sábado, 23 de janeiro de 2010

Capitulo 15 - Inesperado.

No outro dia, a minha mãe também estava feliz. Antes de entrar na cozinha eu suspirei e pensei: “Está tudo bem Letícia, ela esta feliz! Fique feliz também!”.
O resto do dia passou-se normalmente, e dessa vez eu não esperei a noite para ver se a minha mãe viria de carona ou não. Eu tinha pensado realmente no assunto e concluí que não importava, desde que ela estivesse feliz. E se ela quisesse me contar, ela contaria. Se ela não tinha me contado ainda, era porque não tinha chegado à hora de contar.
Acordei cedo no outro dia, quinta-feira, e deu tempo de tomar café com minha mãe – que continuava feliz.
- Milagre! Não acredito que você vai tomar um café descente comigo filha!
- É como eu digo... peça por um milagre, que ele acaba acontecendo.
Nós duas rimos e tomamos um café tranqüilo e, por sinal, muito gostoso. Me entupi de suco de laranja e torrada.
Depois de ter enchido bastante o meu estômago, dei um beijo em minha mãe e saí.
Quando eu cheguei ao colégio a Andressa já havia chegado e veio correndo falar comigo, eu ainda estava na porta da sala.
- Lê! Eu vou te dar carona de novo tá?
Essa eu não tinha entendido. Normal.
- Carona? Pra quê?
Ela estreitou os olhos e olhou para mim pra ver se eu não estava brincando. Quando ela viu que a minha expressão de desentendimento era pura verdade, ela falou:
- Pra casa do Josh! Esqueceu? Hoje é o ensaio!
Minha boca se abriu em um grande “O” de compreensão. Por causa da minha preocupação com a minha mãe, eu tinha esquecido total e completamente do ensaio na casa do Josh.
- E então, – Andressa insistiu – eu vou te buscar tá?
Acordei do meu “transe” e respondi:
- Claro Déa. Que horas?
Ela pensou um pouco antes de responder.
- Acho que uma e meia tá bom né?
- Tá bom.... – comecei - Não! – falei rapidamente depois.
- Por que?!!!
- Por que eu chego em casa uma e vinte. Até eu almoçar, tomar banho e me arrumar vai demorar um pouco, e depois você vai ficar reclamando que eu nunca fico pronta na hora!
- Nossa é mesmo.... maldito busu esse seu que demora viu! Acho que vou comprar um carro pra você! – ela falou indignada. Eu tive que rir.
- Para quem dirigir cara pálida? Eu ainda não posso!
- Sei lá! Você contrata um motorista... só sei que assim não dá.
Ela tinha razão, ter que esperar um ônibus que geralmente vem lotado e ficar quase uma hora em pé esperando chegar o lugar em que você vai descer, realmente, ninguém merece!
- Olha Déa. Pode deixar, eu fico aqui no colégio e depois eu vou pra lá.
- E você vai comer o quê? – ela perguntou preocupada.
- Alguma coisa da cantina, não se preocupe.
- Isso não é nada saudável! – ela disse.
- Fala sério Déa! Eu sei disso! – “ainda bem que eu me empanturrei no café da manhã”, pensei – Mas, uma vez na vida não deve trazer muitos problemas.
- E você vai saber como ir? – ela não desistiu.
Eu diria: “Claro que não vou saber!” Mas, ao invés disso, falei:
- Vou sim, vou tentar.
Ela estreitou os olhos mais uma vez e foi para a carteira dela. Aproveitei para ir para a minha também, eu não queria ficar parada feito uma estátua bem na porta da sala.
Alguns segundos depois o Josh entrou e nos viu sentadas.
- Bom dia garotas! – ele falou sorridente. Ai, esse sorriso...
- Bom dia Josh! – Andressa falou sorrindo. Eu só consegui murmurar um “oi”, ainda estava hipnotizada pelo sorriso.
O Cristian chegou logo depois, o professor João Paulo também, e a aula de Matemática começou.
Andressa me passou um papelzinho com o endereço do Josh e escreveu no final:

Pra você não se perder!

Se fosse há algum tempo atrás, eu realmente não iria aceitar esse papelzinho, porque a coisa que eu mais gostaria de fazer era me perder para não precisar ir à casa do Josh. Mas agora, nós já éramos quase amigos, e esse negócio de me sentir sem graça já era quase infantil, afinal, ele se já tinha me desculpado não, e eu já tinha desculpado ele também, e agente já conversava mais do que antes, então porque eu ainda me sentia assim? Não existia nem motivos para isso!
Além do mais, eu não ia cometer nenhum crime federal lá, só ia ensaiar um trabalho do colégio e depois pronto!
Fui interrompida dos meus pensamentos por um papel de caderno que escorregou na minha carteira. Eu não sabia de quem era. Peguei esse papel e reconheci a letra caprichada que há algum tempo atrás tinha escrito uma frase muito idiota: “Você vai me pedir desculpas”. O pedaço de papel era do Josh. Me entupi de curiosidade e comecei a ler.

