixá-la preocupada.
Consegui dormir por algumas horas, quando o despertador tocou demorei um pouco para lembrar porque eu estava com tanto sono ainda e porque estava tão angustiada. Quando consegui me lembrar não tive coragem de levantar da cama.
- Mas o que é isso Letícia? – falei comigo mesma – Você, sempre uma menina tão forte, com medo do que um garoto vai pensar de você?
Suspirei, tomei coragem e levantei. Como sempre, minha mãe já havia saído.
Cheguei mais cedo do que eu esperava na escola, antes de abrir a porta da sala tive que tomar fôlego, minhas pernas não queriam me obedecer, e se ele já tivesse chegado?“ Vai ser ótimo, assim você acaba logo com isso!” pensei. Quando abri a porta suspirei de alívio, ele ainda não tinha chegado, não só ele, mas ninguém.
Fui direto pra minha cadeira e sentei lá, mas meu alívio durou pouco, 5 minutos depois ele entrou na sala. Sentou no lugar de sempre, no fundo. “É agora Letícia” pensei “ tem que aproveitar enquanto não tem ninguém na sala, com certeza ele vai te agradecer por ter devolvido o livro, não tenha medo”. Tomei fôlego, peguei o livro e fui andando em direção a ele.
- Er... oi! – falei com a voz fraca.
Ele olhou assustado para mim, seus olhos eram de um castanho claro intenso. Esses mesmos olhos que olharam para mim com surpresa, quando viram o livro na minha mão ficaram brilhantes.
- Ah, sim, encontrei esse livro ontem. Acho que é seu! – falei entregando o livro para ele.
- Nossa! – ele exclamou sorrindo, um sorriso lindo por sinal. – Eu achei que não iria encontrá-lo mas...
Ele olhou para mim, mas não mais havia um sorriso no seu rosto e os seus olhos estavam frios.
- Como você sabia que era meu? Não tem o meu nome nele...
Eu não consegui falar, ainda estava em choque com a sua mudança de emoções.
- Você leu não foi? – ele perguntou asperamente. Consegui recuperar um pouco da minha voz e comecei.
- Eu só...
- Sabia que é muito feio ler a carta dos outros sem permissão? – ele perguntou com a voz fria.
Eu corei – graças a Deus por eu ter a pele escura - e respirei fundo, sabia que isso ia acontecer.
- Sim mas...
- Se você sabia disso, porque leu então?
Eu já estava começando a ficar irritada, por mais que eu estivesse errada, será que ele não iria me deixar falar?
- Eu só li porque...
- Você não tinha esse direito.
Nessa hora perdi a minha paciência.
- Cara, você vai me deixar falar ou não?
- Falar o que? Que você está errada? Que tá com pena depois do que leu? – ele perguntou sem emoção.
Depois disso eu vacilei, em nenhum momento eu me preocupei em sentir pena dele ou de alguém, mas sim no que eu iria dizer a ele por ter lido a carta, na reação que ele teria quando eu dissesse... Tecnicamente, eu só havia pensado em mim, nos meus problemas.
- Eu não...
- Quer saber garota? Só peço que você não conte para alguém sobre isso. – ele falou bruscamente.
- Eu não vou contar a ninguém! – respondi indignada.
- Ótimo. Obrigado por devolver o livro, pode voltar pro seu lugar agora.
Eu fiquei paralisada por um momento depois voltei para o meu lugar e fiquei lá. Como eu era egoísta! Só havia pensado em mim e não pensei na situação dele e do menino, Esmond.

