quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Nós duas rimos ao mesmo tempo.
- Tá bom filha, eu exagerei agora, mas que ele merece uns tapas... merece mesmo viu!
- Mãe, - suspirei – acho que a culpada sou eu, pra começar eu não devia ter lido aquela carta...
- Não devia mas leu filha – minha mãe interrompeu – e isso é normal, não se culpe por isso. Se a curiosidade fosse algo tão grave assim não existiria mais ninguém no mundo. E a reação dele foi muito impulsiva, com certeza ele deve estar se culpando por ter falado tão grosseiramente com você, e se não tiver, depois eu me entendo com ele ou eu não me chamo Miriam Fontes!
Balancei minha cabeça, minha mãe era tão impulsiva! Ela continuou murmurando alguma coisa, suspirei.
- Mãe, para de ser assim e me dá logo um conselho!
Ela olhou pra mim um pouco confusa, mas depois sorriu.
- Ah, sim filha! Eu acho que você deve esperar, o tempo é o melhor remédio, cura qualquer coisa. Você vai ver, as coisas vão se resolver... até lá, pare de se martirizar por isso tá bem?!
Dei um meio sorriso e ela me abraçou. Abraço de mãe é a melhor coisa do mundo, no mesmo instante me senti melhor, não só pelo abraço mas também pelo fato dela estar certa, o tempo vai cuidar de tudo.
- Obrigada mãe, agora deixa eu ir ligar pra Déa, ela já deve estar tendo gatinhos de preocupação! – disse levantando da cama, um pouco tonta, tinha ficado muito tempo na cama. – Mãe, que horas são?
- São nove e meia filha...
- NOVE E MEIA!!! Meu Deus, dormi muito!
- Sim, você dormiu muito, e se quiser um conselho de mãe, vai tomar um banho antes de ligar para Andressa filha, você tá um caco!
Imediatamente segui o conselho de minha mãe e fui tomar um banho quente.

sábado, 15 de agosto de 2009

Capitulo 4 - Conversa

Quando cheguei em casa após a escola – dessa vez pegando o ônibus do horário – eu pude deixar a tristeza tomar conta de mim. Subi correndo as escadas e me joguei na cama.
Os meus temores estavam certos, eu tinha feito algo errado, tinha que pagar por aquilo e esse era só um dos erros que eu havia cometido. O Josh teve uma reação estranha , mas pelo que Cristian disse, ele estava com tristeza nos olhos, com uma expressão de dor, com certeza pela raiva que estava sentindo por eu ter lido a carta e depois disso eu ainda magoei a Andressa por não ter coragem suficiente para contar a ela sobre o que eu estava sentindo. Eu era uma egoísta sem limites, não consegui conter as lágrimas, elas agora caiam como cachoeira sob os meus olhos, entorpecida pela dor acabei adormecendo.

Quando acordei demorei um momento para me situar, pra saber por que eu me sentia tão estranha, esgotada e saber também por que eu tinha acordado. Abri os olhos, minha mãe estava sentada no pé da minha cama com uma expressão preocupada. Ela tinha cabelos pretos e longos presos em um rabo de cavalo, usava um vestido floral simples, sinal de que fazia já algum tempo que ela havia chegado do trabalho. Ela era tão linda, sempre quando nós passeávamos juntas perguntavam se ela era minha irmã, de jeito nenhum ela aparentava a idade que tinha. Nossa relação era mais de amigas do que de mãe e filha, não escondíamos nada uma da outra e sempre quando uma estava mal, a outra sempre sentia.
- Mãe! Que bom, a senhora já chegou!
Sentei na cama e a abracei, ela retribuiu o abraço calorosamente.
- Oi filha! Aconteceu alguma coisa?
Tá, por que ela tinha que fazer essa pergunta? Eu não podia esconder o que aconteceu no colégio dela, - eu nunca consigo – e mesmo se eu conseguisse e não dissesse, ela iria descobrir de qualquer jeito, ela sempre descobre...
Olhei para a janela para disfarçar e me distraí. Estava tudo escuro, já era noite. Meus olhos cresceram enquanto eu assimilava que havia perdido a tarde inteira, será que agora tudo de ruim ia acontecer comigo?
- Ai não, já é noite! Eu perdi a tarde inteira – me lembrei de algo mais grave – O trabalho!! A Grace vai me matar...
- Calma filha – minha mãe falou segurando meus ombros – relaxe, respire!
Fiz o que ela mandou.
- Olha, quando cheguei, a secretária eletrônica estava cheia de mensagens, a maioria delas da sua amiga Andressa – revirei meus olhos, mas claro que era Andressa! – mas, tinha uma também da sua chefa. Eu fiquei preocupada, procurei por você e te achei dormindo. Eu liguei para as duas, já está tudo resolvido, Andressa falou pra você ligar para ela depois e tive que dizer para sua chefa que você estava doente. Agora, quero que você me diga: O que aconteceu?
Droga, será que eu realmente não ia conseguir esconder nada de minha mãe? Resolvi fazer uma tentativa frustrada.
- Não aconteceu nada mãe...
Minha mãe suspirou.
- Letícia, acho que você esqueceu que sou sua mãe, eu sei que não está tudo bem. Você não confia mais em mim?
- Não mãe, não é isso é que... eu não sei se posso dizer.
Essa parte era verdade, o Josh – tremi quando pensei nesse nome – além de não ter gostado nem um pouco de eu ter lido a carta dele, disse para eu não contar pra ninguém. Mas, minha mãe não era ninguém, era minha mãe, minha melhor amiga, e eu precisava desabafar com alguém.
Com um suspiro contei tudo para ela, desde quando eu achei o livro, até a reação estranha do Josh e de como eu era egoísta.
- Filha – minha mãe falou me abraçando – você não é egoísta, a sua reação de pensar no que dizer para ele é normal! Até ele mesmo pensaria nisso. Agora, - ela falou, agora olhando para mim – que menino idiota, tratando você desse jeito! Olha só como você tá agora? - ela continuou se alterando – eu devia ir lá e dar uns tapas nele e ensinar como se deve tratar uma pessoa!
- Calma mãe, - falei segurando os ombros dela - relaxe, respire!
Ela fez o que eu mandei.

