domingo, 28 de março de 2010

Capitulo 18 - Apresentação Parte I

Durante os dias que se seguiram, tudo continuou, por falta de palavra melhor, normalmente. Minha rotina se resumia a casa, escola, trabalho, ensaio e, arrecadação de dinheiro para a montagem do cenário da peça. Era uma atividade cansativa e frustrante, tentar vender doces na hora do intervalo era uma chatice, e nem sempre alguém queria comprar alguma coisa. Além do mais as outras equipes também estavam fazendo o mesmo, e a concorrência era muito forte. Devo confessar que tive um pouco de facilidade para vender, já que eu tinha prática em ser “vendedora”.
A parte mais chata dessa atividade era a Eloá, que corria atrás do Josh onde quer que ele fosse vender. Eu olhava a cena enojada, a Eloá era uma séria candidata a ser promovida a carrapato. O Josh também não parecia muito feliz com aquilo.
É claro que a minha carona para a casa do Josh agora era com a Andressa. Ela estava ligeiramente carente e estava precisando muito de mim, mesmo já estando melhor – pelo menos era o que ela dizia. A Andressa e Cristian agora só falavam o essencial um com o outro, e isso só porque eles estavam trabalhando juntos na parte de figurino.
A única coisa boa disso tudo era que a nossa peça estava ficando “fabulosa”, como Andressa gosta de dizer. Todos atuando muito bem, tudo indo às mil maravilhas... – é claro que tirando a parte do beijo, onde até o passarinho que cantava na janela sentia a tensão que vinha da Andressa -, mas eu tinha certeza de que agente ia mandar bem no dia da apresentação que, por falar nisso, estava chegando cada vez mais rápido. De repente, só faltavam dois dias para a apresentação. As salas dos segundos anos estavam em polvorosa, todos com expectativa.
- Lê, você sabe que hoje tem a prova de roupa lá na casa do Josh não é? – Andressa me perguntou enquanto estávamos sentadas na cantina no intervalo.
- Sei, e você também sabe que hoje é quarta-feira, e eu tenho trabalho. – falei.
- Ai Lê, por que você não manda a sua chefa ir ver se você está na esquina?! – ela perguntou.
- Eu mandei, mas ela não sabe o que é uma esquina. – Andressa riu da minha piada. – Déa, eu sei que parece que eu é que não quero ir, pareço uma líder desnaturada.
- É, parece mesmo... – ela disse.
- Poxa, valeu pelo apoio Déa!
- Estarei sempre aqui.
- Tá bom, eu sei que não sou uma líder desnaturada, é meu trabalho que atrapalha né.
- Não sei por que você não saiu dele ainda. – ela me disse.
- Pois é... nem eu... – falei olhando para a mesa. Mas na verdade eu sabia bem o porquê, se eu quisesse minha independência, teria que trabalhar pra conseguir...

O trabalho foi chato como sempre, traduzindo, Grace infernizando minha vida. Cheguei em casa morrendo de cansaço, e quando eu mal tinha acabado de vestir a roupa depois de um banho morno, ouvi a campainha tocar. Olhei da minha janela e vi um conhecido carro preto estacionado na frente da minha casa. Desci as escadas correndo enquanto a campainha nervosa continuava a tocar. Abri a porta sem surpresa nenhuma.
- Oi Déa.
- Oi Lê, até que enfim você abriu essa porta! – Andressa disse entrando e fechando a porta ao passar. Nesse momento percebi que ela estava com duas sacolas na mão.
- Déa, o que é isso?
- As roupas da peça ora! Se você não vai até elas, elas vêm até você! Vamos logo experimentá-las! – ela disse já subindo as escadas.
- Poxa Déa, eu fico feliz quando você fica tão à vontade na minha casa e começa a mandar em mim.... – eu disse olhando incrédula para ela que continuava subindo sem cerimônia.
- Eu também... sobe logo Letícia! – ela gritou de lá de cima.
- Sim senhora! – eu disse subindo as escadas.
Quando eu entrei no meu quarto, Andressa já estava tirando um vestido de uma das sacolas. O vestido azul parecia ser de seda, mas era bem simples e aparentemente leve, além, é claro, de ser lindo, com cortes perfeitos e alinhados. Parecia mesmo um vestido que as mulheres usavam na antiga idade média.