domingo, 26 de julho de 2009

Capitulo 3 - Hora difícil

Quando eu cheguei em casa – depois de demorados minutos no ponto de ônibus – a primeira coisa que eu fiz foi sentar no sofá, pegar o livro na minha mochila e ler novamente a carta. Fiquei alguns minutos nisso e resolvi parar, por mais que eu quisesse uma resposta para as minhas perguntas, eu não ia encontrá-las lendo e relendo a carta. Eu teria de perguntar ao Josh. Um leve tremor passou por mim quando lembrei que teria de falar com ele, falar que eu li uma carta destinada a ele, carta essa que ele não me deu permissão de ler. Como será que o Josh reagiria a isso? Ótimo, acabo de formular mais uma pergunta!
Levantei do sofá, a carta e o livro ainda em minhas mãos, e fui ao meu quarto. Joguei tudo em cima da cama – livro, carta e mochila - e resolvi tomar um banho para espairecer, peguei tudo o que eu precisava, olhei novamente para o livro e a carta que estavam em cima da cama e fui ao banheiro.
Passei uns bons minutos lá e fui á cozinha. Olhei meu relógio, três da tarde, eu sorri, felizmente hoje eu não iria trabalhar, preparei alguma coisa para eu comer, quando terminei lavei os pratos e fui novamente para o meu quarto. Sentei na cama pensando no que fazer e comecei a me perguntar o que eu diria ao Josh amanhã. Eu diria logo, na lata, que tinha encontrado o livro e lido a carta? Será que eu diria que tinha lido a carta? Mas, se eu disse que não tinha lido, ele iria perguntar como eu sabia que o livro era dele. E se eu só deixasse o livro na cadeira dele e saísse correndo? Ou botasse escondido na mochila dele? Mas se eu colocasse escondido, como eu iria encontrar as respostas para as minhas perguntas?
Me repreendi quando vi que estava fazendo mais questionamentos. Eu não queria pensar no que falar pro Josh amanhã então, estava precisando me distrair. Subitamente lembrei que tinha atividade de Inglês para fazer – o primeiro que um professor passa, é claro que só podia ser dela -, com sede de me distrair, imediatamente peguei o meu caderno e o livro e comecei a fazer a atividade me concentrando totalmente nessa ação. Infelizmente a atividade não era muito grande e em dez minutos terminei.
Olhei para o lado. A carta e o livro estavam lá.
Bom, eu não tinha nada para fazer, precisava desesperadamente me distrair, eu precisava de um livro, e tinha um bem na minha frente. Minhas mãos formigaram, peguei o livro, colocando a carta dentro dele e fui para o lugar onde eu mais gostava de ler: encostada na grande árvore do meu jardim.
Quando eu me encostei na árvore senti uma onda de paz e tranqüilidade, era ali que eu gostava de ficar, pensar, ler.
Eu fiquei por muito tempo encarando o livro, não era justo eu ler outra coisa que não me deram permissão. Tá certo que esse era um livro comum e que provavelmente eu encontraria em qualquer livraria que quisesse, mas mesmo assim, eu não podia cometer outro erro como esse. Resolvi ir guardar o livro para não cair na tentação de lê-lo novamente. Quando eu ia subindo as escadas o telefone tocou, desci correndo e atendi. Era Andressa, claro.
- Oi Lê!
- Oi Déa... – respondi com a voz meio fraca.
- Tá tudo bem com você Lê? Sua voz tá diferente. – perguntou Andressa preocupada comigo.
Nesse momento hesitei, devia ou não contar a Andressa sobre o livro e a carta? Resolvi que era melhor guardar isso só pra mim. Pigarreei e respondi com a voz um pouco mais firme.
- Tou bem sim Déa, foi só que eu tava distraída.
- Ah, bom, se foi só isso, vamos ao que interessa o Josh!
Ótimo, agora eu ia ter que falar sobre a pessoa que com certeza me odiaria quando descobrisse que eu li a carta destinada a ele. Pensei comigo mesma “Força Letícia, encare essa!“.
- Umm.... claro.
Foram longos e dolorosos 10 minutos falando sobre como ele era lindo, da reação da galera da sala, do nome dele e eu tive que fingir que estava bem. Na verdade, esses 10 minutos me deram mais medo sobre o que eu teria de dizer á ele. Como chegar em um menino lindo de morrer e dizer que li uma carta que o melhor amigo sumido dele deixou? Queria muito perguntar isso a Andressa, mas não tinha coragem.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Aconteceram muitas coisas ao mesmo tempo. Andressa imediatamente apertou meu braço com as mãos e murmurou.
- É ele!
Depois disso foi uma sucessão de suspiros e exclamações pela sala, houve barulho de vários lápis caindo. A professora fingiu que não ouviu e continuou a chamada.
- Letícia Fontes.
Eu estava tão impressionada que não ouvi a professora me chamar.
- Letícia Fontes!
Andressa me deu um cutucão e me passou um bilhete.
- P-presente! – reclamei comigo mesmo por ter gaguejado, torci para ninguém ter reparado. A professora continuou a chamada “Mariana Prado”. Olhei o papelzinho que Andressa passou para mim.

Josh Steven!!! Isso é nome estrangeiro! Será que ele veio dos Estados Unidos?

Revirei meus olhos, isso era meio óbvio para se perguntar mas levei em consideração o fato dela estar impressionada – assim como eu.