domingo, 2 de agosto de 2009

Depois de um tempo as pessoas começaram a chegar, inclusive Andressa, quando ela me viu percebeu que havia algo errado.
- Lê, aconteceu alguma coisa? - ela perguntou, sua preocupação evidente.
- Não Déa, tá tudo bem – respondi com a voz fraca, eu não tinha coragem de dizer a ela o quanto eu era egoísta, o mal que eu tinha feito.
- Não, não tá Lê, o que aconteceu?, desde ontem, no telefone, que eu percebi que você tá assim...
- Nada, eu já disse, é só uma dor de cabeça – respondi.
- Então tá, se você não quer falar, não sou eu quem vai te obrigar. – ela falou chateada.
Cristian chegou nessa hora.
- O que tá acontecendo aqui?...Lê você tá com a cara péssima!
Andressa jogou um olhar de censura para ele.
- Que grande descoberta!
Com certeza eles ainda estavam brigados, já tinha esquecido até disso com o meu egoísmo.
- Desculpe, só queria saber o que está acontecendo! – Cristian se defendeu.
- Você ajuda se calar a boca Cristian, não vê que ela não quer falar? – Andressa falou mal humorada.
Cristian revirou os olhos e foi sentar na sua cadeira. Eu continuei na minha, quieta e calada. Percebi que Andressa estava doida para falar comigo, mas ainda estava chateada por eu não ter dito o porquê de estar com “a cara péssima”, eu também não queria falar com ninguém, eu não tinha o que falar. Eu tive de me esforçar muito para não olhar para trás e ver como o Josh estava, com certeza ainda com raiva de mim.
A hora do intervalo chegou e eu, Cristian e Andressa andamos um ao lado do outro calados. Sentamos na nossa mesa de sempre – ninguém quis comer nada – e ficamos um olhando para cara do outro. Cristian quebrou o gelo.
- Gente o que tá acontecendo?
Eu e Andressa nos olhamos, ela virou o rosto e fez biquinho. Eu tinha que fazer as pazes com ela e parar de deixar os outros ficarem tristes por minha causa, então comecei.
- A culpa foi minha Ian, é que eu tou com uma dor de cabeça chata e...
- Não, você não tá com dor de cabeça Letícia, eu te conheço! – Andressa interrompeu.
Olhei para minhas mãos sobre a mesa, queria muito contar a ela o que estava acontecendo, mas eu não podia, não tinha coragem suficiente.
- Déa, eu juro que é só uma dor de cabeça...
Ela me interrompeu novamente – era incrível como hoje todo mundo não queria me deixar falar.
- Ai, tá bom Lê, você não quer falar, eu respeito isso! Me desculpe por ter ficado chateada, você tem o direito de guardar pra você mesma o que quer que seja e se quiser compartilhar, pode contar comigo.
- Me desculpe Déa, mas eu realmente..., eu sei que posso contar com você, você é a minha melhor amiga! – falei.
- Ah Lê – ela falou sorrindo – você sabe que é a minha BFF, Best Friend Forever!
Eu não pude deixar de sorrir também
Cristian pigarreou alto. Eu sorri para ele.
- Ai Ian, você também é meu melhor amigo, sabe disso!
- Obrigado Lê, você é minha melhor amiga também!
Nós dois olhamos para a Andressa, ela devolveu o olhar como quem diz “eu não tenho nada a ver com isso”.
- O que? Por que vocês tão me olhando?
- Nada não Déa... – falei. Cristian não disse nada.
- Mudando de assunto Lê, você viu o Josh? – Droga, porque ela tinha de falar nele? – ele tava tão esquisito...
- Esquisito como? – me interessei. Eu precisava saber como ele ficou depois da nossa conversa já que se eu olhasse muito pra ele durante aula, com certeza a Déa iria perceber.
- Ele parecia triste. – eu e Andressa olhamos para o Cristian assustadas, era a primeira vez que ele falava do Josh.
– Eu não sei... as vezes a expressão dele mudava, como se ele sentisse dor por algo, arrependimento. – ele riu – com certeza esse cara é esquisito. Ele olhou muito pra você Lê.
Eu prendi a minha respiração.
O sinal tocou e nós fomos para sala – eu ainda me sentindo péssima -, quando nós entramos, Josh já estava lá. As últimas aulas passaram rapidamente, quando o sinal tocou, ele foi o primeiro a sair.