- Aqui, veste esse! – Andressa disse me dando o vestido, ele era realmente leve. - Eu escolhi o seu azul, o de Eloá verde, e o meu rosa. Esse vestido é o de Deusa... agora, experimenta logo vai!
Obedecendo a ordem de Andressa, eu troquei de roupa. A sensação daquele tecido passando na minha pele era gostosa, o vestido era leve e fresco. Me olhei no espelho. Eu não gostava muito de vestidos, mas tinha que admitir que aquele era perfeito. Se bem que, ainda assim, eu preferia um jeans ou um short, e uma camiseta.
Andressa olhou para mim com os olhos brilhando.
- Lê, tá perfeito! Não vai precisar mudar nada nesse, e azul combina com você... Agora, o vestido que você vai usar quando for Ifigênia, é mais simples porque na hora você vai estar sendo sacrificada, além do fato de Ifigênia não ser uma Deusa..., mas acho que vai ficar tão bonito quanto esse azul!
Andressa me passou um vestido branco parecido com o que eu estava usando, porém bem mais simples. Troquei de roupa com cuidado, estava morrendo de medo de rasgar o vestido de tão leve e frágil que era. Me olhei no espelho novamente, o vestido era lindo, mas bem mais simples, trazia a mesma sensação que o primeiro, leveza.
- Ai, Lê, não sei porque você não gosta de usar vestidos, fica tão bem neles...
- Déa, não comece! – Falei já trocando de roupa novamente e colocando a roupa que eu usava antes: short e camiseta.
- Não comece?! Eu já comecei, só que não quero continuar. – ela disse pegando os vestidos que eu havia jogado em cima da cama e guardando-os na sacola. – Porque agora é hora de experimentar outra coisa.
- O quê!? Ainda tem mais?! – exclamei.
- Sim senhora, ou você acha que vai apresentar descalça.
- Ah, é mesmo...
Andressa tirou um par de sandálias de couro da segunda sacola. Ela tinha longas tiras, também de couro.
- Você calça 37 né Lê?
- Aham...
- Sabia! Então experimenta aí.
As sandálias couberam perfeitamente no meu pé, eram bem confortáveis.
- Pronto! Serviço feito! Pode tirar. – Andressa disse.
Imediatamente tirei-as.
- Menina, você ficou bonita mesmo viu..., não mais do que eu, mas você ficou bonita. – Andressa disse agora guardando os sapatos.
Eu ri e sentei na cama.
- Sim convencida! Obrigada!
- Lê, - Andressa começou sentando ao meu lado – quando você e o Josh se casarem, promete que vou ser a madrinha?!
Senti meu sangue bubir diretamente para o meu rosto, mas devolvi.
- Claro! Se você deixar eu ser sua madrinha no seu casamento com o Ian!
- Tá bom. Parei de brincar. – ela disse fechando a cara. Aproveitei o momento e tentei aprofundar o assunto.
- Déa, por que você não assume logo de uma vez que é apaixonada pelo Ian?
- Letícia Fontes, me diz que nós não estamos tendo essa conversa! – ela disse levantando da cama e indo para a janela.
Suspirei.
- Déa, isso é ridículo...
- Tenho que ir, - ela me interrompeu - o motorista já está me esperando por muito tempo.
Ela pegou as sacolas e saiu do quarto. Eu fui atrás dela.
- Andressa Rios! Eu estou conversando com você! – falei.
- Depois agente conversa. Tenho que ir ao shopping! – ela disse descendo as escadas.
- Déa, por favor! – tentei, mas ela já estava abrindo a porta.
- Tchau Lê, até amanhã! – ela disse fechando a porta atrás de si.
Ótimo, pensei, recebi uma porta na cara, na minha casa, da minha melhor amiga cabeça dura!
Ouvi o barulho de um carro sendo ligado e depois o ouvi se afastar. Subi as escadas e fui estudar, História não era a única matéria que eu tinha. Depois de um tempo eu fui dormir.

No outro dia, dava para perceber que a atmosfera da sala estava eletrizada, todos na expectativa do dia seguinte, e todos muito nervosos. Claro que eu também tive minha cota de nervosismo, como líder do grupo, eu tinha que verificar se realmente estava tudo em ordem. Tirando alguns probleminhas com o cenário e o figurino, que estavam intimamente ligados ao dinheiro e, no último, a relação entre componentes do grupo, estava tudo certo.