Eu ouvi você conversar com a Déa. Vai querer uma carona?

Como assim ele tinha ouvido eu conversar com a Déa? Ah, mas é claro! Ele deveria ter escutado tudo atrás da porta, por isso ele chegou segundos depois de eu e a Déa termos saído de lá. Eu sorri, então, ele estava ouvindo atrás da porta não é?

Sabia que ouvir atrás da porta é falta de educação?

Quando ele leu sorriu e se pôs a escrever. Ele me passou o papel novamente.

Tá certo, eu mereci essa.

Com certeza! Devolvi.

Mas é sério!, ele escreveu, Eu também vou ficar na escola depois da aula, se você quiser uma carona até a minha casa... tem lugar disponível.

Eu pensei por um momento. Carona, novamente, com o Josh, para a casa dele. Essa era uma cena que eu realmente nunca tinha imaginado. Mas espera um segundo. Por que ele ia ficar no colégio hoje?

Você vai ficar no colégio? Pra quê?

Passei o papelzinho para ele. Ele leu, escreveu e já ia passar o papelzinho novamente para mim quando percebeu que o professor estava olhando.
Ele estava tendo uma crise de raiva, já estava quase chorando, porque todos estavam conversando enquanto ele dava uma aula super importantíssima. Eu realmente não tinha percebido conversa nenhuma, nem que ele estava dando aula, na verdade, eu tinha quase esquecido que eu estava no colégio. Quase.
O Josh olhou para mim murmurou: “depois”. Eu voltei a prestar atenção no professor que estava muito chateado, a aula dele continuou depois em um clima muito pesado.
Depois disso, só conseguimos nos falar na hora do intervalo. Assim que o sinal tocou, ele veio andando ao meu lado em direção a cantina.
- Você é muito curiosa. – ele acusou.
- Como assim? O que eu fiz? – perguntei me defendendo de uma acusação infundada.
- Você quer saber por quê eu vou ficar na escola hoje.
Na mesma hora eu corei. A acusação tinha um certo fundamento.
- I-Isso.. não é... curiosidade. – gaguejei – Foi só uma pergunta, você responde se quiser.
Ele olhou para mim e sorriu. Ai, esse sorriso... “foco Letícia, foco” pensei.
- Tá bom, então eu vou responder. Eu tenho que estudar. Vou ficar na biblioteca.
Essa resposta não fez sentido.
- Mas você tem uma biblioteca em casa! – falei.
- É, mas... o assunto que eu vou estudar não tem em nenhum livro da biblioteca da minha casa. – ele disse rapidamente.
- E que assunto é? – perguntei.
- Lê, você é muito, muito curiosa.
Me irritei.
- Tá bem, não precisa responder!
Ele só sorriu quando viu que eu estava irritada e falou.
- Não se preocupe, eu não vou te incomodar, vou deixar você fazer o seu “lanche-almoço” – ele disse fazendo um movimento de aspas com as mãos - sozinha.
Na verdade verdadeira, eu não queria “lanchar-almoçar” sozinha, mas não deixei transparecer a minha vontade.
- Certo, mas na hora de ir, você me chama!
- Você vai aceitar a minha carona? – ele perguntou com um brilho nos olhos.
- Acho que sim... se não for incomodar.
- Hum... claro que não! Legal então. – ele falou simplesmente. – Eu te chamo. (N/a: olha, foi sem querer, mas se você tirar o “ch” dessa última palavra, vai ver que dá para formar outra frase bem significativa).
Pela primeira vez desde que começamos a conversar eu percebi que estávamos parados no meio da cantina conversando. Eu olhei em volta e localizei a Andressa e o Cristian na nossa mesa de costume. Fui até lá com o Josh.
- Olá casal... digo, pessoal! – Andressa nos saudou.
Dei um olhar mortal para ela e rebati olhando dela para o Cristian:
- Olá par perfeito... digo, meus amigos perfeitos! – falei.
- Tudo bem... já chega de “olás”! – Cristian disse sem emoção. Ele estava assim desde a briga com a Déa. Eu iria conversar com ele depois.
Eu e o Josh nos sentamos e nós quatro ficamos conversando pelo resto do intervalo.
As outras aulas se arrastaram e finalmente o sinal que marca o fim das aulas do dia tocou. Andressa me puxou para um canto da sala.
- Lê, tem certeza que você vai conseguir chegar lá? Eu tô preocupada... – ela me falou aflita.
- Claro que sim Déa! – falei sem pensar – eu vou pegar carona com... – parei abruptamente percebendo que eu estava falando demais. Se a Andressa descobrisse que eu iria de carona com o Josh, não ia mais largar do meu pé e faria milhares, ou talvez milhões, de perguntas. É claro que isso era inevitável, mas quanto mais eu pudesse adiar isso, seria o melhor.