sábado, 1 de agosto de 2009

Quando desliguei o telefone fiquei aliviada por não ter mais que falar dele, mas agora teria que pensar nele. Bom, não se eu pudesse evitar, eu não queria pensar no que falar pra ele agora. Subi correndo pro meu quarto, liguei o meu som, coloquei um CD da Green Day e coloquei no último volume. Liguei o computar e fui fazer qualquer coisa que me distraísse, encontrei um jogo e fiquei nele até o conseguir ir ao último nível. Olhei o relógio, eram sete da noite, resolvi dormir cedo, quem sabe algum sonho meu me desse uma luz?
Desliguei o som e o computador, tomei um banho rápido e fui deitar.
Não consegui dormir direito, pude até ouvir quando minha mãe chegou, seus passos pela casa. Quando ela veio me ver eu fingi que estava dormindo, queria muito compartilhar minha angustia, mas não queria deixá-la preocupada.
Consegui dormir por algumas horas, quando o despertador tocou demorei um pouco para lembrar porque eu estava com tanto sono ainda e porque estava tão angustiada. Quando consegui me lembrar não tive coragem de levantar da cama.
- Mas o que é isso Letícia? – falei comigo mesma – Você, sempre uma menina tão forte, com medo do que um garoto vai pensar de você?
Suspirei, tomei coragem e levantei. Como sempre, minha mãe já havia saído.
Cheguei mais cedo do que eu esperava na escola, antes de abrir a porta da sala tive que tomar fôlego, minhas pernas não queriam me obedecer, e se ele já tivesse chegado?“ Vai ser ótimo, assim você acaba logo com isso!” pensei. Quando abri a porta suspirei de alívio, ele ainda não tinha chegado, não só ele, mas ninguém.
Fui direto pra minha cadeira e sentei lá, mas meu alívio durou pouco, 5 minutos depois ele entrou na sala. Sentou no lugar de sempre, no fundo. “É agora Letícia” pensei “ tem que aproveitar enquanto não tem ninguém na sala, com certeza ele vai te agradecer por ter devolvido o livro, não tenha medo”. Tomei fôlego, peguei o livro e fui andando em direção a ele.
- Er... oi! – falei com a voz fraca.
Ele olhou assustado para mim, seus olhos eram de um castanho claro intenso. Esses mesmos olhos que olharam para mim com surpresa, quando viram o livro na minha mão ficaram brilhantes.
- Ah, sim, encontrei esse livro ontem. Acho que é seu! – falei entregando o livro para ele.
- Nossa! – ele exclamou sorrindo, um sorriso lindo por sinal. – Eu achei que não iria encontrá-lo mas...
Ele olhou para mim, mas não mais havia um sorriso no seu rosto e os seus olhos estavam frios.
- Como você sabia que era meu? Não tem o meu nome nele...
Eu não consegui falar, ainda estava em choque com a sua mudança de emoções.
- Você leu não foi? – ele perguntou asperamente. Consegui recuperar um pouco da minha voz e comecei.
- Eu só...
- Sabia que é muito feio ler a carta dos outros sem permissão? – ele perguntou com a voz fria.
Eu corei – graças a Deus por eu ter a pele escura - e respirei fundo, sabia que isso ia acontecer.
- Sim mas...
- Se você sabia disso, porque leu então?
Eu já estava começando a ficar irritada, por mais que eu estivesse errada, será que ele não iria me deixar falar?
- Eu só li porque...
- Você não tinha esse direito.
Nessa hora perdi a minha paciência.
- Cara, você vai me deixar falar ou não?
- Falar o que? Que você está errada? Que tá com pena depois do que leu? – ele perguntou sem emoção.
Depois disso eu vacilei, em nenhum momento eu me preocupei em sentir pena dele ou de alguém, mas sim no que eu iria dizer a ele por ter lido a carta, na reação que ele teria quando eu dissesse... Tecnicamente, eu só havia pensado em mim, nos meus problemas.
- Eu não...
- Quer saber garota? Só peço que você não conte para alguém sobre isso. – ele falou bruscamente.
- Eu não vou contar a ninguém! – respondi indignada.
- Ótimo. Obrigado por devolver o livro, pode voltar pro seu lugar agora.
Eu fiquei paralisada por um momento depois voltei para o meu lugar e fiquei lá. Como eu era egoísta! Só havia pensado em mim e não pensei na situação dele e do menino, Esmond.