É claro que eu não tinha comentado nada com a Andressa sobre ontem, e ela parecia nem lembrar que tinha ocorrido aquela quase conversa. Na hora da saída todos se reuniram no estacionamento para ir em grupo à casa do Josh.
- Bom, tem dois carros disponíveis, o do Josh e o da Déa. – eu comuniquei – Quatro pessoas em cada um dos carros. Quem vai com quem?
Na mesma hora todos começaram a falar ao mesmo tempo.
- Gente, pelo amor de Deus! Um de cada vez. – falei.
- Eu prefiro ir com o Josh – Eloá falou. Eu me segurei para não fingir que ia vomitar.
- Eu também vou com o Josh – Cristian falou.
- Eu vou com a Andressa! – Thiago falou.
- Eu também! – Fernando disse.
- E eu! – Cristiano acrescentou.
- E eu? – perguntei.
- É, e a Lê? – Andressa perguntou.
- Ela pode ir comigo – o Josh disse dando de ombros.
- Eu acho melhor algum dos meninos que vão com a Andressa trocar de lugar com ela. É claro que ela prefere ir com a amiga dela. – Eloá disse ironicamente. Quase perdi a paciência, mas antes que eu pudesse dar uma resposta bem elaborada Andressa falou.
- Thiago, será que você pode ir com o Josh?
- Tá bom... - ele disse meio triste.
- Então está resolvido! - Andressa falou indo em direção ao carro dela. O motorista já estava esperando com a porta aberta. Todos que iam de carona com ela a seguiram e então fomos para o último ensaio na casa do Josh.
O ensaio foi simplesmente perfeito, todos atuando como se a professora estivesse assistindo para dar a nota naquele momento. Passamos a peça mais uma vez e eu dei o ensaio como encerrado.
- Pronto pessoal! – falei para todos - O ensaio foi ótimo e tenho certeza que amanhã vai estar melhor ainda.
- Caracas man, estou muito nervoso! – Fernando falou.
- Só você? Não vejo a hora disso acabar logo! – Thiago falou pegando o celular e ligando para o pai dele que ia buscá-lo. Fernando, Eloá, Cristian, Cristiano e Andressa fizeram o mesmo. Vendo essa cena eu gostava mais ainda de ser independente e poder pegar logo meu ônibus sem ter que esperar por ninguém.
- Lê, você vai comigo né? – Andressa perguntou.
- Se você quiser me dá carona, pode ser! – falei dando de ombros.
- Como se eu não fosse fazer isso. – ela disse revirando os olhos.
Quando já estávamos no carro indo para minha casa, eu percebi que ela estava inquieta.
- Déa, o que foi? – perguntei.
- Nada... é que... será que, quando tudo isso acabar, nós vamos voltar a andar junto? Digo... eu, você e o Ian? – ela me disse olhando para o chão.
- Não sei Déa, sinceramente não sei... – falei a mais pura verdade também olhando para o chão.

domingo, 7 de março de 2010

Capitulo 17 - Por favor!

Andressa foi em direção a pia e lavou o rosto. Depois pegou a bolsa dela, de onde começou a tirar vários itens de maquiagem e a jogar em cima da pia.
- Ai não Déa, você vai se maquiar? – perguntei incrédula.
- Dã, mas é claro que sim! Com esse choro todo a maquiagem se desmanchou né? – ela falou pegando o lápis de olho.
- Por favor Déa, passa só um pozinho e vamos! Do jeito que você é com maquiagem, quando sairmos daqui todos já vão estar em suas respectivas casas e dormindo! – falei jogando minhas mãos para cima.
- Ah, não exagera Lê! – ela falou agora passando blush – Mas, se é para te fazer feliz, eu só vou passar agora um batom... – ela pegou um batom e começou a passar nos lábios que imediatamente ficaram mais cheios e rosados -... e pronto!
- Obrigada né! – falei.
- Ai, vamos acabar logo com isso! – ela disse guardando tudo dentro da bolsa rapidamente e me puxando para fora do banheiro.
Mal nos perdemos pelos corredores quando encontramos o Josh.
- Lê, Déa! Eu estava procurando por vocês. Vocês demoraram, eu fiquei preocupado. Está tudo bem?
- Claro que sim! Tudo ótimo! – Déa falou com muito entusiasmo. – E aí, em que parte está o ensaio?