- Pegar carona com quem? – ela me perguntou, curiosa como sempre!
- Com... – “pensa Letícia” – com o motorista do ônibus... ele é meu amigo, vai me deixar exatamente no endereço. E com certeza não vai me cobrar nada. – essa desculpa não foi nada legal, mas Andressa caiu nela.
- Hum, então tá bom! Te vejo lá! – ela disse me dando um abraço.
- Claro! – retribuí o abraço.
- Tchauzinho! E me liga se precisar viu! – ela falou já saindo da sala.
- Tá bom!
Almocei sozinha, ou melhor, lanchei sozinha, e depois fiquei sem saber o que fazer. Lembrei que eu tinha trazido meu walkman e um livro. Claro que eu podia ler o livro, mas não podia ouvir o walkman na cantina! Imagina a situação: Uma garota no meio da cantina ouvindo alguma coisa em um objeto pré-histórico. Ia ser muito mico! Porque muitos alunos também ficaram no colégio. Se pelo menos tivesse só umas duas ou três pessoas...
Levantei da mesa onde eu estava e procurei um lugar mais reservado do colégio. Enquanto eu andava pelo colégio me perguntei o que o Josh estaria fazendo naquele momento. “Na certa, lendo na biblioteca” pensei. Então, eu não podia ir lá para ouvir música e ler, já que ele estaria lá. Mas, pensando bem, não tinha nada de mais eu ir à biblioteca, ou tinha? Ah, eu já estava ficando muito confusa!
O único lugar sossegado, que eu podia ir, e que não ia me deixar maluca, era a sala de aula. Que a essa hora não tinha ninguém.
Peguei meu objeto pré-histórico preferido e o livro que eu estava lendo – Crepúsculo – e comecei a ler escutando Decode de Paramore – o CD da Paramore ainda estava lá. Eu fiquei entretida no livro pensando em Edward Cullen quando alguém veio por trás de mim e me deu um susto.
- Bu!
- Aaaaah! – gritei.
Quando eu olhei, o Josh estava rindo atrás de mim. Quando meu coração parou de bater como uma locomotiva e se acalmou eu falei:
- Não faz isso.
- Tudo bem, desculpe me, mas eu não resisti. – ela falou ainda rindo.
Me limitei a esperar o acesso de riso dele passar. Ele viu minha expressão séria e parou de rir.
- Desculpe. – ele disse novamente – Já está na hora da gente ir.
- Então vamos! – falei ainda irritada guardando meu livro e o walkman na mochila.
- Você está chateada? – ele perguntou.
- Não! – falei bruscamente colocando a mochila nas costas.
Ele suspirou e saiu da sala, eu saí logo atrás dele. Enquanto caminhávamos em direção a porta de saída do colégio ele perguntou.
- Se eu contar uma piada você desfaz essa cara irritada e me desculpa?
Eu não respondi, eu ainda estava irritada.
- Tá bom, essa piada é muito séria e triste, mas ainda assim é uma piada. – ele parou na minha frente – olha pra mim.
Eu fui obrigada a olhar aqueles olhos castanhos claros lindos de morrer. Ele estava com uma expressão muito séria.
- Está preparada? – ele perguntou.
- Diz logo! – falei impacientemente.
- Tem certeza? – dessa vez ele levantou uma sobrancelha e pareceu Sherlock Holmes resolvendo um grande mistério. Só essa expressão já me dava vontade de rir.
- Fala!
- Depois não diga que eu não avisei!
- Tá!
- Lá vai....
Revirei meus olhos.
- Olha....! – ele disse em tom de aviso.
- Conta logo Josh!
- O elefante caiu na lama. – ele falou dramaticamente.
Eu não sei como, mas eu ri. A piada não era engraçada, mas toda a situação que ele tinha criado para contá-la, foi demais para mim.
- Agora sim – ele disse – um sorriso!
- Tá bom! Eu te desculpo! – falei – Vamos logo!
- Vamos!
Finalmente chegamos no estacionamento. O Citroen c3 cinza já estava lá com o motorista dele, Marcelo.
- Oi Marcelo! – o Josh falou depois que entramos.
- Olá Senhor Steven! – o motorista respondeu com uma voz grossa.
- Pode acreditar, eu já tentei fazer com que ele parasse de me chamar assim, mas não consegui. – o Josh cochichou para mim.