Bom, pelo nome é sim né!

Passei o papelzinho pra ela. Depois de um momento ela me devolveu.

Já é lindo, tem um nome lindo, uma voz linda, aiaiai.... você ouviu os suspiros e as coisas caindo?!

Só balancei minha cabeça afirmativamente e fiz sinal para ela apontando para a professora, a aula já iria começar. Ela fez que sim com a cabeça e voltou a prestar atenção na aula.
Dessa vez o tempo demorou a passar, isso era estranho, geralmente a aula de Inglês era a mais rápida de passar.
Finalmente, o sinal tocou e todos levantaram para ir embora. Eu demorei um pouco tentando colocar um caderno teimoso na mochila. Andressa e Ian se despediram de mim e eu murmurei um “até logo” para eles. Quando finalmente consegui colocar o caderno na mochila, percebi que não tinha mais ninguém em sala. Suspirei, com certeza iria perder meu ônibus. Já estava saindo da sala quando vi um livro verde no chão. Na capa, destacado em vermelho “Peter Pan“ e logo acima de preto, o autor “J. M. Barrie“.
Abaixei e peguei o livro, percebi que havia o desenho de um menino bem sapeca na capa, um navio ao fundo, e uma sombra que parecia ser de uma fada. Com certeza um livro que chamava atenção e dava vontade de ler. Apesar de ser um livro muito comum de se ler e que já tinha um filme – que eu já havia assistido -, eu nunca tinha lido ele, um milagre, já que eu leio muito.
Abri o livro para ver se tinha o nome do dono e lá estava escrito.

Esse livro pertence ao futuro Peter Pan, curioso para saber meu nome? Pois bem, lá vai... EU! Peter Pan Júnior.

Tá, com certeza esse livro era de algum sonhador, mas o que estava escrito lá não me ajudava a achar o dono, então sentei em uma cadeira e comecei a folhear o livro, até que eu encontrei um papel dentro dele, parecia uma carta. Eu pensei se deveria abrir ou não, isso era uma completa falta de privacidade e com certeza eu não iria querer que lessem uma carta minha, mas por outro lado, o que quer que estivesse escrito lá poderia me ajudar a saber quem era o dono do livro.
Me segurando no pensamento de que eu queria saber quem era o dono do livro e não que eu estava curiosa, abri o papel e comecei a ler.

Josh,
Eu ia embora sem falar nada, mas resolvi dar uma espécie de explicação para você e algumas - por falta de palavra melhor - recomendações. Aconteceu alguma coisa estranha comigo cara, eu não disse nada antes e não posso dizer ao certo agora, mas saiba que eu estou bem apesar disso. Eu não estou doido – apesar de ser um pouco as vezes, você sabe -, eu não estou magoado ou chateado com ninguém, só preciso de um tempo para mim.
Com certeza você vai sentir minha falta, você não vive sem meus conselhos e sem minhas dicas de paquera, mas pode ter certeza assim que eu conseguir controlar que eu vou voltar - e espero que muito em breve – para fazer aquelas apostas com você e com certeza te explicar tudo.
Não fique triste comigo, não deixe a nossa querida mãezinha ficar triste também.
Olha, como prova de que eu vou voltar vou deixar o meu livro do Peter Pan – da nossa infância, lembra? – na sua mão - é EMPRESTADO, ou seja, não risque nem faça maldades com ele, ele é muito importante para mim! – para depois, quando eu voltar, você me devolver.

Vou ficar com muitas saudades suas cara!
Do seu melhor amigo e irmão,
Esmond.

Obs: Eu falei sério, toma conta do livro!

Mesmo terminada a carta, eu não conseguia parar de olhar para ela. Várias perguntas começaram a surgir na minha cabeça. Quem era Esmond? Por que ele foi embora? Qual era o problema que ele tinha? Por que ser tão pegado a esse livro?
Apesar de ter muitas perguntas, eu já tinha a resposta da primeira pergunta que eu fiz assim que vi o livro. Não tinha mais dúvidas, o livro era do aluno novo que arrancou suspiros de todas as garotas, Josh.

Nota da autora: na parte da carta á um grande espaço entre uma palavra e outra, se você selecionar essa parte vai ver que tem uma coisa escrita. Isso na verdade é como se o Esmond tivesse começado a escrever algo mas tenha apagado (como quem escreveu demais), escrevendo outra coisa depois.
Espero que estejam gostando da história, beijos!