O Josh nos olhou confuso.
- Eu... não sei... – ele falou hesitantemente – Quando eu saí estava na parte em que Menelau declara guerra a Tróia...
Andressa sorriu.
- Ah, ótimo! – ela falou seguindo em frente – Então vamos lá terminar de ensaiar.
O Josh veio andando ao meu lado e sussurrou ao meu ouvido.
- O que aconteceu com ela?
- Nem me pergunte. – eu sussurrei de volta.
- Déa, eu acho melhor eu ir na frente, você está indo para o lugar errado. – o Josh disse quando viu Andressa entrar no corredor à direita.
- Ah, claro! – ela falou deixando o Josh passar.
Quando finalmente entramos na sala onde estava ocorrendo o ensaio todos fizeram silêncio, o Andressa dirigiu um olhar mortal ao Cristian.
- Finalmente não é! – a garota mais odiada do grupo falou. – Onde você foi buscar essas meninas Josh? No Alasca? Demoraram ein!
- Eloá, você quer fazer o favor de calar a sua boca? – falei já enjoada de ouvir aquela voz, de ver aquela pessoa e de saber que ela existia. Eu achava que ninguém superava a Grace no quesito “tirar a minha paciência”, mas Eloá ganhava com sobra.
- Me desculpe Letícia! Eu só estava brincando... – ela falou com desdém – Não precisa ficar estressada...
- Tá, tá Eloá, vamos continuar logo esse ensaio! – falei com cara de tédio pegando o meu roteiro que estava no chão, eu não via a hora daquilo terminar.
- Bom Lê, a sua parte e a da Déa já passaram, se vocês quiserem voltar... – Thiago falou, mas Andressa interrompeu.
- Não, não. Podem continuar de onde vocês estavam.
- Isso mesmo. – eu concordei.
- Tá bom, agente já passou da parte em que Paris morre...
Quando ouviu isso Andressa riu.
- Déa, o que foi? – perguntei.
- Nada não...
- Bem, continuando – Thiago falou – agente já passou da parte em que Paris morre e estava na parte do cavalo de madeira...
Andressa riu de novo.
- Déa, o que foi? – perguntei novamente.
- Nada – ela disse - é que...o Paris morre né?
- É. – Thiago falou, Andressa riu novamente.
- Qual a graça disso Andressa? – Cristian perguntou olhando para ela.
- Nada não Paris. Meus pêsames... – e ela riu novamente.
Cristian revirou os olhos e fechou a cara.
- Então, por favor, continuem de onde vocês pararam Thiago. – eu falei. E eles continuaram.
Eu os vi ensaiarem a parte em que os troianos são atacados pelos gregos, e a parte em que Menelau – Thiago - e Helena – Eloá - se reencontram, até que, finalmente, o ensaio acabou e todos foram embora. Eu, é claro, de carona com a Andressa, que ficou muito calada por todo o caminho. Ou ela estava doente, ou ela ainda estava chateada com o que tinha acontecido. Eu realmente precisava ter uma conversa séria com o Cristian.
Cheguei em casa esgotada e com dor de cabeça. Fui direto para o meu quarto, desabei na cama e mergulhei em um sono profundo e sem sonhos.

No outro dia eu acordei com uma idéia fixa na cabeça: Conversar com o Cristian. Assim que entrei na sala eu o localizei sentado conversando com o Josh e, para meu espanto, com uma Eloá toda sorridente. Fui em direção a eles.
- Bom dia Lê! – O Josh e o Cristian falaram em uníssono.
Joguei a minha mochila em uma carteira e falei diretamente com o Cristian sem responder o “Bom dia”. Aquela era a hora, pois a Andressa ainda não havia chegado.
- Ian, será que agente pode conversar? – perguntei.
Ele me olhou curiosamente.
- Sobre o quê? – ele perguntou.
- Você vai saber sobre assim que conversar comigo. – falei rispidamente. Dessa vez ele me deu um olhar de vítima.
- Aconteceu alguma coisa?
- Sim, e você sabe muito bem o quê! – acusei.
- Eu acho que não... – ele disse com cara de santinho.
- Cristian, será que dá pra você parar de ser infantil, ir até aquele canto da sala – apontei para o lugar – e conversar comigo!?
Ao ouvir o seu nome, ele imediatamente ficou vermelho e desviou o olhar.
- Eu não tenho o que conversar.