Depois disso, nós não nos falamos por um tempo e, sentada no carro do Josh, ao lado do Josh, indo para a casa do Josh, me fez lembrar novamente a carta que eu li do Josh e de um fato que eu deveria ter pensado mais a muito tempo atrás: o irmão do Josh. Qual era mesmo o nome dele... eu não conseguia lembrar, já fazia um certo tempo, mas eu tinha certeza que começava com a letra “E”. Por que será que ele foi embora? Quem, em sã consciência, iria deixar para trás a família? Por mais dificuldades que existissem, não era necessário chegar a essa proporção: sair de casa!
Mas o que eu estava pensando? Eu não sabia o motivo real de ele ter ido embora! Era melhor eu parar de pensar nisso para eu não tirar conclusões muito precipitadas. Para tentar mudar de assunto eu desviei o olhar da janela do carro e olhei para o Josh. Ele parecia preocupado. Por um momento nossos olhos se encontraram e então ele falou meio apreensivo:
- Lê, tem uma coisa que eu queria te explicar faz um tempo.
- Explicar? – perguntei não entendendo. – O quê?
- Sobre a carta do Esmond.
O quê? O Josh lia mentes, igual ao Edward Cullen de Crepúsculo?
- Você não tem que me explicar nada! – me apressei em dizer.
- É, eu não tenho... Mas você é a minha... - ele hesitou -...amiga, ou não? – ele disse com os seus olhos castanhos sobre mim.
- Eu... sou. – “Acho”, acrescentei em mente.
- Então eu posso falar dos meus problemas e da minha vida para a minha amiga não posso?
- Pode.
- Então, eu vou te contar tudo tá bom?
- Tá bom. – eu estava parecendo uma criança muito educada que obedece aos pais.
- Eu vou contar quem é o Esmond Williams.
Ele parou por um momento e então falou.
- O Esmond passou a morar lá em casa quando eu e ele tínhamos 7 anos, mas antes disso nós já éramos amigos. Não, não somos irmãos de verdade como ele colocou na carta. – o Josh disse depois que viu a minha expressão, que já estava ficando constante, de desentendimento. – Mas nós nos consideramos irmãos, porque agente se conhece desde sempre sabe?
Eu não esbocei nenhuma reação, só conseguia prestar atenção no que ele dizia.
Ele continuou.
- Isso, é claro, porque os nossos pais eram amigos também. O meu pai e o pai dele trabalhavam no mesmo negócio. – ele suspirou – Mas, infelizmente, os pais do Esmond morreram em um acidente de avião. Robert e Kate Williams. O meu pai se sentiu culpado, porque na verdade, era para ele estar naquele avião, mas o Robert se ofereceu para ir no lugar dele, resolver uns negócios da empresa na Inglaterra. Como a Kate gostava muito de fazer compras, foi com ele para comprar algumas coisas em Londres... mas nunca chegamos a saber o que ela comprou lá.
“O Esmond sofreu muito. Eu nunca tinha visto ele chorar tanto quanto no dia que ele descobriu que os pais dele tinham morrido. No enterro ele surpreendeu a todos, não derramou nenhuma lágrima só ficou olhando, eu acho que ele já não tinha nem lágrimas para chorar. Então, meu pai e minha mãe resolveram ficar com ele, no início para recompensar a culpa, para que o Esmond não ficasse sozinho e fosse para um orfanato qualquer. Mas depois virou um amor de verdade, de pais e filho.”.
Ele sorriu.
- Confesso que fiquei com ciúmes, mas depois, eu me acostumei a tê-lo não só como amigo, mas como irmão. Só que aí, há três anos atrás... – o Josh engoliu seco – há três anos atrás, ele foi embora. Simplesmente foi, sem motivos, e só deixou a carta, e o livro. – ele olhou para mim.
- Eu... não sei o que dizer. – consegui falar.
- Eu sei. – ele deu um meio sorriso e depois suspirou mais uma vez. – Chegamos!
Eu olhei desviei o olhar para a janela do carro e vi que já havíamos passado pelo grande portão da entrada e estávamos parados bem em frente a casa. O Josh abriu a porta do carro, saiu e depois ficou segurando-a aberta para eu sair.
- Obrigada. – falei.
- De nada. – ele disse.
Nos dirigimos a grande porta de madeira, e o Josh tocou a campainha.

3 comentários:

  1. ehehehehehehe
    A mãe de Lê arranjou um Josh pra ela tbm....
    =D
    Muuuuito mara
    "Quem disse q felicidade tem idade??"

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  2. E eu tenho uma vaaaga impressão que essas caronas vao ficar muuuito mais frequentes...
    (que andressa ñ me escute)
    rsrsrsrs

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  3. Quem concorda com tudo que ela disse levanta a mão!
    o/

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