Revirei os olhos e cruzei os braços, percebi que o Josh estava olhando atentamente para mim e a Eloá sorria. Fiquei com vontade de quebrar os dentes daquele sorriso, mas me controlei.
- Ian por fav... – parei de falar quando vi a Andressa entrando na sala. Ela parou bruscamente quando viu a Eloá perto do Cristian e imediatamente amarrou a cara, passando direto e sentando duas cadeiras depois do lugar em que eu tinha colocado a mochila.
Olhei para o Cristian e murmurei rapidamente.
- Hoje. Hora do intervalo. Sala.
Ele não falou nada, mas eu sabia muito bem que ele iria fazer o que eu tinha dito. Peguei a minha mochila de onde eu a havia jogado e fui sentar perto da Andressa.
- Oi Déa, bom dia. – falei.
- Bom? Ele está ótimo... – ela respondeu olhando para frente.
- Você está bem? – perguntei.
- Tudo ótimo! – ela disse dando uma olhada de canto de olho para o Cristian e o Josh sentados perto da Eloá. Olhei também e amarrei a cara.
As aulas passaram em uma velocidade que eu só achava possível para uma lesma, mas como o tempo tem que passar, finalmente a hora do intervalo chegou.
- Vamos Lê. – Andressa falou sem emoção. Eu fingi estar pegando algo na mochila.
- Vai indo Déa, eu estou procurando uma coisa aqui... vou logo em seguida.
- Tá bom... – ela suspirou.
Olhei para o lado e o Cristian estava totalmente parado sentado em sua carteira. Esperei a sala ficar completamente vazia e fui falar com ele.
- Ian, o que está acontecendo ein? – perguntei sentando na carteira em frente a ele.
- Nada. – ele disse simplesmente. Eu suspirei.
- Ian, eu não achei certo o que você fez ontem sabe, a Déa ficou muito chateada...
Parei de falar quando ele começou a rir. Revirei os meus olhos.
- Lê, você acha mesmo que a Andressa ficou chateada! Ela é uma egoísta! Só pensa nela mesma! – ele completou - Ela pensa que é o centro do universo!
- Você está sendo injusto. – me indignei. Tudo o que ele tinha dito estava errado, a Andressa podia ser uma garota mimada e patricinha, mas nunca egoísta, disso eu tinha certeza.
- Injusto?! Lê, você sabe que... você sabe que eu... – ele suspirou e continuou – Você viu o que ela falou de mim naquela reunião, ela disse que eu não sou capaz de fazer nada! Como que eu estou sendo injusto com uma garota dessas! Eu nem acredito que eu...
- Que eu o quê Cristian? – falei – Pode deixar que eu digo a frase por você! Você ia dizer, “ eu nem acredito que eu gosto dela ” não é? Que eu a amo! Era isso que você ia falar!
Ele se rendeu, derrotado.
- É, é isso sim! Todo mundo sabe disso! Mas Lê, - ele disse me olhando – eu estou cansado de gostar de alguém que não gosta de mim, eu tenho que gostar de quem me dá valor!
Dessa vez eu ri.
- E quem disse que ela não gosta de você?
- É fácil de perceber...
- E você acha que a Eloá gosta de você? – perguntei incrédula.
Ele revirou os olhos.
- É claro que não! Mas se esse é um caminho para esquecer a Andressa, perfeito! – ele baixou os olhos. – Eu realmente gostaria que não terminasse assim... mas não há outra opção.
Eu suspirei.
- Olha Ian, ninguém pode voltar e criar um novo início, mas todo mundo pode começar hoje e criar um novo final. Por que você não muda esse final? Porque você não conversa com ela?
- Letícia, isso é impossível, eu não vou fazer isso, só que pode acontecer é mais e mais brigas... – ele se levantou – Eu sinto muito, e mais por mim!
- Ian... – tentei novamente.
- Tchau Lê, vou lanchar. – ele disse saindo da sala.
Respirei fundo e saí também.
Como as pessoas podiam ser tão cabeças duras? Tão idiotas e tão... apaixonadas? Estava mais do que na cara que se apaixonar por alguém era o fim da picada, um mergulho em um poço profundo sem fim e sem luz, a última coisa que eu faria na vida. Quando eu vi Andressa na cantina sentada sozinha em uma mesa e com cara de enterro, eu só tive certeza do que eu tinha pensado.